Apresentação: Sabe-se que o contato com águas de enchentes é uma forma de se contrair leptospirose, e nesse sentido, a calamidade pública provocada pelas enchentes no estado do Rio Grande do Sul (RS) em maio de 2024 poderá vir a trazer um agravo das notificações dessa doença, já muito incidente na região. Assim, o objetivo do estudo foi caracterizar o comportamento epidemiológico da leptospirose no RS entre 2013 e 2022, visando um conhecimento que possa ser útil no desenvolvimento de políticas públicas emergenciais estratégicas. Metodologia: Tratou-se de um estudo epidemiológico descritivo sobre a leptospirose no RS, com enfoque na incidência absoluta e na letalidade. Os dados de notificação dos casos confirmados de leptospirose foram extraídos do SINAN na aba de doenças e agravos de notificação, e os dados de óbitos pela doença foram extraídos da aba de mortalidade pela CID-10, ambas fontes disponíveis no DATASUS. A letalidade foi calculada a partir da proporção de óbitos pela doença em relação ao número de casos da doença.Os dados foram analisados por estatística descritiva (frequência e medidas de tendência central). Não foi necessária a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, por tratar-se de dados de domínio público. Resultados: No período observado, foram registrados 4175 casos confirmados de leptospirose no RS, com uma média de 417,5 casos/ano (417,5±152,8). Entre 2013 e 2022 houve uma redução de 39% no número de casos (440 para 270). Em seis dos dez anos analisados, o número de casos ultrapassou a média, com destaque para o ano de 2019, em que se registrou o maior número observado de casos (616). Quanto à mortalidade, foram registrados 221 óbitos no período, com uma média de 22,1 óbitos/ano (22,1±7,2). Em 2013, houve 19 óbitos por leptospirose, diminuindo para 14 em 2022, uma diminuição de 26% em 10 anos. Em cinco dos dez anos, o número de óbitos ultrapassou a média e em 2015 houve o maior número de óbitos no período. Ao analisar a letalidade, é possível observar um aumento de 20% considerando o primeiro e o último anos da série (4,32% para 5,19%). O ano em que houve maior letalidade foi 2021 (8,76%).Importante considerar que, ainda que o RS tenha um elevado número de casos novos de leptospirose, sua letalidade média de 2013 a 2022 - 5,29% - foi 40% menor do que a observada para o Brasil no mesmo período 8,92%). Considerações finais: Houve diminuição do número de casos novos de leptospirose no RS e, mesmo que não à mesma proporção, houve também a redução do número de óbitos. A taxa de letalidade aumentou no período analisado, mas sua média foi menor que a observada para o Brasil. Logo, é importante o reconhecimento do significado do que foi encontrado pelos gestores de saúde a nível nacional, estadual e municipal para que haja a efetiva articulação de recursos no sentido de ações para prevenção e controle da leptospirose e redução da letalidade pela doença no RS.