APRESENTAÇÃO: Causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis, a tuberculose apresenta duas formas clínicas, responsáveis por acometer principalmente os pulmões (forma pulmonar) ou órgãos de diferentes sistemas (forma extrapulmonar), perpetuando-se fortemente nos países menos desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, como o Brasil. Acomete, sobretudo, grupos humanos em situação de vulnerabilidade, ressaltando a importância da Atenção Primária à Saúde como cenário que possibilita o atendimento às necessidades biopsicossociais. As repercussões da tuberculose demandam ajustamentos por parte do doente e de suas redes sociais, contexto no qual se destacam as repercussões socioeconômicas, caracterizadas, entre outros fatores, pelo uso de recursos próprios para arcar com despesas e pelo afastamento do doente em relação às atividades cotidianas. Frente à relevância do tema, este estudo objetivou analisar as concepções de pessoas com tuberculose pulmonar sobre as repercussões socioeconômicas do adoecimento. DESENVOLVIMENTO: Estudo multicêntrico, com abordagem qualitativa, realizado em duas Unidades Básicas de Saúde de Belém, Pará, e quatro de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Participaram 41 pessoas em tratamento para tuberculose pulmonar, acompanhadas regularmente nessas unidades, sendo 21 (51,2%) de Belém e 20 (48,8%) de Campo Grande. Foram entrevistadas individualmente, nos meses de julho a dezembro de 2019. Para tanto, empregou-se um roteiro semiestruturado, constituído por questões objetivas, para identificar as características sociodemográficas dos participantes, e subjetivas, para explorar o objeto de estudo. Os dados sociodemográficos foram tabulados e analisados descritivamente, e os dados subjetivos foram transcritos para formar um corpus, submetido à análise de conteúdo temática, por meio de três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. O estudo foi apreciado por Comitês de Ética em Pesquisa. RESULTADOS: A maioria dos participantes era do sexo masculino (n=23; 56,1%), tinha entre 21 e 40 anos (n=16; 39,0%), com ensino fundamental incompleto (n=15; 36,6%), constituía-se por desempregados (n=28; 68,3%) e não recebia quaisquer benefícios governamentais (n=23; 56,1%). Com a análise dos dados subjetivos, emergiram duas categorias temáticas, evidenciando que as repercussões socioeconômicas da tuberculose desdobraram-se por suas interferências no orçamento familiar (primeira categoria) e nas atividades ocupacionais (segunda categoria). Assim, na primeira, os participantes relataram que, devido aos entraves operacionais das unidades de saúde e/ou à ausência de benefícios governamentais, muitas vezes utilizaram recursos próprios para custear exames, medicamentos, alimentos e passagens de transporte público ou privado, visando diagnosticar e tratar a doença. Na segunda, afirmaram que as manifestações clínicas limitaram fortemente sua capacidade física, culminando na redução do tempo para exercer as atividades ocupacionais ou mesmo na perda do emprego. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos avanços do conhecimento técnico-científico e da previsão de benefícios para pessoas com tuberculose no território nacional, este estudo demonstra que os acometidos ainda padecem com fortes repercussões socioeconômicas. Isso reforça o caráter socialmente determinado da doença, mas também aponta que investimentos intersetoriais são necessários para superá-la como problema de saúde pública.