RELATO DE EXPERIÊNCIA DE AÇÃO DE EXTENSÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE QUILOMBOLA MENINO JESUS DE PETIMANDEUA,INHANGAPI,PA

  • Author
  • Renayra Santos Furtado
  • Co-authors
  • Ana Luiza Martins da Silva , Marcelle Louise da Cruz , Antonio Mateus Feitosa de Souza , Claudia do Socorro Carvalho Miranda
  • Abstract
  • INTRODUÇÃO: As ações de extensão universitária objetivam a integração ensino- serviço- comunidade, introduzindo os discentes na vivência prática do cotidiano das comunidades, essa definição está articulada com as diretrizes do fórum nacional de pró-reitores de extensão das universidades públicas brasileiras (FORPROEX), no qual está inserida a pró-reitoria de extensão da Universidade do Estado do Pará (PROEX). Uma das vertentes da extensão é a educação em saúde que busca promover a autonomia e estimular o debate entre gestores e profissionais da saúde para ofertar cuidados de acordo com as necessidades locais. Sendo assim, o processo educativo em saúde carrega uma interpretação político-pedagógica, a qual requer o desenvolvimento de um pensamento crítico-reflexivo, propiciando a emancipação dos sujeitos partícipes, capazes de propor e opinar nas decisões de saúde para cuidar de si e de sua coletividade. Na perspectiva de formar sujeitos históricos e socioculturais emancipados na saúde, destaca-se o segmento das comunidades quilombolas,que carregam em seu cerne a luta da resistência, postas como populações marginalizadas socialmente, à mercê das condições indignas de vivência e expostas às iniquidades em saúde.Segundo o censo de 2022 do IBGE, dos 203.062.512 habitantes do país, 1.327.802 são quilombolas, o que corresponde a 0,65% da população, sendo 135.033 alocados no estado do Pará, muitos dos quais residem em territórios não delimitados oficialmente.Nessa conjuntura, a saúde, como produto das condições socieconômicas e ambientais, é determinada para além de fatores biológicos, mas englobando também questões que perpassam a totalidade do indivíduo - os determinantes e condicionantes sociais da saúde- que devem ser entendidos como temas cruciais da saúde pública, sendo assim, fundamental promover a autonomia dos indivíduos para serem sujeitos ativos nas decisões multisetoriais. Nessa perspectiva, foi realizada a ação em saúde na comunidade quilombola Menino Jesus de Petimandeua, no estado do Pará, construindo conhecimento de saúde, de forma horizontal, conjuntamente com a comunidade. A referida comunidade, localiza-se no nordeste paraense e possui o Título de Reconhecimento de Domínio Coletivo, emitido em 2023 pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa), o que regulariza, reconhe e protege seu território, no qual vivem cerca de 55 famílias, que prezam e possuem uma intrínseca relação com o ambiente e suas tradições, realizando produções para subsistência e comércio, como a de açaí, possuindo grandes desafios quanto ao acesso à educação e à saúde equânime e de qualidade. OBJETIVO: Construir um resumo expandido baseado na atividade de extensão multidisciplinar em uma comunidade remanescente de quilombo, entre os cursos de Saúde Coletiva e Biomedicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), com apoio de profissional da medicina,enfermagem, antropologia e psicologia, desenvolvida a partir da discplina "Atividade Integradora em Vigilância Ambiental". DESENVOLVIMENTO: Trata-se da construção de um resumo expandido, realizado a partir da atividade de extensão "Educação única no contexto da comunidade quilombola Menino Jesus de Petimandeua", desenvolvida no dia 30 de novembro de 2023, contando com aproximadamente 45 discentes da UEPA dos cursos de Saúde Coletiva e Biomedicina, assistidos pela docente titular da disciplina, além de um profissional biomédico, enfermeira, médica, antropóloga e psicóloga. A atividade contou com educação popular em saúde sobre prevenção à doença de Chagas e Leishmaniose a partir de visita domiciliar e roda de conversa, além de educação de saúde bucal para crianças, testagem para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST's), como Hepatites B e C, Sífilis e Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Concomitante a isso, realizou-se testes para doença de Chagas, hemogramas, aferição de pressão arterial e glicose, tais atividades somavam a atendimentos com psicólogo, consulta médica com clínico geral e consulta de enfermagem. Une-se a isso, a atuação da docente antropóloga que orientou acerca da abodagem aos membros da comunidade. RESULTADOS: A atividade promovida na comunidade enfatizou a impotância das ações de extensão no processo de construção e compartilhamento de conhecimento, tanto para os membros do local quanto para os discentes, fomentando a coletividade de saberes. Esta perspectiva encontra-se com princípios estabelecidos no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto a equidade, descentralização, universalidade e participação social na oferta de serviços em saúde para populações tradicionais. Além disso, corrobora políticas de estado como a Política Nacional de Humanização, Política Nacional de Saúde da População Negra, entre outras que incidem sobre a população remanescente de quilombo. Sendo assim, as ações em saúde mostraram-se produtivas e importantes não só para disceminação de práticas, informações e orientações, como também para a construção formativa dos alunos, em um espaço de ensino e prática. Diante disso, ter projetos e atividades que incentivam a metodologia ativa e a interação externa à sala de aula agrega à formação de futuros profissionais, fomentando a reflexão crítica, posicionamento e tomada de decisões, além de prestar serviços à sociedade e contribuir para a melhora das condições de saúde e acesso à informação dos indivíduos. Nesse sentido, destaca-se que a extensão foi exitosa e muito agregadora frente a recepção das famílias da comunidade, as quais, entre diferentes faixas etárias, participavam ativamente das ações propostas e receberam os alunos e docentes com muito respeito. A população local mostrou-se calorosa, com destaque ao professor da escola de ensino infantil, o qual foi muito participativo durante a atividade de higiene bucal, compartilhando acerca de seu trabalho e das dinâmicas da escola e da comunidade. Destaca-se, também, a amorosidade dos membros da comunidade que receberam as visitas domiciliares, acolhendo os discentes para receber informações sobre doença de Chagas e Leishmaniose, agindo em conjunto com os conhecimentos tradicionais, construindo saberes em saúde coletivamente. Aliado a isso, o líder da comunidade acolheu os discentes com um discurso reconhecendo os serviços prestados, compartilhando um pouco de seus desafios por respeito e dignidade, ressaltando a expressão de resistência que a comunidade representa aos moradores, conjunto as demais comunidades remanescentes do país. Dessa maneira, os serviços prestados ocorreram mediante pactuação e participação da comunidade, reforçando o trabalho de gestão da docente orientadora e alunos de Saúde Coletiva que a assessoraram e garantiram a realização da extensão com disposição de recursos humanos, materiais e logística necessários. Diante da realidade socioambiental e das dinâmicas do território, englobadas pela localização, pela ocupação dos moradores e pelas barreiras enfrentadas, como a dificuldade de acesso aos serviços de educação, saúde e transporte e sua insuficiência, a estruturação do projeto foi pensada a partir deste contexto, contribuindo com os moradores que são protagonistas e multiplicadores do autocuidado individual e coletivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Portanto, ressalta-se a importância das atividades de extensão, que trazem benefícios mútuos para a sociedade e para os profissionais da saúde em formação, aproximando o ambiente acadêmico da aprendizagem prática nos territórios. Assim, a utilização da educação em saúde como construtora e integradora de conhecimentos, a partir da vivência dos sujeitos receptores das ações, é imprescindível para a garantia da autonomia e emancipação das populações tradicionais, em especial, as comunidades quilombolas, que apresentam peculiaridades sociais, culturais, econômicas e de saúde, que devem ser respeitadas. Outrossim, enfatiza-se o destaque do profissional sanitarista nessas ações de saúde, tanto para o planejamento, construindo diagnóstico situacional a partir do diálogo com a comunidade, como também, para elaboração de atividades de educação em saúde, realizando, coordenando e avaliando os resultados alcançados e o impacto na comunidade, para oferecimento e manutenção de melhores condições de saúde, em consonância com o que está posto na lesgislação do SUS e demais políticas públicas de saúde.

  • Keywords
  • Quilombola, ensino-extensão, saúde, participação popular, multidisciplinaridade
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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