APRESENTAÇÃO: A tuberculose caracteriza-se como doença infectocontagiosa crônica relacionada às vulnerabilidades sociais, motivo pelo qual as condições de pobreza, como baixa escolaridade, baixa renda e moradia inadequada, interferem na continuidade do tratamento e reduzem os indicadores de cura. No Brasil, os profissionais da Atenção Primária à Saúde exercem importante papel no controle da doença, incluindo suas intervenções para possibilitar o acesso dos doentes aos benefícios de programas governamentais, como Benefício de Prestação Continuada, Programa Bolsa Família e Tarifa Social de Energia Elétrica, que dão suporte socioeconômico para enfrentar os desafios do adoecimento. Todavia, muitas vezes há obstáculos que se agigantam na realidade dos acometidos, dificultando ou impedindo que sejam contemplados. Em vista disso, objetivou-se analisar as concepções de profissionais da Atenção Primária à Saúde sobre as possibilidades e fragilidades do acesso de pessoas com tuberculose aos benefícios de programas governamentais. DESENVOLVIMENTO: Estudo qualitativo/multicêntrico realizado com 58 profissionais, que atuavam em Unidades de Saúde da Família das capitais de quatro estados brasileiros: Belém, Pará (n=5; 8,62%); Campo Grande, Mato Grosso do Sul (n=22; 37,93%); Recife, Pernambuco (n=3; 5,17%); e Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (n=28; 48,28%). Entre julho de 2019 e fevereiro de 2020, os dados foram produzidos por meio de entrevistas individuais audiogravadas, utilizando-se roteiro semiestruturado, constituído por perguntas objetivas, para conhecer o perfil dos participantes, e subjetivas, para explorar o objeto de estudo. Os dados de perfil foram organizados em planilha e analisados com estatística descritiva. Por sua vez, os dados subjetivos foram transcritos para gerar um corpus textual, submetido à análise de conteúdo temática, seguindo três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Obteve-se aprovação por Comitês de Ética em Pesquisa. RESULTADOS: A maioria dos participantes era do sexo feminino (n=45; 77,59%), tinha entre 25 e 40 anos (n=33; 56,90%) e atuava há menos de cinco anos na assistência às pessoas com tuberculose (n=32; 55,17%). Enquadravam-se nas profissões: assistente social (n=2; 3,45%), enfermeiro (n=21; 36,21%), farmacêutico (n=4; 6,90%), médico (n=18; 31,03%), odontólogo (n=3; 5,17%) e técnico de enfermagem (n=10; 17,24%). A análise dos dados subjetivos permitiu organizar duas categorias temáticas: na primeira, os profissionais reconheceram que os benefícios dos programas governamentais são inerentes a todos os grupos humanos que vivem em situação de vulnerabilidade, motivo pelo qual devem incluir pessoas com tuberculose, de acordo com suas necessidades; contudo, na segunda, relataram um conjunto de fragilidades que limitam o pleno e oportuno acesso aos benefícios, como fatores burocráticos/políticos e longo tempo de espera para que o usuário seja contemplado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Embora os programas governamentais para pessoas em situação de vulnerabilidade sejam uma realidade no território brasileiro, este estudo ressalta que é necessário qualificar o acesso de pessoas com tuberculose aos benefícios deles provenientes, visando reduzir o abandono de tratamento, fortalecer a qualidade de vida e propiciar a cura. Entende-se que isso potencializará o controle da doença no cenário nacional, contribuindo para o seu enfrentamento como relevante problema de saúde pública mundial.
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