Conforme a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, o pré-natal de alto risco é o acompanhamento realizado em três situações distintas: gestantes que apresentam uma condição crônica prévia, aquelas em que se descobre uma condição ou doença de risco tanto para elas quanto para o bebê ao longo da gestação, e aquelas que já tiveram gestações de alto risco anteriormente. Nesse cenário, destaca-se a equipe de enfermagem pela sua atuação na prevenção e redução de fatores de risco, na prestação de um cuidado acolhedor e humanizado e, consequentemente, no aumento das chances de desfechos favoráveis, como um parto tranquilo, o bem-estar materno e neonatal.
Entende-se que o ciclo gravídico-puerperal é permeado por medos, anseios e preocupações, relacionando-se com a integridade física da gestante, como também, com o crescimento e desenvolvimento do bebê. Essas emoções são intensificadas quando as gestantes apresentam complicações clínicas que as enquadram em um pré-natal de alto risco, necessitando assim, de um acompanhamento mais regrado em ambientes que contemplam esse tipo de complexidade e rotineiramente possuem uma alta densidade de atendimentos.
Em ambientes com alta demanda, os períodos prolongados e ociosos de espera, podem resultar em estresse. Assim, ao aguardarem a realização da consulta de pré-natal ou atendimento, é viável otimizar esse tempo por meio de atividades educativas. Um exemplo prático, são as ações de Educação em Saúde em sala de espera, atividades pouco valorizadas, mas oportunas para promover o autocuidado desse público.
Oferecer orientações para as gestantes e seus acompanhantes pode ser considerado uma atividade simples de educação em saúde. No entanto, ressalta-se que é eficaz, pois pode diminuir anseios, proporcionando-lhes empoderamento e maior autonomia durante o período gravídico-puerperal. A realização dessas orientações se estabelece como um pilar na construção acadêmica do futuro profissional de enfermagem, que atua para além da assistência, sendo uma peça chave na organização gerencial de serviços, como também, um educador e multiplicador do saber em saúde.
Para tanto, tem-se como objetivo relatar a experiências de acadêmicos de enfermagem acerca das atividades de educação em saúde com gestantes em pré-natal de alto risco. Trata-se de um relato de experiência, oriundo da participação de acadêmicos de enfermagem e bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) na realização de atividades de sala de espera com gestantes em pré-natal de alto risco, em um Centro Obstétrico de um Hospital Universitário, no decorrer do ano de 2023. O PET enfermagem é embasado na tríade ensino, pesquisa e extensão. Dentre os projetos de extensão, têm-se o GestaPET, no qual são realizadas atividades com gestantes e seus acompanhantes.
Nesses espaços de educação em saúde, são abordadas temáticas relevantes ao processo de gestação e puerpério, elucidando dúvidas, compartilhando saberes, desmistificando crenças, a fim de fornecer subsídios para empoderar as participantes na promoção da compreensão, conforme seus determinantes sociais e possíveis desafios que possam surgir durante o processo. Diante disso, foram realizadas 10 ações entre os meses de abril a dezembro de 2023, com gestantes que estavam na sala de espera e no setor de internação do CO. Atividade estas conduzidas por dois petianos, com autorização prévia do serviço. Cada encontro teve duração média de duas horas, com participação aproximada de cinco mulheres por encontro, além de seus acompanhantes.
As temáticas foram abordadas a partir das demandas informadas pelos profissionais atuantes no serviço, previamente, ou a cada dia de ação. Ainda, o roteiro seguia também as dúvidas das gestantes. Dessa forma, foi possível atender a demanda do público presente e atentar-se quanto a abordagem de determinadas temáticas, evitando assim, constrangimentos e sofrimento.
Dentre os temas trabalhados, é possível citar: os direitos da mulher; métodos não farmacológicos de alívio da dor no processo de parto, dentre eles a utilização da bola suíça, banho morno, massagem, aromaterapia e luz baixa, que auxiliam na redução das dores das contrações e proporcionam um ambiente mais calmo e acolhedor. Além disso, foi abordado acerca da amamentação, com ênfase na importância do aleitamento materno em livre demanda, pega adequada e posicionamento correto do recém-nascido, plano de parto, posições para o parto, inclusão do acompanhante/rede de apoio, sinais e sintomas da dengue, pré-eclâmpsia e a importância da adesão ao tratamento conforme as patologias que podem ser desenvolvidas durante a gestação.
A maioria das mulheres presentes e seus acompanhantes, mostraram-se interessados com as orientações, compartilhando dúvidas para além das atividades propostas. Com isso, percebeu-se que a receptividade e o interesse demonstrados indicam a eficácia da abordagem centrada no paciente, que valoriza a orientação personalizada. Pode-se observar que a troca de informações auxiliou na remissão do estresse e ansiedade ocasionados pela espera do atendimento, uma vez que suas dúvidas e angústias eram acolhidas, por meio de escuta ativa.
Por se tratar de um público de alto risco para complicações durante o processo gravídico e puerperal, as compreensões das orientações são imprescindíveis para que a adesão aos cuidados sejam satisfatória. No entanto, em muitos casos, as gestantes, quando questionadas acerca de sua condição clínica, demonstrava incerteza sobre o real significado e riscos para sua saúde. O que ressalta a necessidade da utilização de uma linguagem que traduza os jargões profissionais.
Além disso, percebeu-se que muitas mulheres não estão familiarizadas com o conceito “Plano de Parto” durante a gestação. O plano de parto é uma ferramenta que permite às gestantes expressarem suas preferências e desejos para o trabalho de parto e o nascimento, incluindo questões como métodos não farmacológicos de alívio da dor. Ademais, os participantes desconheciam sobre esses métodos e sua viabilidade no CO do hospital em questão.
Desse modo, faz-se indispensável que as mulheres tenham acesso a informações abrangentes e sobre suas opções de cuidado durante o parto. Sob esse aspecto, os estudantes divulgam a rede social Instagram do projeto, que contém materiais de referências confiáveis. Também, inserem as gestantes interessadas em um grupo, para envio de documentos como o plano de parto, informações atuais e pertinentes sobre o processo de parto e nascimento, cuidados com o recém-nascido, além de sanar demais dúvidas das integrantes.
Com isso, além dos benefícios diretos para os estudantes que desenvolvem as atividades e para as gestantes presentes no centro obstétrico, é crucial destacar a importância da união do PET com o serviço de saúde. Essa colaboração permite a manutenção e o aprimoramento das atividades de educação em saúde com gestantes em pré-natal de alto risco, aumentando as chances de desfechos favoráveis, como partos tranquilos e bem-estar materno e neonatal.
Logo, o fortalecimento do vínculo das gestantes com o serviço de saúde, as ações realizadas nas salas de espera fornecem subsídios para que as participantes compreendam melhor o processo, desmistifiquem crenças e estejam mais preparadas para enfrentar possíveis desafios. Essas iniciativas também contribuem para mitigar a evasão dos serviços de saúde ao oferecer orientações que empoderam as gestantes, promovendo maior autonomia por meio da assistência efetiva e de qualidade às gestantes em pré-natal de alto risco.