DE GRUPO DE TRABALHO À POLÍTICA MUNICIPAL: OS CAMINHOS DA PROMOÇÃO DA EQUIDADE EM SAÚDE EM ITABUNA/BAHIA.

  • Author
  • Dayse Batista Santos
  • Co-authors
  • Lívia Maria Bomfim Mendes Aguiar , Bárbara Braga Orsine Silva Moreira , Thiane Meilene Borges Santos , Ana Lúcia Nascimento de Jesus , Gabriela Carmo Brito , Natielle Santos Bomfim , Roberta Lopes de Abreu , Margarida Silva Lima Amorim
  • Abstract
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    Apresentação: A promoção das políticas de equidade em saúde segue sendo um desafio para a gestão. Embora o reconhecimento das iniquidades enquanto condições de desigualdades persistentes, porém sujeitas à mudança, pouco se realiza em favor de ações efetivas direcionadas à diversidade presente nos territórios. Comumente, inclui-se as políticas de equidade nos planejamentos e instrumentos de gestão do SUS, mas pouco se operacionaliza, ficando tais políticas no patamar de pressupostos teóricos (e utópicos) do SUS. Por conseguinte, povos ciganos, população negra, povos de terreiros/matriz africana, população em situação de rua, população LGBTQUIPN+, pessoas com albinismo e tantas outras são, normalmente, vislumbrados na condição de corpos comuns, tendo desrespeitadas as suas dimensões étnico-raciais, bem como as suas identidades de gênero e orientação sexual, por exemplo. Na contramão desse cenário, o município de Itabuna/Bahia vem, desde o ano de 2021, trabalhando incansavelmente por um SUS onde a integralidade e a equidade, mais do que princípios, sejam práticas cotidianas na gestão e nos serviços. Tal-qualmente, o município vem buscando promover um modelo de APS culturalmente competente, por que pensada com e para todas/os/es. Assim, ora apresenta-se os caminhos trilhados pelas políticas de equidade em saúde em Itabuna/Bahia, desde a formação de Grupo de Trabalho (GT) até a implantação de Lei Municipal. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é descrever os caminhos trilhados pelas políticas de equidade em saúde em Itabuna/Bahia, desde a formação de Grupo de Trabalho (GT) até a implantação de Lei Municipal. Especificamente objetiva-se demonstrar a importância do incentivo à participação e do respeito ao lugar de falar dos povos ciganos, população negra, povos de terreiros/matriz africana, população em situação de rua, população LGBTQUIPN+, pessoas com albinismo e tantas outras, no planejamento de ações voltadas às políticas de equidade em saúde; relatar as dificuldades encontradas acerca da promoção das políticas de equidade em saúde no município de Itabuna/Bahia; e estimular a efetivação da promoção das políticas de equidade em saúde, a fim de reduzir estigmas, preconceitos e o racismo silenciado no SUS. Método: Trata-se de um relato de experiência brevemente assim descrito: as ações direcionadas às políticas de equidade em saúde no município de Itabuna/Bahia tiveram início no ano de 2021 quando, para elaboração do Plano Municipal de Saúde (PMS) durante o Seminário PlanejAPS, foram convidados representantes dos povos ciganos, da população negra, dos povos de terreiros/matriz africana, da população em situação de rua e da população LGBTQUIPN+. A partir do trabalho do coletivo, onde também estiveram presentes representantes da gestão, do Conselho Municipal de Saúde (CMS), do serviço e de Instituições de Ensino Superior (IES) presentes no território, foi incluído no PMS 2022 – 2025 a formação de Grupo de Trabalho (GT), direcionado para as políticas de equidade. Desde então o GT, constituído por representantes de todos os grupos acima descritos, realiza encontros mensais. Responsável pela realização do I e do II Seminários de Políticas de Equidade em Saúde de Itabuna/BA (2022 e 2023, respectivamente) e pela articulação direta com os coletivos e parceiros intersetoriais, o GT, buscando garantir a continuidade das ações, propôs, ao que foi prontamente acatado pela gestão, a elaboração de projeto de lei para a promoção das políticas de equidade em saúde. Assim, em discussão com a presença de todos os membros do GT, representantes da gestão, dos trabalhadores da RAS, da residência multiprofissional, do CMS, das IES’s e da Diretoria de Gestão do Cuidado da Secretária da Saúde da Bahia (DGC/SESAB), foi consolidado o texto com Projeto de Lei. Devidamente analisado pelo Chefe do Executivo Municipal, o documento foi enviado ao Legislativo Municipal onde foi, em duas sessões, aprovado por unanimidade e sem nenhuma alteração. Resultados: São muitos os resultados acumulados no período entre a criação do GT até a implantação da Lei Municipal para Promoção das Políticas de Equidade em Saúde no município de Itabuna/BA. Destacam-se: o protagonismo dos diversos grupos étnico-raciais e de gênero em todas as etapas do planejamento e avaliação das ações direcionadas às políticas de equidade em saúde em Itabuna/BA; os projetos: A Saúde Entra na Roda (povos de terreiros/matriz africana), Ciganidade e Saúde (povos ciganos) e População LGBTQIAPN+: Os Caminhos na Rede; o credenciamento e o início de atividades da equipe de Consultório na Rua; a inclusão de representante das pessoas com albinismo e a elaboração de programa de cuidado específico para o grupo; a revisão de cadastros eSUS com monitoramento de preenchimento de campos identitários, de gênero e de orientação sexual;  a capacitação de profissionais de nível superior, residentes e técnicos em agentes comunitários de saúde/ agentes comunitários de saúde (TACS/ACS) de todas as equipes de saúde da família (eSF) acerca das políticas de equidade; a adesão ao PET-Equidade através de projeto proposto por uma universidade estadual;  adesão e elaboração de projeto pedagógico para programa municipal de residência multiprofissional em saúde coletiva com ênfase nas políticas de equidade (em fase de credenciamento); definição de técnica de referência municipal para apoio às políticas de equidade; e indicação de representantes para o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Itabuna. Por fim, a implantação da Lei que institui a Política Municipal de Promoção da Equidade em Saúde no município de Itabuna/BA. Considerações Finais:  O município de Itabuna é o primeiro dos 417 municípios baianos a instituir a promoção das políticas de equidade enquanto Lei Municipal, passando a exemplo, inclusive, para o nível Estadual. Não se pode dizer que foi um caminho fácil, antes, cheio de desafios. Exemplificando: a descrença de algumas lideranças (possivelmente fruto dos processos históricos e do racismo estrutural e institucional); a resistência de muitos profissionais para conviver e respeitar os sujeitos com as suas identidades e especificidades; a ausência de dados e de registros no eSUS; os preconceitos, mitos, estigmas e racismo, embora silenciados, muito presentes no SUS. No entanto, para além dos desafios (lentamente sendo vencidos) a certeza de que o município caminha na direção de um SUS forte porque um SUS de muitas vozes, é o legado que o GT consolida enquanto marco de uma jornada que vem sendo trilhada e tecida por histórias, memórias, ancestralidades, aprendizados mútuos e muito, muito compromisso com a vida, com a saúde, com a justiça social e com o SUS. Quiçá consiga-se inspirar outros tantos municípios.

     

  • Keywords
  • Equidade, Grupo de Trabalho, Lei Municipal.
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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