Introdução: A visita domiciliar é uma modalidade de atenção à saúde, caracterizada por um conjunto de ações de promoção, prevenção e tratamento de doenças em domicílio, com garantia de continuidade dos cuidados integrados às redes de atenção à saúde. O princípio da longitudinalidade na atenção primária à saúde é fundamental para estabelecer uma relação contínua e duradoura entre os pacientes e os profissionais de saúde, especialmente nos atendimentos domiciliares, o que implica em acompanhamento regular, prevenção de doenças e promoção da saúde, contribuindo para uma assistência mais efetiva e humanizada. Neste contexto, são inseridos atendimentos individualizados associados ao intuito de entender as condições de vida do usuário, identificar riscos e fornecer orientações de saúde. Isso permite um acompanhamento mais próximo e eficaz pelas equipes de saúde, especialmente para grupos vulneráveis e aqueles com dificuldades de acesso aos serviços. No entanto, apesar dos benefícios evidentes, várias situações podem comprometer a execução completa dessa importante atividade. Objetivo: Descrever os empecilhos encontrados pelas equipes de saúde nas visitas domiciliares sob a perspectiva de estudantes de medicina. Método: Relato de experiência, vivenciado por alunos do sétimo período de uma faculdade de medicina na Paraíba, entre os meses de março a maio de 2024, nas microáreas de uma Unidade de Saúde da Família Integrada, localizada no município de João Pessoa, Paraíba. Foram realizadas 18 visitas domiciliares, por três grupos constituídos por 02 estudantes de medicina, 02 estudantes da residência multiprofissional, podendo ser médico, psicólogo, nutricionista, médico veterinário ou enfermeiro, 01 médico de saúde da família e o agente comunitário de saúde responsável pela área. As visitas ocorriam sempre em cada sexta-feira do mês e, em cada dia eram realizadas, em média 02 visitas por equipe. Resultados: Durante as visitas domiciliares, a equipe multidisciplinar enfrenta diversos desafios que impactam diretamente na qualidade da assistência prestada aos usuários. Nos casos observados, destaca-se a falta de transporte para o deslocamento até o local de atuação, a escassez de insumos e medicamentos, além da ausência de equipamentos essenciais a consulta, que deveriam ser ofertados pelos órgãos públicos responsáveis, como: esfigmomanômetro, oxímetro de pulso, termômetro e glicosímetro. Além disso, esses profissionais muitas vezes são expostos a áreas de conflito e violência urbana, o que agrava ainda mais a complexidade do seu trabalho. Tais fatores proporcionam impactos emocionais negativos como medo, ansiedade e estresse. Ademais, os profissionais de saúde enfrentam não apenas os desafios logísticos e de segurança mencionados, mas também a resistência por parte de alguns usuários que se recusam a receber os trabalhadores da saúde em suas residências. Essa relutância pode ser motivada por diversos fatores, como falta de confiança nos serviços de saúde, crenças culturais ou simplesmente desconforto com a presença de estranhos em seu ambiente privado. Além disso, durante essas visitas, os profissionais frequentemente observam condições de vulnerabilidade, como a ausência de saneamento básico e moradias precárias, que contribuem para agravar problemas de saúde e dificultam a eficácia dos tratamentos. Junto a isso se destaca a não adesão ao tratamento por parte de pacientes, o que dificulta o processo de cura do mesmo e leva ao agravamento da patologia, tornando o processo mais longo e oneroso ao SUS. A falta ou inadequação de equipamentos médicos essenciais também pode retardar os atendimentos e comprometer a qualidade do cuidado oferecido aos pacientes, ressaltando a importância de garantir recursos adequados para as equipes de saúde domiciliar. Por conseguinte, observou-se que muitos usuários eram pessoas com autismo, portadores de doenças crônicas, mulheres em período puerperal e pacientes com necessidade de cuidados específicos, como curativos relacionados à erisipela. A complexidade e a diversidade das condições de saúde encontradas entre os pacientes atendidos eram constantes. Por exemplo, ao interagir com pacientes com autismo, os profissionais de saúde enfrentaram desafios adicionais de comunicação e compreensão das necessidades do paciente, exigindo uma abordagem adaptada e sensível às características individuais de cada caso. Da mesma forma, o atendimento de pacientes com doenças crônicas demandou uma compreensão aprofundada das condições de saúde específicas de cada paciente, bem como a coordenação de cuidados contínuos e multidisciplinares para garantir uma gestão adequada da doença e a melhoria da qualidade de vida, principalmente no caso de pacientes com poli farmacologia que apresentavam resistência à alteração ou suspensão de algumas medicações, ou mesmo de pacientes que solicitavam a obtenção de receitas de antibióticos, mesmo que não estivessem acometidos com infecção bacteriana. Entrementes, o atendimento puerperal e os cuidados com curativos relacionados à erisipela destacaram a importância da visita domiciliar na promoção da saúde e na prevenção de complicações decorrentes de condições agudas ou crônicas, em que pese à dificuldade vivenciada na obtenção de recursos e materiais que viabilizassem o tratamento. Ou mesmo, o exercício contínuo na educação em saúde, sobre a importância da consulta médica e do acompanhamento com os médicos da unidade, quando abordavam pacientes em tratamento medicamentoso prescrito por profissionais sem credenciais nos sistemas de saúde. Esses casos também ressaltaram a necessidade de uma abordagem holística, que considerasse não apenas as questões clínicas, mas também os aspectos sociais, emocionais e ambientais que impactam a saúde e o bem-estar dos pacientes. Essa diversidade de casos evidenciou a amplitude e a importância do trabalho realizado pelas equipes de saúde domiciliar na abordagem integral dos pacientes e no atendimento às suas necessidades específicas. Considerações finais: Diante da variedade de casos e necessidades encontradas durante as visitas domiciliares, torna-se evidente a importância de uma abordagem flexível e adaptável por parte das equipes de saúde domiciliar. É essencial que essas equipes estejam preparadas para lidar com uma ampla gama de condições de saúde e necessidades dos pacientes, garantindo uma prestação de cuidados integrada e centrada no paciente. Além disso, a diversidade de casos observados destaca a necessidade de uma formação abrangente e contínua dos profissionais de saúde, que os capacite a enfrentar os desafios específicos encontrados durante as visitas domiciliares. Ao reconhecer e abordar as necessidades individuais de cada paciente, incluindo aqueles com transtorno do espectro autista, doenças crônicas, mulheres em período puerperal e pacientes com necessidades de cuidados específicos, as equipes de saúde domiciliar podem desempenhar um papel fundamental na promoção da saúde e no bem-estar da comunidade.