Vivências de lideranças femininas em movimentos sociais: a dupla jornada de trabalho e os impactos na saúde

  • Author
  • Larissa Nascimento Pinto
  • Co-authors
  • Monique Araújo de Medeiros Brito
  • Abstract
  • Construído a partir do encontro com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), esta pesquisa se originou a partir das imersões realizadas no movimento com o projeto de extensão Saúde do Campo em Áreas de Reforma Agrária da UFRB ao ouvirmos as histórias que indicavam-nos como os impactos na saúde física e mental que as vivências da luta, da ocupação dos cargos organizativos do MST, e das interações experienciadas no meio familiar e comunitário, estavam diretamente relacionados às relações de poder e a divisão sexual do trabalho. O gênero feminino é historicamente alvo de violência e desigualdades, inclusive em espaços como o MST, marcado pela luta pela terra há 38 anos e pela busca por igualdade e superação dos preconceitos intrínsecos à sociedade, inclusive o de gênero, através da criação do Setor de Gênero (1996) como estrutura organizativa do movimento, e de 1999 por meio da política do Setor que se propõe a garantir a paridade de gênero. Nesse sentido, a pesquisa objetiva investigar a experiência de lideranças femininas que compõem a regional Baixo Sul do MST na Bahia, e os impactos dessa vivência da dupla jornada do trabalho na sua saúde mental por meio do método da cartografia. Este método entende que os processos de produção de vida se expressam de maneiras variadas e encontram-se em construção, sendo o pesquisar definido como o ato de acompanhar processos, neste caso o sentido dessa pesquisa está no encontro com corpos de mulheres forjadas na luta pela terra e que desejam contar suas histórias. Dessa forma, no 34º Encontro Estadual do MST, a partir de um roteiro, somado à técnica bola de neve, foram realizadas entrevistas com seis mulheres autodeclaradas pretas, dentre elas duas jovens, três adultas e uma idosa, que dedicam e dedicaram suas vidas a construir a reforma agrária popular, aliando no seu cotidiano a luta de classes à de gênero e de raça. Nesse sentido, a análise destes apontam que essas mulheres são concomitantemente mães, militantes, lideranças e pessoas com desejos e ambições próprias, formadas enquanto sujeitos pelo MST, e que apesar da paridade de gênero e da ocupação dos espaços de luta, as mulheres só recentemente têm estado nos espaços de debate. Nesse sentido, o patriarcado permanece intrínseco nas relações dentro do MST e a dupla jornada de trabalho é comum, sendo inferido que todas elas exercem ao menos duas funções organizativas dentro do movimento, sem contar as obrigações laborais e familiares, tendo como consequência adoecimento físico e mental das mesmas. Ademais, as práticas de cuidado relatadas pelas lideranças são o uso das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), além do apoio da família, da comunidade e do setor saúde do movimento. Nesse sentido, a pesquisa evidencia a necessidade de dialogar acerca da divisão sexual do trabalho, da produção do cuidado e da sobrecarga das lideranças dentro do MST, convocando-nos a construir COM e PARA as mulheres assentadas, formas de cuidado em saúde que considerem as suas singularidades de gênero, raça, classe, e demais determinantes sociais.

  • Keywords
  • Mulheres, trabalho, cuidado em saúde
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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