Apresentação: O termo “lúdico” possui origem latina e significa “jogo” ou “brincadeira”. Para além da dimensão linguística, o aspecto lúdico representa uma estratégia pedagógica que utiliza atividades recreativas como ferramentas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Ademais, contribui para o desenvolvimento pessoal (físico e intelectual), social e cultural, para a promoção da saúde mental, facilita os processos de interação social, expressão e formação de conhecimento. A ludicidade é uma estratégia que visa envolver o público alvo de uma ação educativa, gerando uma noção de existir diferente daquela experimentada na rotina. O ambiente e a duração da ação devem ser planejados, com regras e atitudes previamente definidas, visando favorecer a assimilação dos conteúdos. É imprescindível que o ambiente e a estratégia escolhida garantam que os envolvidos se sintam seguros e possibilitem experiências instigantes, momentos de descobertas e de estímulo cognitivo; visto que os aprendizados ocorrem durante o processo e são construídos durante momentos de interação que impactam no desenvolvimento dos participantes. Assim, utilizar jogos, brincadeiras e cantigas de roda são formas de proporcionar uma atmosfera didática e facilitar a aprendizagem, ressignificando conhecimentos e vivências por meio de expressões criativas e estimulando mudanças no comportamento das pessoas, principalmente crianças. Por isso, tais atividades são cada vez mais utilizadas pelos profissionais de saúde em ações educativas com o público infantil. Incluir a ludicidade no processo de educação em saúde é uma alternativa atrativa e potente, por gerar interesse, participação ativa e aproximação da criança com a temática abordada em decorrência do formato dinâmico. No âmbito do PSE, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) compreende um conjunto de estratégias que visam o crescimento, desenvolvimento e a qualidade de vida do escolar com base no consumo de uma alimentação saudável. O programa visa a promoção da saúde do aluno dentro e fora da escola, estimulando o consumo saudável, como também fornecendo refeição de qualidade na escola visando mitigar problemas alimentares e nutricionais decorrentes da insegurança alimentar. Nesse cenário, este estudo busca relatar atividades lúdicas de EAN realizadas em instituições de educação infantil abrangidas pelo projeto de extensão “Educação, Saúde e Nutrição nas Escolas: fortalecendo laços intersetoriais do PSE”. Relato da Experiência: Trata-se de uma experiência ocorrida entre abril e julho de 2023, em um bairro de alta vulnerabilidade econômica e social, onde as condições de alimentação, habitação, saneamento básico, meio ambiente, renda, educação, trabalho, segurança pública e cultura representam determinantes sociais que, em geral, afetam negativamente a saúde da população local. O perfil antropométrico das crianças que estudam no bairro, atualizado anualmente por ações do PSE, revela dados em consonância com a transição nutricional do Brasil, apontando casos de magreza e o aumento dos índices de excesso de peso e obesidade infantil. Considerando o contexto local, as ações de EAN foram planejadas englobando a experiência prévia da aluna concluinte da graduação em Nutrição como recreadora de eventos infantis e considerando a faixa etária das crianças dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI). A proposta foi discutida com a supervisora docente e duas nutricionistas que atuam no PSE no bairro, uma na Atenção Primária à Saúde e outra no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF, atual E-multi). Participaram das ações educativas 653 crianças, de 2 a 6 anos, matriculadas em três CMEI pactuados pela Secretaria Municipal de Saúde no PSE para o ciclo 2023-2024. Os temas abordados foram: alimentação saudável e ingestão hídrica. As atividades lúdicas foram embasadas em conceitos científicos, mas se desenvolveram sem utilizar termos técnicos. Para tanto, brincadeiras infantis tradicionais como “terra e mar” e “morto ou vivo” foram adaptadas, utilizando um local para as crianças se posicionarem quando fosse citado um exemplo de alimento in natura/ minimamente processado e outro local para alimentos processados e ultraprocessados. Assim, incentivou-se o consumo alimentar saudável com base na classificação NOVA do Guia Alimentar para a População Brasileira. Complementarmente, as crianças foram encorajadas a consumir alimentos em sua forma natural, provenientes da feira, do quintal de casa e da horta da escola; bem como as refeições preparadas na escola, reforçando a Regra de Ouro do referido Guia Alimentar, que recomenda “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”. Visando estimular a ingestão hídrica adequada diária, explicou-se a quantidade de copos ou garrafas de água que deveriam ser ingeridos, utilizando os utensílios das próprias crianças na demonstração. Para envolver a atenção dos participantes, foram utilizadas cantigas de roda e músicas infantis que abordam o consumo de alimentos saudáveis. As crianças participaram das atividades em grupos constituídos por 25 a 40 crianças. As ações aconteceram nos dois turnos de funcionamento de cada CMEI, tendo duração aproximada de 30 minutos cada, totalizando 18 atividades. Após cada atividade, foram realizadas avaliações subjetivas buscando identificar a apreensão das informações repassadas e a aceitação das crianças em relação à estratégia usada. Adicionalmente, buscou-se captar a percepção dos professores e coordenadores pedagógicos dos CMEI acerca da ação educativa, com vistas a agregar as contribuições nas ações subsequentes. Resultados: Trabalhar a educação em saúde com o público infantil requer um esforço adicional quando se compara aos demais ciclos de vida, isso porque as crianças ainda estão no processo de desenvolvimento cognitivo e precisam de estímulos distintos a cada ação ou estratégia proposta. Nessa percepção, a experiência aqui relatada apresenta um panorama satisfatório quanto ao seu objetivo. Foi observada a compreensão sobre a importância de consumir alimentos in natura ou minimamente processados, bem como adequar a ingestão hídrica. O sucesso das atividades lúdicas com base na EAN deve-se ao fato, principalmente, do uso de artifícios voltados para a idade do público-alvo (as músicas infantis sobre alimentação), a experiência da aluna concluinte com crianças e a adaptação de brincadeiras que são bastante conhecidas. É importante salientar que a música representa um recurso fundamental para humanizar o processo educacional, desempenhando um papel significativo na promoção da saúde, oferecendo benefícios tangíveis para o desenvolvimento das crianças em idade escolar, promovendo relaxamento, bem-estar e a apreciação do convívio consigo mesmo e com os outros. Além disso, as proposições lúdicas foram desenvolvidas considerando não só a necessidade de falar sobre saúde, mas também o ambiente de inserção e o protagonismo dos escolares. Ademais, a experiência proporcionou uma vivência no PSE para a graduanda em nutrição, em parceria com profissionais de saúde (da atenção primária à saúde e NASF) e profissionais da educação, contemplando a intersetorialidade prevista no escopo do programa. A médio e longo prazo, espera-se que a ação impacte positivamente na alimentação, estado nutricional e saúde das crianças, contribuindo com a redução dos percentuais de excesso de peso. Considerações finais: A partir deste relato de experiência, evidencia-se que a inclusão de recursos, como a ludicidade, nas atividades do PSE no território em questão mostrou-se como uma potente estratégia para trabalhar a educação em saúde. Além de apoiar os inúmeros relatos sobre o uso desse tipo de ferramenta já discutida na literatura científica. Todavia, é importante destacar que o êxito desta vivência é devido, também, às ações continuadas decorrentes das parcerias em projetos de ensino, pesquisa e extensão universitária.
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