O objetivo deste trabalho consiste em relatar a experiência do trabalho desenvolvido pelo serviço de Psicologia do Hospital Antônio Pedro (HUAP), Niterói-RJ, durante a pandemia e seus desdobramentos. A pandemia da covid-19, em 2020, colocou em cena mudanças importantes nas relações sociais e na saúde mental de todas as pessoas, diante de uma situação nunca vivenciada e que provocava medo e insegurança, nos convocando a reinventarmos a nossa forma de ser e estar no mundo e também no trabalho. No âmbito hospitalar, por exemplo, tivemos a suspensão das visitas aos pacientes internados e outras formas de acolher os familiares tiveram que ser pensadas, tendo a tecnologia se configurado como um recurso potente do ato de cuidar. O acolhimento ao óbito precisou ser modificado, já que os rituais de despedida não podiam acontecer da mesma forma, naquele momento. Partindo deste contexto, o presente trabalho busca compartilhar a experiência de construção multiprofissional das Visitas Virtuais no CTI e do acolhimento ao óbito, desde o contato com os familiares até a organização da equipe para a sua realização no dia a dia e as parcerias necessárias para sustentar tal processo de mudança, além dos efeitos para todos os envolvidos, usuários e equipes. Recorremos aos pressupostos da Humanização em Saúde para pensar esse momento de nossa história recente, destacando um de seus princípios que é a indissociabilidade entre a atenção e gestão, já que tivemos que reinventar práticas, gerenciando um trabalho em equipe. Assim, a pandemia nos colocou oportunidades de construção de novos fluxos que permaneceram e qualificaram o cuidado, tornando-se analisadores potentes de pontos críticos e desafios em saúde, tais como a comunicação, a transição de fluxos processuais, a continuidade de cuidado e a inclusão dos usuários. No âmbito nacional, por exemplo, foi promulgada a Lei nº 14.198, de 02/09/2021, que garante a realização de videochamadas entre pacientes internados em serviços de saúde, impossibilitados de receber visitas, e seus familiares, exigindo que os serviços se organizem para tal. No HUAP, por conseguinte, construímos um protocolo para a realização das visitas virtuais para aqueles pacientes que não consigam ter a sua rede social próxima, assim como o processo de acolhimento ao óbito vem sendo discutido em equipe e ampliado junto à gestão e às equipes assistenciais. O projeto caixa de memórias, recurso para auxiliar no processo de luto dos familiares, implantado na pandemia, vem sendo rediscutido também na maternidade e na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal. Assim, fluxos assistenciais importantes, que se configuram em processos de trabalho delicados e complexos estão sendo reinventados e fortalecidos de forma a potencializar a produção do cuidado em saúde para usuários, famílias e profissionais.