A proposta de pesquisa se compõe pelo caminhar das produções de
existências, afetos e afecções que o bullying e a violência podem agenciar
psicossociologicamente na vida da comunidade escolar. Mas é sob um olhar poético,
micropolítico e nanopolítico do encontro no encontro que a inspiração a partir do ponto de vista do outro, orienta um outro fluxo rizomático, aquele que traz o pesquisador, a navegar por suas implicações, afecções, devires, desejos e subjetividades, ser sentindo in mundo, campo afetando, afetado pelo objeto da pesquisa.
Esse trabalho foi fruto da dissertação de mestrado do autor no programa de pós-graduação em Psicossociologia de Comunidade e Ecologia Social de psicologia social da Universidade Federal do Rio de Janeiro defendida em 2023. A Escrevivência foi a metodologia escolhida ou melhor a possibilidade de trazer a escrita o mais perto possível das emoções em uma poética narrativa que o leitor minimamente pudesse sentir os efeitos do que digo-vivi-vivo e que dessas formas minhas dores, palavras, sofrimentos, frases e todos o sangue escorrido por essas páginas de uma história que ainda se repete e em muito de mim findam, não seja em vão.
Onde a escrevivência metodologicamente traça poéticas narrativas, escrevivida pelo pesquisador do que essa violência o causou, do que o trabalho vivo em ato, que é a arte do ator dentro da escola, lhe fez na produção de uma
ferramenta de cuidado chamada palestra artística “Bullying, Qual é a Graça?” e as
experiências dessa micropolítica e nanopolítica do encontro no trabalho vivo em ato e arte nas escolas.
É a partir desse corpo in mundo, que agencio essa trajetória de possíveis fracassos, desarranjos enquadrados por engrenagem que engendram nesse corpo e outros corpos a dor do viver, meu viver, o meu campo de pesquisa. Campo tema que já havia me abordado por várias vezes, nos corredores, pátios, quadras, rua, no meu quintal, e despercebido ele já dormia comigo; não me deixava dormir. E agora, aqui, mestrando no Programa de Pós Graduação EICOS - Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social no Instituto de Psicologia da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha 3 - Psicossociologia da Saúde e Comunidade, tenho a oportunidade de estar frente a frente com ele, debatendo, escrevivendo, pesquisando, afetado e implicado que sou, dando à vez, as tecnologias leve duras, ao trabalho que ato a ato em arte vai engravidando possíveis conceitos e promovendo possíveis micropolíticas do cuidado no produzir de da vida no encontro, refletindo negras luzes a desvendar na construção e realização da palestra artística bullying qual é a graça?, textos, subtextos, acionadores, intercessores, presentes nesta que passa a ser reconhecida como ferramenta, máquina de guerra no furar de muros, no despertar e conectar experiências numa ruptura do desencontro, no ciclo de violência.
Nessa pesquisa maquinaria de provocar fazer furos no muro, animada por várias caixas de ferramenta, experiências vividas com o teatro do Oprimido, Pobre, Fórum, Invisível, arte teatro de Victor Meirelles, que o corpo sentinte em um agir militante, que a experimentação se faz construção de uma máquina, um maquínico de subjetividade, chamado de Bullying, Qual é a Graça? Palestra Artística. Uma engenhoca que faz do pesquisador eu, sujeito implicado, ao entrar no campo de pesquisa, no chão da escola na conexão de mundos no abrir ao abrir do portão, dos portões, apresentar e ofertar aos participantes desse encontro com um personagem palestrante que tem sua fala deficiente, disruptiva e incapaz, uma reflexão sobre o tema violência, promovendo um diálogo interativo com os participantes (alunos, professores, familiares e colaboradores), de forma divertida e bem humorada construindo com um teatro uma cena real de bullying, onde eu sou a vítima e todos os presentes confusos tentam se identificar não só com a cena mas com o seu personagem naquela história, que chega ao ápice, no momento que me retiro da sala, e deixo o silêncio que reverbera em voz alta provocando diversos ruídos no interior de cada mundo presente naquele espaço reflexivo oferecido pela experimentação do acontecimento. Momento-toque tão sutil em ver e dizer, que imperceptível em seu nano tamanho, mas como dispositivo-ferramenta é de uma força que produz movimentos. Momento que aciona, provoca como um dispositivo que fura o muro, produzindo possibilidades de colher experiências. Dessa intervenção que altera registros de supressão de protagonismo, que faz a suspensão do que seria o personagem principal, desembaçando todos os atores presentes naquele cenário os acionando de uma forma espontânea a fala, em um fluxo de captura diante de um corte, dobra. Do que vibra ao menor toque, no nano fazer vibrar.
Assim sigo na certeza da dúvida, da possibilidade do acontecer que as palavras têm, no sentido do fazer na vida. Acontecimentos que atijolados nos encontros podem dar forma inventiva as novas relações ali vividas a cada palavra, emassada pelo sentido que cada uma tem nesta sapata a sustentar um cuidado com sigo, comigo e com o outro. Sentir a dor de palavras infantis que lentamente, letalmente vão separando de si não só a dignidade, sanidade mas escorrendo a esperança, ficando a palidez de um corpo que já não mais produz. Palavras cortantes, cheias de graça que uma criança não ideação, mas a tentação no tentar o suicídio por duas vezes, por não conseguir ter amigos ou por ser humilhado diariamente. Saber de um jovem que ele não quer mais sair de casa por estar sendo perseguido; ver alunos se auto violentando por acreditarem serem culpados pela indiferença dos colegas de classe; identificar pessoas que se calam ou omitem pelo receio de ser serem as próximas vítimas; questionar a falta de oportunidade no mercado de trabalho pela não qualificação, efeito da evasão escolar oriunda de uma agressão; cidadãos que não se relacionam, socializam e se isolam acreditando que é uma estratégia de segurança para não serem violentados. Pessoas que como eu carregam marcas, algumas vezes inconscientes, que constroem muros invisíveis e por vezes intransponíveis. Desencadeado, ferrolho que desencontra o portal que nos leva em ausente querer, liberdade descondicionada, ao desejo de fazer, sofrimento adubo que se faz potência, trauma que em linhas de fuga, se converte em força, palestra artística Bullying, Qual é a Graça?, experimentação da arte como produção do vivido fora. Marcas, cicatrizes negativas não podem ser em pele consideradas, mas agenciamentos sim tatuados a abrir planos portas de cuidado do sofrimento.