A tuberculose (TB) mantém sua relevância como um desafio global de saúde pública. No mundo, estima-se que 10,6 milhões de pessoas adoeceram com TB em 2022, um aumento em relação aos 10,3 milhões de casos em 2021. O Brasil é o país com o maior número de casos notificados de TB nas Américas (OPAS, 2023). Em 2022, cerca de 78 mil pessoas adoeceram por tuberculose no país. O número representa um aumento de 4,9% em relação a 2021, segundo informações da edição especial do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. (Brasil, 2023).
A complexidade da tuberculose é agravada pelo desafio crucial da adesão ao tratamento, um componente fundamental para o controle eficaz da doença. Apesar da existência de um esquema terapêutico altamente efetivo e disponível de forma gratuita, as taxas de abandono do tratamento permanecem ainda preocupantes (Campani, 2011). O Ministério da Saúde estabeleceu metas ambiciosas, preconizando uma taxa de abandono inferior a 5%, ressaltando a importância da continuidade do tratamento para evitar disseminação e resistência (SILVA et al., 2014) e a meta da opas para a meta de redução de cerca de 95% da taxa mortalidade até 2035, precisamos reduzir cerca de 330 óbitos por ano.Assim, explorar os fatores associados ao abandono do tratamento da Tuberculose é fundamental para compreender as implicações dessa decisão nos contexto de saúde pública.
A deterioração do estado de saúde dos indivíduos, o potencial surgimento de cepas resistentes (MANSOUR et al., 2021) à medicamentos e a propagação da doença no ambiente prisional são fatores críticos destacados (SAITA et al., 2021). A correlação direta com o aumento da morbidade e mortalidade relacionadas à TB ressalta a urgência de estratégias preventivas. Isso sublinha a importância vital de intervenções específicas, adaptadas às complexidades do contexto prisional, como parte integrante de políticas de saúde pública eficazes (SAITA et al., 2021). Compreender esses fatores é um passo fundamental para guiar esforços na promoção da adesão ao tratamento e para mitigar as consequências adversas associadas ao abandono do cuidado em ambientes correcionais.
Os desafios relacionados à adesão ao tratamento da tuberculose têm sido uma causa significativa de falha terapêutica, resistência bacteriana e recidiva da doença. Desde a década de 90, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a estratégia de tratamento diretamente observado de curta duração (DOTS) para lidar com essas questões e reformar os serviços de saúde. Essa estratégia inclui elementos essenciais, como o compromisso político e apoio financeiro para sustentar as atividades de controle da tuberculose, a identificação de casos por meio de baciloscopia do escarro de indivíduos sintomáticos respiratórios, a utilização de um esquema padronizado de fármacos antituberculose administrados por meio de programas de tratamento diretamente observado (TDO) durante pelo menos os dois primeiros meses de tratamento, a garantia de fornecimento regular de medicamentos antituberculose e a implementação de um sistema de notificação e avaliação dos resultados do tratamento de cada paciente e do programa de controle de tuberculose como um todo.
Estas medidas são fundamentais para melhorar a adesão ao tratamento e garantir uma abordagem eficaz no combate à tuberculose. (MARQUES, et al., 2021). Em síntese, este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão integrativa e buscar preencher uma lacuna identificada na literatura. A análise dos artigos fornecidos revela uma síntese valiosa, destacando elementos responsáveis pelo abandono do tratamento da tuberculose. Neste contexto, este estudo se propõe a lançar luz sobre aspectos muitas vezes negligenciados, capacitando profissionais de saúde e agentes sociais a desenvolver estratégias mais direcionadas, aprimorando assim a qualidade do cuidado prestado a essa população específica.
Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa sobre as principais causas de interrupção do tratamento para tuberculose em adultos no Brasil. A busca foi realizada nas bases de dados, Medline, Lilacs, portal da BVS, PubMed e Scielo. Os descritores utilizados foram: (Tuberculosis or Tuberculose Pulmonar or Tuberculosis pulmonar) AND (Pacientes Desistentes do Tratamento or Patient Dropouts or Pacientes Desistentes del Tratamiento) AND (Treatment Adherence and Compliance or Cooperação e adesão ao tratamento). Os critérios de inclusão utilizados foram artigos que avaliaram a população entre 20 e 59 anos e que foram publicados entre os anos de 2013 a 2023 nos idiomas português, inglês e espanhol. Os artigos que apresentavam adequação ao tema proposto, mas não traziam correlações explícitas aos critérios de inclusão ou encontravam-se duplicados também foram excluídos deste estudo, além de estudos não realizados no Brasil. Dois pesquisadores realizaram a busca e participaram da seleção dos artigos. O programa Start foi utilizado para realizar a seleção dos artigos.
Resultados
Foram encontrados 77 artigos no total nas bases de dados, Medline = 14, Lilacs = 9, Pubmed = 52 e SciELO= 2. Foram excluídos 71 artigos (duplicatas = 20 e não preenchem os critérios de inclusão = 51) e 6 artigos foram selecionados para avaliação.
Dentre os fatores associados ao abandono ao tratamento da TB mais citados entre os estudos, destacam-se a baixa escolaridade (Ferreira et al, 2021), faixa etária entre 20 e 39 anos (Silva, 2010), alcoolismo e ter tido coinfecção Tuberculose-HIV (Berra et al 2020; Campani, 2011).
Caracerísticas dos indivíduos como raça/cor parda e ser do sexo masculino também parecem estar associada ao abandono ao tratamento da doença (Ferreira et al, 2021).
No estudo de Belo et al (2013), os resultados revelaram que a maioria dos casos ocorreu em indígenas (51,9%), homens (57,9%) e em indivíduos com idades entre 25 e 44 anos (31,4%). A forma clínica predominante foi a TB pulmonar (89,7%). No entanto, cerca de 24,5% dos casos não realizaram baciloscopia de escarro e apenas metade recebeu tratamento supervisionado. A taxa de cura foi de 70,0%, enquanto o abandono do tratamento foi de 10,0%. A incidência média da doença foi mais alta entre os indígenas, variando de 202,3/100.000 em 2001 a 65,6/100.000 em 2010. O abandono do tratamento foi associado à não realização de baciloscopias de acompanhamento nos meses seguintes (OR = 11,9), ao reingresso pós-abandono (OR = 3,0) e à residência em determinadas sub-regiões, principalmente no Alto Solimões (OR = 6,7). Esses resultados, por sua vez, evidenciaram como fatores de abandono a não realização das baciloscopias de acompanhamento no segundo, quarto e sexto mês, ao reingresso pós-abandono e à residência em algumas sub-regiões. Segundo Viena et al (2019), que avaliou os fatores de abandono do tratamento de TB em adolescentes e crianças indígenas, o acompanhamento insuficiente e irregular, o retratamento e a coinfecção pelo HIV também associaram ao abandono do tratamento.