Apresentação: A experiência escolar desempenha um papel crucial no desenvolvimento infanto-juvenil, no que influencia habilidades de aprendizagem, motivação, funcionamento emocional e interações sociais. Nesse contexto, a instituição escolar emerge como um agente central para mediação do acesso ao conhecimento e áreas do saber, contribuindo para a promoção da educação formal, qualidade de vida e garantia de direitos de crianças e adolescentes. No contexto da saúde, e mais especificamente de saúde mental, muito ainda é preciso fazer, pois a saúde ou sofrimento mental dos estudantes parece estar ligado a uma série de fatores como moradia, suporte social, autonomia, renda, dentre outros. Promover saúde mental para jovens envolve ações em diversos níveis, incluindo a conscientização e redução do estigma em relação aos transtornos mentais, o fornecimento de acesso equitativo a serviços de saúde mental, a promoção de ambientes sociais e de estudo saudáveis, e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e resiliência desde essa fase do desenvolvimento. Este estudo se concentra na Educação Popular em Saúde (EPS), uma iniciativa específica de promoção do conhecimento que busca não apenas disseminar as informações, mas também incentivar a participação ativa e o empoderamento das comunidades no cuidado de sua própria saúde. Nosso objetivo principal é relatar a experiência da EPS na abordagem da saúde mental para adolescentes escolares, destacando os benefícios e os resultados alcançados através dessa prática. Desenvolvimento: Este relato aborda a experiência na realização da oficina sobre promoção e prevenção em saúde, atividade fundamentada nas atividades de territorialização da disciplina Processos de Apropriação da Realidade II do curso bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. A oficina foi composta por duas palestras, sendo uma delas com tema de saúde mental, e ministrada para adolescentes, entre 12 e 17 anos, escolares de uma escola municipal do fundamental II de Santo Antônio de Jesus - Bahia. Na palestra sobre saúde mental utilizamos uma abordagem participativa e iniciamos com o questionamento “o que é saúde mental?”. Nesse contexto, foram apresentadas algumas noções iniciais sobre a temática, permeando a ideia de mente como parte integrada do corpo humano, de um ponto de vista fisiológico, proporcionando a perspectiva de que devem cuidar dos seus corpos como também devem zelar pela saúde mental. Posteriormente, apontamos hábitos negativos que afetam diretamente a saúde mental, os participantes apontaram o sedentarismo, a má hidratação e a má nutrição, além de citarem a própria escola, de maneira sarcástica, como um local de adoecimento. Acrescentamos ao diálogo comportamentos prejudiciais, como a procrastinação e uso excessivo de redes sociais e, posteriormente, apresentamos alguns hábitos positivos à promoção da saúde mental, onde os estudantes acrescentaram alguns fatores como se alimentar e dormir bem, ingerir água, ler, praticar autocuidado e realizar exercícios físicos. Em seguida a essas discussões, fizemos uma dinâmica na qual entregamos papeis, para escreverem, anonimamente, fatores que estavam lhes causando adoecimento mental, e colocá-los em uma caixa, onde escolhemos alguns aleatoriamente para levantar discussão. Na maioria dos papeis se destacaram os relatos sobre brigas familiares, ansiedade, bullying, sintomas depressivos, com presença de autolesão e pensamentos suicidas, e insegurança física e emocional, desse modo, discutimos pontualmente cada um destes agravantes. Houve um relato mais complexo, com descrições de violências e tentativa de suicidio, este, especificamente, não discutimos. Por fim, apresentamos aos estudantes alguns serviços para atendimento em saúde mental. Resultados: Os resultados dessa palestra revelaram um certo conhecimento prévio entre os participantes sobre a importância da saúde mental e a influência dos hábitos diários nesse aspecto. Contamos com utilização de métodos e estratégias participativas, como o diálogo, a escuta ativa e a troca de experiências, as quais permearam a transmissão de conceitos básicos sobre saúde mental e uma reflexão sobre os comportamentos individuais no ambiente escolar, numa quebra de paradigmas sobre o assunto. Embora alguns temas mais delicados tenham sido levantados durante a dinâmica, sua inclusão ressaltou a importância de abordagens sensíveis e a necessidade de fornecer suporte adequado para indivíduos em situações de maior vulnerabilidade. A dinâmica de escrita anônima permitiu aos participantes expressarem suas preocupações de forma segura, evidenciando a relevância de criar espaços seguros para discussões sobre saúde mental. A apresentação dos serviços de atendimento em saúde mental representou um resultado significativo da palestra, fornecendo aos estudantes acesso a recursos práticos e orientações valiosas na busca por auxílio profissional quando necessário. Ademais, observamos o quão enriquecedor foi este momento para a formação em saúde tanto dos participantes quanto dos organizadores, pois, embora o contato tenha sido breve, a troca de experiências deixou uma marca significativa em nós como futuros profissionais e proporcionou um acréscimo substancial ao nosso conhecimento. que ampliou nossa compreensão da realidade que envolve esses estudantes de escola pública e seu contexto. De modo geral, evidencia-se que esses aprendizados se caracterizam como atributos importantes para a trajetória acadêmica, mas também para a vida pessoal e profissional. Isso porque perpassam pela capacidade de trabalhar em equipe, de organizar planejamentos e de desenvolver estratégias para lidar com imprevistos, mas também pela escuta sensível, pelo autocuidado, pelo estabelecimento de limites, pela administração do tempo e pela resiliência. Conclusão: Conclui-se que a atividade desenvolvida proporcionou a cada integrante uma troca de conhecimentos, autorreflexão e momentos de escuta, além de desempenhar uma função social de proporcionar uma oportunidade de promoção da saúde mental. É relevante promover discussões abertas sobre saúde mental no ambiente escolar, capacitando os estudantes a reconhecerem sinais de alerta, a desenvolverem estratégias de autocuidado e procurarem ajuda quando necessário. Nesse sentido, ressaltamos a importância das universidades, ao promoverem a inclusão de atividades de extensão nos currículos dos cursos de graduação em saúde, estarem atentas às demandas crescentes em saúde mental da população. Isso implica não apenas na conscientização e na inclusão de disciplinas sobre o tema, mas também na criação de novos projetos que estabeleçam vínculos mais estreitos com as comunidades locais. Nesse sentido, espera-se uma abordagem mais holística da saúde, bem como uma intervenção mais eficaz e adaptada às necessidades específicas de cada contexto social e cultural. Ademais, chegamos à conclusão de que as demandas do público participante são de natureza bastante complexa, evidenciando a necessidade premente de mais intervenções e/ou iniciativas de promoção da saúde. Cada relato, mesmo quando fornecido de maneira anônima, suscitou em nós a reflexão acerca da evidente importância, no âmbito da saúde mental desses alunos, de uma revisão das políticas de assistência estudantil. Essa revisão deve abranger diversas dimensões, incluindo aspectos sociais, culturais, de saúde e, primordialmente, financeiros, com o intuito de proporcionar uma assistência mais eficaz à saúde mental não apenas desses estudantes, mas de todos os adolescentes, especialmente aqueles matriculados em escolas públicas. Afinal, reconhecemos que o bem-estar mental dos jovens desempenha um papel crucial na qualidade de sua formação futura.