As Residências em Saúde promovem a formação de profissionais qualificados e engajados na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). O processo de educação em saúde se dá em diversos momentos, como ao conversar com um paciente em uma consulta sobre a situação clínica dele, construir e realizar oficinas, escutar e compreender o contexto de vida do paciente, planejar projetos de intervenção, desenvolver atendimento coletivos (conhecidos também como grupos) entre outros. Por dois anos, os residentes desenvolvem um percurso um teórico robusto, ancorada nos princípios e legislações do SUS. Atualmente, com o uso das tecnologias e Internet, temos uma ampliação do acesso a informações sobre saúde, em escala, tempo e velocidade. O profissional-estudante conta com novos ambientes de aprendizagem, acesso a artigos publicados no mesmo dia em qualquer local do mundo em um repositório digital, cursos virtuais e plataformas online, dentre elas o Google Search. Mas esse buscador não tem foco no ensino-aprendizagem, é uma plataforma de marketing mantida pela quarta maior empresa de tecnologia do mundo (Alphabet Inc.) que está imersa na racionalidade neoliberal que prioriza a competitividade em um mercado de compra e venda de produtos, de conteúdos e de atenção. Assim, este resumo tem por objetivo discutir algumas implicações do uso do Google na formação de residentes para o SUS. Este trabalho integra uma Tese, de cunho qualitativo, em uma perspectiva pós crítica, usando conceitos como os de biopolítica e governamentalidade, do filósofo Michel Foucault, e as adaptações ao nosso tempo, como governamentalidade algorítmica, cunhado por Antoinette Rouvroy e Thomas Berns. Para isso, foram realizadas, em agosto de 2023, entrevistas semiestruturadas e online sobre o uso do Google, com 15 residentes (de Residência Multiprofissional e de Medicina de Família e Comunidade). Os dados gravados foram transcritos e analisados. Foi possível observar que os residentes parecem se deslocar entre três lugares como usuário do Google: estudante, profissional da saúde e paciente. Como estudantes, aprendem fazendo buscas de sites, materiais teóricos, conceitos e legislações. Ao serem questionados sobre onde buscam informações para esclarecerem dúvidas, um dos participantes citou a preceptoria, mas não foram mencionados professores, biblioteca ou materiais fornecidos ao longo da Residência. Inclusive o buscador é citado como ferramenta para suprir algumas lacunas na formação teórica. Como profissionais de saúde, usam o Google para buscar materiais didáticos, planejar e fazer atividades coletivas. Alguns residentes questionam sobre o seu papel na realização de atividades educativas, uma vez que hoje os pacientes acessam o Google e já chegam sabendo muitas informações. Como pacientes, relatam fazer uso tal como as outras pessoas, embora a maioria mencione que eles sabem fazer melhor uso do Google por serem profissionais da saúde. É possível observar uma nova roupagem para as tradicionais relações de poder e saber entre profissionais e pacientes. O Google já está conduzindo condutas de profissionais de saúde em formação e as práticas de educação em e para a saúde parecem estar tendo um novo contorno, modelado por estratégias biopolíticas de uma big tech.