INTRODUÇÃO
A saúde mental é um importante fator para qualidade de vida e ocupa considerável pauta nas políticas de saúde, assim se faz relevante avaliar as diferentes intervenções destinadas ao seu manejo, incluindo técnicas de meditação que se apoiam na obtenção da melhor compreensão dos processos mentais oferecendo estado de bem-estar psicológico.
A OMS estimou uma prevalência global aumentada em 27,6% em 2020 para casos de Transtorno Depressivo Maior (TDM) e um aumento de 25,6% em casos de Transtornos de Ansiedade (TA). E reconhece a importância da saúde mental como integrante na cobertura universal de saúde. Nesse contexto, é importante cuidar dos transtornos mentais, a exemplo da ansiedade, objetivando reduzir danos físicos e psicológicos acarretados; para tal propósito, as estratégias terapêuticas mais utilizadas são a intervenção medicamentosa e não farmacológica como a terapia, atividade física e a meditação. Os estudos mostram que a meditação busca expandir e enfatizar o alcance da mente e seu possível funcionamento, por meio da disciplina sensório-motora atrelada à respiração e a busca do desenvolvimento da consciência.
Dessa maneira, o treinamento com meditação pode proporcionar melhoria na habilidade da atenção, no condicionamento para lidar com os fatores ansiogênicos, refletindo em melhor condição do estado de saúde dos indivíduos e por conseguinte, aumento da qualidade de vida. Logo, o presente estudo objetiva construir uma revisão narrativa para estudar as evidências científicas que versam sobre os efeitos da meditação no alívio da ansiedade e como este recurso pode ser terapêutico na APS.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa que tem como objetivo uma síntese da literatura científica vigente sobre a temática estudada baseada em artigos publicados nos últimos cinco anos. A revisão integrativa inclui a análise de pesquisas relevantes que dão suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática clínica, possibilitando a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas com novos estudos. A busca de artigos foi realizada na BVS, na MEDLINE, na LILACS, na IBECS e ainda na base PubMed, utilizando a estratégia de busca: (Meditation) AND (anxiety)) AND (Primary Health Care) / (Meditação) AND (Atenção básica à saúde) AND (Ansiedade). Como critérios de inclusão foram selecionados artigos originais, texto completo, com o corte temporal de 2017 a 2022 e que respondiam à questão norteadora. Foram excluídos artigos duplicados, fuga ao tema e tipos de estudo por livros e documentos.
Foram identificados 49 artigos através da pesquisa nas bases de dados PubMed e BVS, representado no quadro 1 de mecanismo de busca e quantidade de artigos. Dentre os artigos encontrados, 12 foram selecionados através de leitura dos títulos e resumo, sendo excluídos 37 artigos por não atenderem os critérios de inclusão. Na terceira triagem, mais 4 foram excluídos visto que os artigos não tinham um desfecho com conclusão da pesquisa, impossibilitando o resultado da avaliação completa do artigo. Por fim, um total de 8 artigos foram incluídos na revisão narrativa.
DISCUSSÃO
Entre os oito estudos incluídos na presente revisão narrativa, observou-se que foram realizados nos seguintes países: China, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Dinamarca, Índia, Itália e Egito. O predomínio de estudos se deu em países desenvolvidos, uma vez que, há maiores investimentos em pesquisas e por disponibilizarem mais recursos e elevada prevalência de pacientes com transtorno de ansiedade na população, contudo, ressalta-se a importância da realização de estudos nessa temática nos países em desenvolvimento como no Brasil.
Visto que dentro do SUS, tem-se a atenção primária como a porta de entrada do usuário para a Rede de Atenção à Saúde (RAS), instituindo lócus privilegiado para a implementação das PICs. Uma vez que, a APS se configura como o nível de atenção com a maior capacidade de desenvolver ações de prevenção e de recuperação da saúde. Diante disso, o uso das PICs nesses serviços apresenta grande viabilidade, pois a meditação configura-se como uma estratégia de baixo custo e fácil aplicabilidade. Além de que tais práticas dispensam recursos tecnológicos sofisticados, oferecem menores riscos de efeitos colaterais quando comparados aos tratamentos convencionais, e necessitam de menos recursos financeiros, o que torna a assistência em saúde menos onerosa e com qualidade, além de proporcionar resultados satisfatórios.
Menezes e Dell’Aglio reforçam essa importância global do uso da meditação e outras técnicas orientais e de relaxamento ao destacar que vêm sendo utilizadas em sistemas de saúde de alguns países, como Nova Zelândia, Canadá, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos sob a designação de Medicina Complementar Alternativa (CAM). No que tange à população estudada, os artigos dispuseram de um total de 1.985 participantes, com abordagem voltada para diversos pacientes, como pacientes ambulatoriais nas áreas ginecologia e obstetrícia, estudantes universitários, mulheres acima de quarenta anos inseridas no mercado profissional e com responsabilidades nas tarefas domésticas comparadas a trabalhadoras jovens, mulheres grávidas, adultos saudáveis, alunos de ensino fundamental.
Quanto aos tipos de meditações utilizadas nos estudos houve uma predominância pela mindfulness que pode ser conceituada como uma prática da meditação da atenção plena que tem sido cada vez mais incorporada às intervenções de saúde mental. Além de ser aplicável a diversas condições e contextos. A atenção plena está enraizada nas tradições budistas. No entanto, tornou-se popular nos últimos anos entre várias populações seculares em ambientes de saúde, educação e locais de trabalho: de crianças em idade pré-escolar a adultos mais velhos em todo o mundo.
Outra modalidade avaliada nos artigos traz a meditação associada a práticas corporais que correspondem a perspectiva de unir corpo e mente e as práticas meditativas como produtores de relaxamento psicofísico e lógico definidos como ausência de expectativa em relação ao processo, além de atenção a um foco determinado.
A maioria dos artigos abordam o período da pandemia do COVID-19 como momento de realização da meditação uma vez que vários estudos indicaram uma escalada nos níveis de estresse e ansiedade entre todas as seções da população em geral durante a pandemia. Portanto, mostrando-se como importante estratégia de enfrentamento nesse ambiente desafiador na manutenção da qualidade de vida.
Ensinar as habilidades da meditação da atenção plena pode ser uma abordagem viável e não farmacológica para melhorar a saúde mental. Neste sentido, as pessoas praticantes das técnicas de relaxamento e meditação têm menos ansiedade e estresse e, portanto, essas técnicas podem ajudar a se preparar para enfrentar os efeitos psicológicos em períodos difíceis como pandemias no futuro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta revisão pode favorecer a outros pesquisadores um acesso mais rápido e com resultados mais abrangentes sobre os benefícios da meditação na promoção da saúde, especialmente, na área da saúde mental com ênfase no alívio da ansiedade e depressão. Conclui-se com a afirmação de que se faz necessário desenvolver intervenções que promovam o uso da estratégia da meditação como recurso terapêutico no enfrentamento da ansiedade no âmbito da APS, visto ser, a porta de entrada relevante para o serviço de saúde no cuidado da saúde mental.