Esses versos se apresentam como testemunhos de Encontramentos - Sob os Holofotes: O CAPS e a produção de bancos no espetáculo da vida. Essa oficina se inaugura com a capacidade de um dos usuários me surpreender, que como um gato escaldado pergunta minha profissão, no que respondo psicólogo. Para minha surpresa: “Mais um psicólogo aqui para não fazer nada?”. Os equipamentos no contexto encontrado tinham pouca porosidade na construção do cuidado com esse público, não aderem a esse perfil de usuários. Mas já dizia Caetano Veloso, o samba é o pai do prazer, o samba é o filho da dor, o grande poder transformador. Segura, que a cuíca vai cantar e aí de quem não ouvir. No Caps percebi que de maneira muito interativa existia um grupo de trabalhadores que operavam uma oficina de geração de renda, produzindo banco de sucata de ônibus. Quase um tambor, no ritual de um atabaque. Sagrado. Era um sopro no silêncio, um arrepio na coluna. Realizava-se o grupo no formato roda de conversa de manhã, e após era realizada a produção dos bancos. No espaço de convivência da oficina surgiam intervenções poéticas. A rigidez da operação burocrática de uma cozinha que tinha um café proibido para nós, na tentativa de coar a existência, não era empecilho, dávamos um jeito de acontecer, fazendo ebolir vida, criação, que se espalhava com o cheiro do café e davam calor ao amargor do espaço. Por sinal a grupalidade envolvida faz romper os protocolos rígidos nomeados de técnicas, cids, atendimento individualizado, aderência ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). São diversos os lugares experimentados. A lavagem da sucata. O tirar da poeira. O pintar. Preparar assento. Forrar com tecido. O toque final. Uma linha de montagem que vai se sofisticando no toque de cada um. Inicialmente umas sucatas amassam quando limpamos, e não se consegue trabalhar na mesma. Uma linha de montagem começa a ser produzida com os usuários. Que de maneira experimental, vão assumindo o desejo por um produto final. Mas é sobre as experiências coletivas do ato de tentar fazer algo com o outro, que nos serve tal experiência. No acontecimento, na organização e dinâmica que de inédito apresentam novas conexões. Vamos de samba para vida ficar alegre? Vamos de samba, dançar, reinventar e resistir em vida? Impactava-me a alegria de viver, a maneira de produzirem coisas numa ambiência de muito bom humor. Eles se juntam e quando vê, a banda está formada, sem nenhuma pretensão. A orquestra sinfônica teria inveja de tamanha produção no improviso, mas, num local de pouca acolhida para suas singularidades, ouvir um bêbado, a canção de um oprimido, parecia para a equipe, um absurdo. Devagarinho me ensinaram como funcionavam. Aprendi que silêncio também era som e ecoava desafinado. Ensurdecedor.