A Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma iniciativa que busca reorganizar a atenção básica em todo o país, seguindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Com uma equipe multiprofissional atuando nesses espaços, é possível ampliar a resolutividade e o impacto na saúde das pessoas e coletivamente buscar certa autonomia, acesso a informações e principalmente a educação para a promoção da saúde. A educação voltada para a saúde da população representa uma abordagem inovadora nos serviços de saúde, impulsionando a mudanças de práticas, permitindo a criação e organização de ações de forma colaborativa, participativa e reflexiva, ao mesmo tempo em que busca assegurar a promoção da saúde com foco na totalidade do cuidado. Dessa forma, é realizada por meio da aplicação de abordagens educacionais que fomentem a participação da comunidade. Uma educação em saúde bem sucedida é o incentivo a indivíduos, famílias e comunidades a buscar conhecimentos que possibilitem conscientização e reflexão, proporcionando autogestão para atender às necessidades dos sujeitos e suas famílias. Nessas perspectivas, a educação em saúde deve priorizar o desenvolvimento de práticas que disseminam conhecimento e estabeleça vínculos entre as ações de saúde e práticas cotidianas das pessoas. Portanto, esse modelo educacional deve se tornar uma importante ferramenta para que os profissionais de saúde criem um espaço de troca de experiências e informações com a comunidade. A sala de espera nos serviços de saúde é um espaço de encontro e também ocupado por uma ampla diversidade de usuários de diferentes faixas etárias, classes sociais e culturais, com as mais diversas demandas e experiências, que, enquanto aguardam atendimento médico, acabam interagindo uns com os outros através da troca de experiências. Por esta razão, podemos classificá-la como uma área muito útil para a prática da promoção e educação em saúde. Esta prática na Sala de Espera (SE) tem como objetivo garantir um atendimento humanizado e aproximar a comunidade e os serviços médicos. Por meio dessa ação, os profissionais de saúde têm a oportunidade de realizar atividades além da assistência de enfermagem, como a educação em saúde, auxiliando na prevenção de doenças e na promoção da saúde; além de humanizar os serviços muitas vezes burocráticos prestados, melhorando a qualidade do atendimento. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é relatar as ações de promoção e educação em saúde através da utilização dos espaços de salas de espera em uma unidade da ESF no município de Uruguaiana/RS. As atividades foram realizadas pelos residentes em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Pampa que atuam em duas Estratégias de Saúde da Família do município onde a Residência em Saúde Coletiva está inserida como campo prático, sob supervisão das preceptoras e dos profissionais do território em saúde e efetuadas de março/2023 a março/2024. Para tanto, no início de cada mês, os residentes se reuniram para escolher os temas das Salas de Espera e planejar como seria feita as ações de promoção de saúde. Foram abordados temas relevantes para a população específica do território, levando em consideração o relatório situacional construído no início das práticas dos residentes e de acordo com o calendário de saúde. No total foram realizadas 15 Salas de Espera com temáticas variadas sobre: alimentação saudável, atividade física, dengue, descarte correto de medicação vencida, infecções sexualmente transmissíveis, políticas públicas, tabagismo, valorização do SUS, debates sobre violências de gênero, raça e classe, zoonoses, luta antimacomial. No formato de palestras ou conversas individuais, as ações foram realizadas quando o espaço da ESF estava com um número considerável de usuários. As informações transmitidas eram focadas na prevenção de doenças e na promoção da saúde, além de sanar dúvidas. Uma estratégia essencial para ser desenvolvida nesse ambiente, é a escuta ativa, através da qual se torna possível compreender as necessidades, inquietações e as singulares presentes nos processos de saúde e adoecimento, relacionado às doenças com a vida. Dessa maneira, foi necessário apresentar boa capacidade de comunicação, atentando-se para as expressões comportamentais dos usuários e ao estabelecimento de vínculo de confiança entre usuários e profissionais. Contudo, sabe-se que as metodologias para o desenvolvimento das SE são variadas, permitindo que o profissional de saúde use da criatividade de suas ações para promover e educar de forma horizontal no que diz respeito à saúde em geral. A utilização dessa atividade tem um potencial ao trato humanizado e acolhedor com o usuário, uma vez que o mesmo está ansioso pelo atendimento médico, mas recebe informações que auxiliam seus hábitos e consequentemente na melhora de qualidade de vida. Assim sendo, as ações proporcionaram um trabalho educativo com um impacto significativo na promoção da saúde, contribuindo para a melhoria do atendimento no ambiente da ESF. Percebemos o espaço da sala de espera como um potencializador de debates e diálogos a respeito de temas espinhosos na nossa sociedade, mas que devem ser tensionados com seriedade no dia a dia dos locais de promoção de saúde. Pode-se perceber também que a sala de espera, apesar de ser um ambiente dentro de uma instituição de saúde, é um espaço popular, onde os profissionais de saúde não permanecem de forma contínua. Esse é um local que observam-se ações subjetivas como expressões, vivências, espontaneidade e senso comum. Neste sentido, embora os esforços para manter a ordem nesse ambiente, o controle é parcial, devido sua natureza transitório e ao fluxo variado e contínuo de usuários. Entretanto, por meio das atividades desenvolvidas na sala de espera, a equipe de saúde passa a ocupar espaço de maneira mais ativa, tendo maior interação com os usuários ali presentes .Logo, aos profissionais de saúde compete o desenvolvimento do trabalho a partir de dinâmicas ativas, com o intuito de sensibilizar e despertar os usuários para as intervenções propostas, bem como, cabe aos profissionais se despir de seus preconceitos e pré-julgamentos. Dessa forma, a prática profissional transforma-se em uma escuta qualificada e um atendimento conforme as necessidades de seus usuários, para assim buscar estratégias de cuidado para alcançar uma melhor qualidade de vida. Assim, a educação popular se torna uma importante ferramenta de promoção da saúde e prevenção de doenças, ao passo que incentiva o usuário a ser ativo no seu processo de saúde-doença.