Apresentação: A Atenção Especializada em Saúde (AES) se configura hoje como grande desafio na constituição de redes no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de uma organização regionalizada, hierarquizada e com lógica de densidade tecnológica, a AES oferece processos de diagnóstico e terapêutico, ambulatorial e hospitalar, definidora da integralidade do cuidado. Este estudo teve como objetivo analisar o conhecimento recente sobre a AES no Brasil e as redes de cuidados a partir da observação de anais de congressos brasileiros em Saúde Coletiva.
Desenvolvimento do trabalho: O estudo é uma ação do Observatório de Políticas Públicas do SUS da Unifesp, em parceria com a pesquisa Cartografia da Atenção Especializada no Brasil, com o objetivo de avaliar a atenção especializada nas regiões brasileiras. A pergunta que moveu esta investigação foi: "Quais experiências inovadoras têm sido adotadas no Brasil na construção de redes de cuidado na AES?". Com base numa metodologia de revisão integrativa foram identificados 5239 trabalhos do 13º Congresso de Saúde Coletiva (2022) e do 4º Congresso de Política, Planejamento e Gestão da Saúde (2021). Foram selecionados 190 trabalhos, os quais 75 destacaram aspectos de gestão, enquanto 115, o cuidado na AES. Os resumos excluídos não respondiam a pergunta deste estudo.
Resultados: Do total de resumos, o cuidado na AES foi tratado em 2,19% deles. Destes, 37,9% trataram sobre cuidados à pessoa com câncer. Relatam dificuldades de acesso relacionadas às condições sociais e físicas do indivíduo, bem como a distribuição desigual de ofertas. 10,3% abordaram a infectologia e o cuidado às pessoas convivendo com HIV-AIDS. Evidenciam a persistência de questões relacionadas à distância dos serviços de referência, assim como a fragmentação do cuidado às pessoas em vulnerabilidade social. Temáticas como rede de cuidados à PCD, saúde da população LGBTQIAPN+ e cardiologia também foram apresentadas. Os trabalhos apontam a necessidade de estratégias compartilhadas de gestão, o monitoramento da continuidade dos tratamentos e as particularidades dos territórios no desenvolvimento de projetos que visem a equidade e a integralidade do cuidado.
Considerações finais: O baixo número de trabalhos sobre o tema da AES explicita um menor grau de formulação teórica nesse nível de atenção. Demonstra uma carência de pesquisas sobre o tema que impacta no avanço do conhecimento sobre a gestão do cuidado em rede e os processos de gestão do SUS. Os trabalhos indicam como barreiras de acesso condições socioeconômicas e físicas, aspectos que devem ser considerados na construção de políticas públicas que visem à equidade. A dificuldade no acesso e concentração em grandes centros sugere a existência de importantes vazios assistenciais de serviços especializados no Brasil e a fragilidade de oferta do transporte sanitário, fundamental para o acesso dos serviços regionalizados. Torna-se necessário maiores investimentos nesse âmbito da AES, além de mais estudos nas áreas de oftalmologia, cardiologia, nefrologia e ortopedia, reconhecidas como fragilidades do sistema.