Apresentação: A formação das cidades brasileiras é um processo marcado por desigualdades socioeconômicas. Esta relação se manifesta de forma evidente na própria conformação dos principais centros urbanos do país, onde as áreas de maior poder aquisitivo são também as mais bem estruturadas, enquanto uma parcela expressiva da população é marginalizada. As ocupações urbanas emergem como expressões políticas que não apenas reivindicam o direito constitucional à moradia, mas também demandam o direito à cidade. O projeto de extensão “Educação Popular em Saúde nas Ocupações Urbanas da Região Metropolitana de Belo Horizonte” acompanha os moradores da ocupação urbana Pátria Livre, situada na favela Pedreira Prado Lopes, bem como realiza e contribui com atividades de educação popular em saúde. O objetivo do trabalho é refletir sobre o impacto que o projeto de extensão teve na formação dos alunos incorporados a este. Desenvolvimento: O projeto de extensão que ocorre nas ocupações está inserido no programa da Liga Acadêmica de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais (LIASC - UFMG), estruturada de forma transdisciplinar. Inicialmente, foram realizadas atividades de ensino internas, com discussões em grupo que abordaram tópicos da educação popular em saúde e temas relacionados ao binômio saúde-território. Em seguida, foram agendadas com moradores e movimentos sociais parceiros, visitas à ocupação. Os integrantes do projeto de extensão elaboraram um roteiro, com perguntas norteadoras envolvendo questões atreladas ao cotidiano, abrangendo possíveis fatores de proteção e de risco identificados pelos moradores. Com o andamento das visitas, foram apresentadas diversas necessidades em saúde, que serviram de apoio para a elaboração das atividades de educação popular em saúde. Resultado: A equipe do projeto percebeu na primeira visita à ocupação, realizada em 30 de agosto de 2023, a necessidade de priorizar as perguntas mais diretas e que permitiam uma análise ampla dos relatos de cada entrevistado e do panorama geral do cotidiano ali retratado. Entre as demandas apresentadas, destacam-se as questões relacionadas à saúde mental, à saúde da mulher e à ausência de espaços de lazer coletivo. Posteriormente, o grupo se tornou um parceiro do Encontro das Mulheres, que acontece mensalmente no galpão anexo da ocupação, e realizou atividades de educação popular em saúde. Entre as ações, podem ser citadas práticas coletivas de exercícios físicos e uma roda de conversa a respeito do câncer de mama, que trouxe como apoio didático os modelos de mama amiga, próteses que auxiliaram no aprendizado e captaram a atenção das mulheres presentes em relação aos sinais de alerta. Considerações Finais: As ações permitiram, para além de uma formação que fundamenta a educação popular em saúde como prática de cuidado, vivências que estimulam o engajamento político-social dos estudantes inseridos. Ao pautar as ocupações urbanas, tema ainda negligenciado na formação acadêmica, o projeto fomenta uma perspectiva crítica dos dos serviços de saúde ofertados e do modelo de cidade construído até então.
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