Apresentação: A População em Situação de Rua (PSR) muitas vezes é estigmatizada, associada ao crime e à desocupação, vivendo em uma quase total invisibilidade no que diz respeito à garantia de direitos fundamentais, como o acesso à alimentação. O Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, assegurado pela Constituição, determina que todo indivíduo tenha acesso irrestrito a alimentos adequados, saudáveis e em quantidade suficiente. Contudo, é inegável que a PSR não possui acesso regular a alimentos, levando-os a adotar estratégias não convencionais para suprir a carência de protagonismo na própria alimentação, que variam desde dependência de doações até a busca em lixeiras. Dessa forma, este estudo tem como objetivo caracterizar a PSR residente na região central de Santos e compreender suas estratégias de sobrevivência no que diz respeito à alimentação. Desenvolvimento do Trabalho: A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com um roteiro elaborado especificamente para este estudo. A abordagem e o convite para participação foram apoiados pelos serviços do Consultório na Rua (CnaR) e do Centro de Referência Especializado à População em Situação de Rua (Centro POP) de Santos. As entrevistas foram gravadas, codificadas e transcritas para posterior análise, que começou com a caracterização demográfica dos participantes, incluindo nível educacional, origem, existência de vínculos familiares e tempo em situação de rua. Os participantes foram questionados sobre suas estratégias para obtenção de alimentos, além de serem incentivados a compartilhar outros aspectos relevantes de sua rotina alimentar e experiências nas ruas relacionadas à alimentação e desafios associados. Diários de campo foram utilizados para registrar reflexões e observações do pesquisador durante o processo. Resultados: Foram entrevistadas 10 pessoas na área do Centro Histórico de Santos e 4 na sede do Centro POP, totalizando 14 entrevistas. A maioria dos entrevistados se identificou como homens cisgêneros, sendo majoritariamente pretos e pardos e com ensino fundamental incompleto. Quanto às estratégias alimentares, emergiram três tipos principais: troca de favores ou trabalho informal por alimentos, busca em lixeiras e pedido ou recolhimento de esmolas nos semáforos. A maioria dos entrevistados mencionou as doações como a principal fonte regular de alimentos, seja através de estabelecimentos comerciais, instituições religiosas ou particulares. Análises preliminares destacaram o caráter caritativo das doações, que não promovem mudanças significativas na condição social da PSR, reforçando relações de dependência e de dominância entre quem dá e quem recebe. No entanto, apesar dos desafios, muitos entrevistados acreditam que seu direito à alimentação está sendo garantido, visto que ainda conseguem acessar os alimentos de alguma forma. Considerações Finais: Considerando que são resultados preliminares, espera-se que o aprofundamento das análises dê maior visibilidade às condições de vida e desafios impostos pela negação de direitos à PSR, que inclui o direito à alimentação adequada e saudável, podendo também subsidiar a implantação de planos de ação e monitoramento locais, que auxiliem na efetivação da Política Nacional para a PSR em Santos.
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