MEMÓRIAS MULHERES TRANS E TRAVESTIS NA JUVENTUDE: VIVÊNCIAS DE DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA.

  • Author
  • Naila Neves de Jesus
  • Co-authors
  • Mariana Martins Gonzaga do Nascimento , Aline Silva de Assis Santos , Rita Maria Radl-Philipp
  • Abstract
  • A construção identitária de mulheres trans e travestis é um processo contínuo, influenciado por contextos sociais e individuais e que ocorre ao longo de toda a vida. Este processo não é linear e pode sofrer avanços, recuos e retrocessos. A autoconsciência de pessoas trans sobre o seu gênero pode iniciar na infância, seguida da autoidentificação e expressão pública na adolescência e fase adulta. Quando há o rompimento dos padrões cisgêneros e heteronormativos, pessoas trans são invisibilizadas, violentadas e discriminadas nos espaços sociais. Este fato é corroborado com a dificuldade que essas pessoas têm em acessar direitos básicos e por sofrerem diversos tipos de violência nos ambientes em que estão inseridas, colocando-as numa posição de marginalização na sociedade e, em algumas vezes, levando a perda de suas vidas. O objetivo do presente estudo foi analisar as memórias das mulheres trans e travestis na juventude no processo de construção identitária e as violências sofridas por elas. A investigação toma uma abordagem qualitativa utilizado o apoio teórico-metodológico dos preceitos sobre Memória Coletiva e, principalmente, sobre os Marcos Sociais da Memória de Maurice Halbwachs (2006). O trabalho foi desenvolvido com mulheres trans e travestis residentes de Vitória da Conquista e Salvador, cidades do estado da Bahia. Para a coleta de dados, foi adotada a entrevista em profundidade baseado no modelo do Estudo Pop Trans. As falas das participantes revelam que é na infância inicia o processo de construção da (trans)identidade, perpassando por várias fases: a atração homoerótica, a feminilidade presente na personalidade, a identificação com as brincadeiras ditas como de “menina”, o uso de vestimentas e adornos femininos. É durante este período que são apresentados conflitos com os marcos sociais de memória, família e religião, que condenam a transgeneridade. Marcos que fazem o processo de construção identitária seja marcado pela culpa de que sua identidade e a orientação sexual são um pecado.  Além disso, nas falas são descritas vivências de discriminações e violências, no período em que passam a romper publicamente com os comportamentos esperados da cisgeneridade e heteronormatividade. Foi frequente nos relatos sobre  a patologização desse processo, no qual o reconhecimento como transexual ou travesti, em suas memórias, foi associado ao diagnóstico psicológico/psiquiátrico e disfunções sexuais. A violência institucional esteve presente nas falas destas mulheres. No que tange experiências de acesso aos serviços de saúde, o desrespeito ao nome social e a dificuldade de acesso a profissionais capacitados para atender demandas de saúde trans e travesti foi relatado por várias participantes. Os marcos de memória da juventude das mulheres trans e travestis demonstram como a construção identitária é marcada por discriminação e violências que impactam nas suas experiências sociais nos diferentes ambientes em que estão inseridas. As discriminações sofridas por esta população têm impactos na saúde mental, já que passam por situações de desumanização durante o processo crucial de formação de uma identidade. É importante ressaltar que a discriminação reproduz iniquidades e dificuldade de acesso a direitos humanos, como a saúde, colocando-as à margem da sociedade.

  • Keywords
  • Violência, Mulheres trans, Travestis, Memória coletiva.
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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