Apresentação: o tratamento de feridas é uma questão de saúde pública com repercussões globais nos aspectos sociais, econômicos e psicológicos, além do impacto nos recursos humanos e financeiros necessários. Desse modo, prestar assistência aos pacientes com feridas requer conhecimento e preparação específicos, abrangendo os diversos aspectos desse cuidado multidimensional. Nos últimos anos, a abordagem do cuidado às lesões evoluiu, não se limitando mais à técnica de curativos, mas incluindo a avaliação do estado geral do paciente, exame físico direcionado, registro de enfermagem e definição de resultados esperados. Isso exige dos profissionais o entendimento da fisiologia da pele, cicatrização e conhecimento das coberturas disponíveis para um manejo adequado e resultados satisfatórios. Os profissionais de saúde buscam conhecimentos e evidências atualizados na literatura, e veem com a prática, o seu aperfeiçoamento. É importante destacar que o cuidado com feridas e curativos está intrinsecamente ligado à enfermagem, que desempenha um papel crucial nesse tipo de assistência diária. Portanto, a vivência extracurricular com esses profissionais pode enriquecer a formação pessoal e profissional, além de aprimorar as habilidades e competências necessárias para a profissão. Nesse contexto, surgem os estágios extracurriculares, por oferecerem uma formação diferenciada e são uma oportunidade de crescimento para os acadêmicos. O Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conta com o Programa Extensionista de Formação Complementar em Enfermagem (PROEFCEN), que permite aos estudantes vivenciarem campos de prática específicos da área da enfermagem. Desenvolvimento do trabalho: tem-se por objetivo relatar a experiência da vivência de uma acadêmica de enfermagem em ambulatório de um hospital universitário. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, oriundo de uma vivência extracurricular de uma acadêmica do sétimo semestre do Curso de Graduação em Enfermagem. Os cenários da experiência constituíram-se em parte dos ambulatórios de um hospital universitário público e de ensino localizado no interior do Rio Grande do Sul. Este serviço atende pacientes provenientes de várias especialidades médicas, uma vez que não constitui um campo de aulas práticas do Curso de Enfermagem e por contar com profissionais de enfermagem atuantes no Grupo de Estudo em Lesões de Pele (GELP). A atividade ocorreu entre os meses de abril a junho de 2023, totalizando 60 horas de vivência. E, para a acadêmica poder realizar tal ação, foi necessária a elaboração de um plano de atividades, que envolveu a proposta de atividades que seriam desenvolvidas no serviço, além da indicação de um profissional de enfermagem e de um docente que seriam os responsáveis pela acadêmica. Depois da aprovação da documentação pela Coordenação do Curso de Enfermagem, a vivência pode ter seu início. Resultados: o serviço ambulatorial de enfermagem atende pacientes por agendamento, quando possuem condições crônicas que demandam refazer os curativos com curta periodicidade e não possuem auxílio de outrem para sua realização. Além desses, em sua maioria, realizam procedimentos nas pessoas provenientes de consultas médicas, das especialidades da cirurgia geral, clínica vascular, dentre outras. No ambulatório, a acadêmica pode auxiliar na realização de curativos, troca de bolsas de estomias de eliminação e registros de enfermagem. Em relação à realização dos curativos, os que envolvem a aplicação de coberturas, foi necessário que a enfermeira avaliasse a ferida e indicasse qual a cobertura indicada e maneira a ser executado. Após essa avaliação, a técnica de enfermagem procede a sua realização. A escolha do tratamento tópico varia conforme a sua função, ou seja, a depender da necessidade de proteção e absorção de umidade, manejo do exsudato, etc. Na execução dos procedimentos, pela acadêmica, os profissionais forneciam auxílio e instrução, além de orientações que foram estudando e aprendendo ao longo dos anos de trabalho. Isso fez a diferença na experiência, uma vez que alguns procedimentos só haviam sido estudados em sala de aula e na aplicação prática há certa complexidade nas primeiras execuções. Às vezes, existem jeitos mais fáceis para a sua realização, bem como a sensação de segurança pelo acompanhamento de um profissional e o ganho de agilidade com o passar dos dias a partir da prática. No serviço ambulatorial, as úlceras de perna estavam envolvidas na maioria dos curativos realizados. Sendo as mais prevalentes as úlceras venosas. Essas acometem principalmente os membros inferiores, mais precisamente a região maleolar e geram sinais e sintomas como dor, calor, rubor e edema local. A enfermagem é protagonista na educação em saúde, contexto o qual atua na prevenção de novos agravos, na prevenção de outros e na promoção da saúde. Assim, propiciando autonomia ao usuário do serviço, quando possível, é ensinado a técnica da realização dos curativos, sempre elucidando dúvidas e atentando a singularidade e contexto de cada pessoa. Nesse cenário, a maioria comparece acompanhado de algum familiar, facilitando a troca de conhecimento. Além de atuar no ambulatório, a acadêmica teve a oportunidade de acompanhar o trabalho realizado pelas enfermeiras vinculadas ao Grupo de Estudos em Lesões de Pele (GELP) do hospital. Acompanharam-se as consultorias prestadas para alguns pacientes internados em outras unidades, como a unidade de terapia intensiva, a unidade de clínica cirúrgica, dentre outros setores do hospital. Após uma solicitação ou em visitas na busca de potenciais lesões ainda não notificadas, as enfermeiras prestam consultorias aos profissionais daquele setor, onde existe uma pessoa com um curativo complexo ou de difícil cicatrização, por exemplo. Também são visitados os pacientes que possuem lesões notificadas no sistema de notificação do hospital, o núcleo de segurança do paciente recebe esses dados e entra em contato com as enfermeiras do grupo para fazerem a sua avaliação e prescrever o melhor cuidado para aquele caso. O trabalho exige um vasto conhecimento relacionado a temática dos curativos e, envolvendo também o raciocínio clínico por meio do custo-benefício na utilização das coberturas que em sua maioria são caras ou escassas. Além disso, é exigido um certo manejo e paciência, pois, muitas vezes, se veem diante de dilemas, ao terem que questionar as condutas implementadas pelos colegas de profissão. Considerações finais: por intermédio do estágio extracurricular foi possível realizar novos procedimentos até então somente vistos em teoria na sala de aula, revisitar e refrescar outras técnicas, além de se aproximar da rotina da equipe de enfermagem e do exercício da profissão, contemplando o proposto pelo PROEFCEN. Conclui-se como uma experiência válida e positiva para o aprendizado, aquisição de habilidades relacionadas à destreza manual e desenvolvimento dos acadêmicos, tanto pessoal, quanto profissional. Nesse sentido, espera-se que mais acadêmicos encorajem-se a participar deste tipo de atividade, que agrega não somente na formação como um diferencial, mas também no pessoal a partir da visualização e participação em novas experiências e na aquisição de novos conhecimentos.