AVALIAÇÂO DA PERCEPÇÃO DAS MULHERES NEGRAS SOBRE O ACESSO AOS SERVIÇOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

  • Author
  • Marcelia Alves De Souza Martins
  • Co-authors
  • Gisela Cordeiro Pereira Cardoso , Egléubia Andrade de Oliveira
  • Abstract

  • Esta pesquisa  foi realizada  no Mestrado Profissional em Atenção Primária Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública - FIOCRUZ e observou a saúde das mulheres negras sob o prisma étnico-racial, compreendendo o racismo como um determinante social que pode intervir diretamente no processo saúde-doença. As formas como as relações raciais estão conformadas no Brasil tornam a população negra mais vulnerável, dificultando seu acesso aos serviços de saúde. A população negra representa 56,11% da sociedade brasileira, porém este número não é refletido no acesso a bens básicos, como saúde, educação, habitação.  Nesse sentido, especialmente na saúde, a situação de iniquidade e vulnerabilidade afeta negativamente a população negra, reconhecendo o racismo como fator que compreende o acesso dessa população aos diversos serviços públicos de saúde. O racismo institucional e estrutural no campo da saúde, influenciam nas condições de acesso aos serviços ofertados na esfera da Atenção Primária à Saúde, sendo relevante essa discussão do recorte racial que atinge mulheres negras numa tripla discriminação racial, social e de gênero.

    A pesquisa de campo foi realizada por meio da realização de entrevistas, com roteiro semiestruturado, para capturar as percepções dessas usuárias, sobre o acesso e o cuidado, com os seguintes tópicos: identidade étnico racial, perfil sociodemográfico, acessibilidade geográfica, com enfoque no efeito da distância sobre a frequência no serviço de saúde, condições e necessidades em saúde, percepção acerca do serviço de saúde e a relação com os profissionais  e a percepção em relação a influência do quesito raça/cor no atendimento recebido.

    Com relação a percepção das mulheres negras sobre a interferência do quesito raça/cor e de manifestações de racismo na unidade de saúde, as usuárias  trazem narrativas em que estão presentes a discriminação racial e o racismo institucional, desconheciam o conceito e o significado material do racismo, declararam nunca ter vivido ou presenciado discriminação racial, de uma forma direta. Identificou-se o quanto o racismo institucional se expressa nas entrelinhas dos depoimentos. Ele não se dá de forma visível, está sutilmente enraizado no âmago das instituições e nas relações sociais.  Apesar de ter sido perceptível que as mulheres compreendem e relatam situações discriminatórias, algumas delas demonstraram dificuldades para perceber e reconhecer que também são vítimas. Dada a não frequente verbalização, nem sempre é fácil captar sinais de racismo,  pela mulher negra que poderá se sentir diminuída, desafiada e humilhada.

    Diante das situações de racismo é necessário estimular discussões sobre o tema e desenvolver estudos que além de dar visibilidade as iniquidades raciais possam contribuir para a compreensão de como as discriminações atuam sobre a saúde das mulheres negras. É salutar construir caminhos e propostas de enfrentamento ao racismo institucional e mecanismos que estimulem as denúncias contra o racismo dentro dos espaços institucionalizados, dentro e fora do setor saúde. O resultados desta pesquisa devem servir como subsídios para outros estudos que se proponham a investigação do racismo na saúde, bem como adoção de redução das iniquidades raciais e promoção e políticas como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. 

     

  • Keywords
  • saúde da mulher negra; racismo institucional; atenção primária à saúde; acesso ao serviço à saúde.
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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