A morbimortalidade por causas externas, especialmente as violências e acidentes, representam um problema de saúde pública, tendo em vista o aumento exponencial de casos e óbitos atingindo faixas etárias mais jovens, configurando em importante impacto social. O objetivo deste estudo foi descrever o perfil epidemiológico das lesões autoprovocadas intencionalmente, agressões e acidentes de trânsito na Bahia, no ano 2021. Trata-se de um estudo descritivo, realizado através de uma série histórica de violências e acidentes ocorridos entre os anos de 2014 a 2023 na Bahia, sendo o ano de 2021 o período de maior interesse. Os dados foram extraídos do portal da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, tendo como fontes os registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação e do Sistema de Informação sobre Mortalidade. As variáveis foram sexo, faixa etária e ano de ocorrência. Estimaram-se taxas de incidência, prevalência e de mortalidade segundo lesões autoprovocadas intencionalmente, agressões e acidentes de trânsito, estabelecidos pela CID-10 em seu Capítulo XX sobre as Causas Externas de Morbidade e de Mortalidade. Os principais resultados revelaram que entre os anos 2019 e 2023, na Bahia, foram notificadas 18.678 lesões autoprovocadas e 3.994 suicídios. Ao longo desse período, observou-se que o número de lesões autoprovocadas apresentou tendência de aumento. No sexo feminino esses registros foram significativamente mais preponderantes, chegando a 4034 em 2023 enquanto que para o sexo masculino, neste mesmo período, foram 2000 casos. Em contrapartida, no que se refere ao suicídio, os homens apresentaram maior quantitativo; em 2023 registraram-se 702 ocorrências (84,5%) e nas mulheres foram 129 (15,5%). Especificamente em 2021, a prevalência de homicídios, suicídios e acidentes de transporte foi maior no sexo masculino, respectivamente, 92,9%, 81,8% e 85,9%. Verificou-se que o número de lesões autoprovocadas neste mesmo ano, ocorreu em sua maior parte, na faixa etária dos 20 a 39 anos (n=6874), e quanto ao suicídio, dos 30 a 49 anos (n=366). Com relação à incidência de violência contra a mulher, foi predominante na faixa etária dos 20 a 49 anos (56,8/100.000). Referente às taxas de mortalidade de violências e acidentes, entre 2014 e 2023, o ano de 2021 ocupou o terceiro lugar em números de agressões, 43,2%; o quarto em acidentes de transporte, 16,2%, e o segundo ano com maiores taxas de suicídio, 5,6%. Destaca-se que, nesse período, as taxas de mortalidade por acidentes de transporte ocuparam o segundo lugar em todos os anos, sendo que em 2021 as maiores vítimas foram os motoristas de automóvel (n=969), seguido dos motociclistas (n=692). Diante dos resultados, percebeu-se a necessidade de investimentos em desenvolvimento de ações intersetoriais que priorizem a segurança viária, expansão da rede de atenção psicossocial no país, desconstrução das desigualdades de gênero e a prevenção da violência contra as mulheres. Nota-se que tais ações, na problemática dos suicídios, precisam ser direcionadas e específicas, considerando as diferenças encontradas entre o sexo masculino e feminino. Recomenda-se ainda a execução de práticas efetivas de educação permanente visando a qualificação das notificações nos sistemas da vigilância em saúde.