O objetivo deste trabalho é enfatizar a percepção dos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) numa abordagem não programada, ou seja, na rua, a produção do cuidado ao usuário e a importância da equipe multidisciplinar da Estratégia de Saúde da Família na condução do caso.
A equipe da Unidade Básica de Saúde Adolar Armani de Souza, de Marcílio de Noronha II, Viana-ES, ao caminhar em direção à escola do bairro para ação do Programa de Saúde na Escola (PSE), observou um morador com evidente aumento de volume mandibular, no lado esquerdo da face, que chamou a atenção de todos e, principalmente, da equipe odontológica. A equipe se identificou e o mesmo informou ser novo no território, não tendo, ainda, procurado a UBS para atendimento. Assim, a cirurgiã-dentista agendou-lhe consulta odontológica de urgência para o dia seguinte.
Na consulta, J.R., 67 anos, relatou morar sozinho e há muitos anos não cuidar da saúde por desmotivação. Provavelmente depressivo, afirmou ser tabagista há muitos anos, hipertenso e sofrer de arritmia cardíaca. Durante o atendimento apresentou tosse, coriza e dispneia, presentes há um ano. Citou exodontia de terceiro molar inferior esquerdo, cujo tumor associado levou à ressecção parcial de mandíbula, há 30 anos. Em 2012 notou recidiva, que cresceu gradativamente, mas não procurou atendimento, pois não o incomodava. Ao exame clínico, observou-se um tumor mandibular, intra e extra oral, lado esquerdo, assintomático e medindo aproximadamente 9 cm de diâmetro. Como parte do trabalho de acolhimento e cuidado pela equipe, também foi atendido pelo médico da UBS no mesmo dia e encaminhado para serviço especializado em oncologia, que o acolheu em consulta poucos dias depois. Todos os exames solicitados mostraram alterações, inclusive a tomografia computadorizada, cujos achados indicaram possibilidade de lesão neoplásica recidivada, com epicentro presumido em região mandibular esquerda. Após a consulta odontológica e em retornos, o paciente abraçou a dentista, agradeceu muito a atenção, carinho e assistência prestada por ela e pela equipe, afirmou que se sentiu acolhido, cuidado e motivado a se tratar, o que passou a fazer com ânimo e disposição. Não obstante, devido a seu comprometimento geral, após alguns meses veio a óbito.
Conclui-se, portanto, que é de extrema relevância a presença de uma equipe multidisciplinar da Estratégia de Saúde da Família atuante no território e integrada com a Rede de Atenção à Saúde local. Ademais, o caso relatado expõe a importância da abordagem, do acolhimento e da assistência, para a motivação do paciente em iniciar o tratamento de saúde.
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