Apresentação: as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Enfermagem visam formar enfermeiros generalistas capacitados para atuar em diversas áreas profissionais. Os estágios extracurriculares, regulamentados pela Lei n.º 11.788, oferecem uma formação diferenciada e representam uma oportunidade de crescimento para os acadêmicos, destacando aqueles que participam dessas experiências. O Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) possui o Programa Extensionista de Formação Complementar em Enfermagem (PROEFCEN), que proporciona vivências em diferentes campos de atuação da enfermagem. As quais permitem explorar especialidades menos abordadas, como a enfermagem oncológica. No Brasil, o câncer é a segunda principal causa de óbito desde 2003. Portanto, a interação com pacientes oncológicos possibilita compreender a complexidade do cuidado desses indivíduos, que cada vez mais estarão presentes no cotidiano dos serviços. Além disso, a oportunidade de realizar procedimentos específicos da área, como a administração de quimioterapia, permite aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo da graduação, além da aquisição de novos. Ao vivenciar a rotina do enfermeiro em hemato-oncologia, é possível desenvolver habilidades de gestão e liderança, reconhecendo a importância do trabalho em equipe para oferecer um cuidado integral e humanizado. Essa experiência contribui para o desenvolvimento técnico e para a construção de uma postura ética e compassiva diante dos desafios enfrentados no cuidado oncológico. Desenvolvimento do trabalho: o trabalho objetiva relatar a experiência de uma acadêmica de enfermagem na realização de um estágio extracurricular no setor de internação de hemato-oncologia de um hospital universitário. Trata-se de um relato de experiência fruto de uma vivência extracurricular realizada por uma acadêmica do oitavo semestre do curso de Enfermagem da UFSM. A atividade iniciou-se em novembro de 2023 e encerrou-se em dezembro do mesmo ano, totalizando 120 horas. A enfermaria possui 28 leitos distribuídos entre duas especialidades médicas: oncologia e hematologia, com 18 e 10 leitos, respectivamente. As razões para internação abrangem desde exames diagnósticos, estadiamento da doença até tratamentos com terapias antineoplásicas, cuidados paliativos e medidas de conforto em situações de final de vida. As neoplasias mais frequentes incluem câncer de cólon e reto, canal anal, colo uterino e envolvendo a cabeça e pescoço. Vale ressaltar que os casos que demandam internação geralmente se encontram em estágios avançados da doença, com metástases ou tratamento inviável de forma ambulatorial, ou domiciliar. A iniciativa teve como propósito promover o desenvolvimento pessoal e profissional, proporcionando à acadêmica uma aproximação prática com a atuação em enfermagem, conforme preconizado pelo programa PROEFCEN. Neste caso, o foco da vivência foi na área oncológica. Para realizá-la, a acadêmica elaborou um plano de atividades, delineando as propostas de atuação no serviço, além de fornecer dados pessoais e indicar um profissional de enfermagem e um docente como responsáveis. Após a aprovação da documentação pela Coordenação do Curso de Enfermagem, a experiência foi iniciada. Resultados: há muitos casos de câncer com tendência de aumento para os próximos anos, o que significa que as pessoas com neoplasias estarão cada vez mais presentes no cotidiano dos serviços de saúde. A assistência nesse contexto abrange todas as faixas etárias e acontece em diversos cenários, como no domicílio, nas unidades básicas de saúde e em instituições hospitalares, por exemplo. Para garantir uma prática assistencial eficiente, é fundamental uma formação abrangente que inclua todas as vertentes do cuidado. Apesar da formação do enfermeiro seguir uma abordagem generalista, há lacunas identificadas em áreas específicas, como a oncologia. Nota-se uma carência de conhecimentos que vai desde conceitos básicos até aspectos mais específicos dessa área, apontando para a importância do aprimoramento que, neste caso, deve partir do indivíduo, na busca por estágios extracurriculares e estudo teórico diário após cada dia de estágio. Dependendo do turno no qual o estágio fosse realizado, a dinâmica do setor variava. Dessa forma, a experiência proporcionou uma visão abrangente das atividades diárias. O tamanho da enfermaria e a quantidade de tarefas a serem cumpridas destacaram a importância da organização e do gerenciamento do tempo, na prática da enfermagem. Portanto, para assegurar um cuidado eficaz e resolutivo, torna-se crucial a habilidade, passível de desenvolvimento com a prática diária e a aplicação de estratégias organizacionais na atuação profissional. Esse aspecto ressalta a necessidade de competências gerenciais na formação acadêmica que podem ser ampliadas em experiências extracurriculares. As atividades privativas no âmbito da enfermagem incluíram o planejamento, organização, supervisão, execução e avaliação de procedimentos específicos, como administração de quimioterápicos antineoplásicos e punção de acesso venoso totalmente implantado, conforme legislação do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). A acadêmica também esteve envolvida em atividades como punção periférica de acesso venoso, realização do Processo de Enfermagem e interpretação de exames laboratoriais e de imagem, contribuindo para o aprimoramento de suas habilidades técnicas e raciocínio clínico. O ambiente de hemato-oncologia propiciou a participação em rounds com a discussão de casos com profissionais de diversas áreas de saúde. Tal experiência destacou a importância da interação multidisciplinar, contribuindo para a construção de um raciocínio clínico sólido e reforçando a necessidade de uma abordagem integral no cuidado. Além disso, enfrentou desafios singulares no cuidado aos pacientes, especialmente aqueles com longas internações, e experimentou sentimentos diversos diante das perdas. A abordagem clínica e prognóstica das pessoas com câncer é complexa, e o cuidado para ser eficaz e integral deve considerar não apenas os procedimentos, mas também a escuta, atenção às queixas subjetivas, espiritualidade, família e outras necessidades manifestadas ou observadas. Frente à complexidade do atendimento aos pacientes oncológicos, tanto no aspecto técnico-científico quanto no emocional, é evidente que os enfermeiros reconheçam sua falta de preparo para lidar com a oncologia. Após iniciar suas responsabilidades assistenciais nesse contexto e se ajustar ao novo ambiente, o enfermeiro demonstra um profundo comprometimento e responsabilidade para com sua profissão, sobretudo em relação aos pacientes e familiares. Essa vivência foi marcada pela compreensão de que o cuidado transcende o âmbito biológico, ultrapassando o sofrimento e direcionando-se para uma perspectiva fundamentada no sentimento de satisfação pelo trabalho desempenhado. Considerações finais: o aumento nos casos de câncer ressalta a presença crescente de pacientes oncológicos nos serviços de saúde. A assistência para com estes abrange diversas faixas etárias e contextos, demandando uma formação diversificada. Entretanto, a formação generalista proposta, muitas vezes, apresenta lacunas, exigindo interesse individual e busca para haver aprimoramento nessa área. A experiência proporcionou percepções sobre a habilidade do enfermeiro em gerenciar equipe e recursos, sublinhando a importância da organização e do tempo. Destaca-se a necessidade de desenvolver competências gerenciais na formação acadêmica, as quais podem ser aprimoradas em experiências extracurriculares. As atividades aprimoraram habilidades técnicas e o raciocínio clínico. Desafios, como o envolvimento emocional com os pacientes e o luto, também se fizeram presentes, evidenciando a complexidade do atendimento a pacientes com câncer. A experiência realçou a importância do comprometimento e responsabilidade do enfermeiro na prestação de um cuidado que transcende o aspecto biológico.
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