Apresentação: A literatura feminina negra possibilita aprimorar a capacidade de refletir o mundo a partir dos desafios e potencialidades de ser mulher-negra. E, por meio dessa literatura, também é possível encorajar mulheres a vocalizarem e ampliarem a compreensão em relação às suas experiências individuais e coletivas. Foi por intermédio dessa arte que iniciamos diálogos entre mulheres mães acompanhadas no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Nova Esperança, Macaé-RJ. Após a leitura coletiva do livro "A mulher que pariu um peixe", de Rai Soares, no grupo Café Com Vivências, levantou-se a ideia de escrever uma obra com as narrativas das participantes. Este movimento se inspirou na ideia de Escrevivência de Conceição Evaristo, possibilitando que as mulheres pudessem tecer as suas próprias “escrevivências”.
Desenvolvimento: Realizamos uma roda de conversa com a escritora e professora Rai Soares para conhecer a origem, a inspiração e as motivações de sua escrita. Fizemos a leitura de seus contos e os relacionamos às nossas experiências cotidianas. Conhecer, pela primeira vez, uma escritora negra e sua história de vida, que muito se aproximou daquelas vividas pelas mulheres, serviu de extrema fonte de inspiração para elas. Passamos a nos encontrar para ler e escrever as nossas histórias que, após um ano, foram reunidas na obra “Mulheres que pariram a esperança”, publicada em julho de 2023 no dia da mulher negra, latinoamericana e caribenha. O livro apresenta 10 textos narrativos ou contos de família, como aqueles de Rai Soares pelas mãos de 10 autoras da comunidade Nova Esperança. Tais escritas nos fazem pensar sobre as agências e resistências contra as violências e violações de direitos que incidem sobre os corpos de mulheres em uma sociedade capitalista patriarcal e racista.
Resultados: A produção do livro abriu portas para as mulheres compartilharem a própria história em Feiras literárias, Jornadas acadêmicas, Rodas de conversa, entrevistas em rádio e eventos culturais. Esse exercício de protagonista da própria história ampliou a confiança, a autonomia e a autoestima. Além disso, após a publicação do livro, algumas mulheres externaram a vontade de estudar e foram aprovadas na universidade e em cursos profissionalizantes. O coletivo Café com Vivências construiu um projeto que leva a literatura de mulheres negras aos CRAS de outras comunidades de Macaé, para dialogar com outras titulares de direito à potência de escrever as próprias histórias. O projeto foi contemplado com o apoio financeiro do Edital 006/2023 da Secretaria de Cultura do município de Macaé referente à Lei Complementar Paulo Gustavo de incentivo à cultura. Com isso, o livro será divulgado amplamente pelos demais CRAS da cidade.
Considerações Finais: Os resultados obtidos até o momento inspiram a liberdade e a conquista da autonomia. Ao compartilharem suas escrevivências, as mulheres podem desafiar estereótipos, criar conexões emocionais e encorajar outras mulheres a se sentirem validadas e representadas.