APRESENTAÇÃO: A pandemia global provocada pela Covid-19 trouxe muitos efeitos para a educação em todos os níveis, desde a educação infantil ao ensino superior, no entanto, apresentou-se também como uma oportunidade de (re)pensar práticas educativas, ainda muito alicerçadas no modelo tradicional de ensino, de transmissão de conhecimento e de estratégias pedagógicas que não promovem a autonomia do estudante e o seu pensamento crítico e reflexivo diante de seu contexto. O uso ‘obrigatório’ das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), no transcurso da doença, especialmente em sua fase considerada mais crítica, apontou para professores, especialmente os da atenção básica, novas ferramentas de ensino, além da articulação de conteúdos com outras disciplinas, fortalecendo temas transversais, em virtude dos projetos executados durante esse período nas mais diversas vertentes. Assim, esse estudo buscou compreender, a partir da percepção de professores, como a COVID-19 influenciou o uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem e a necessidade de articulação de conteúdos e temas de forma transversal. DESENVOLVIMENTO: Pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, realizada entre abril e maio de 2022 com 13 professores da educação básica (ensino fundamental e médio) do município de Crato – Ceará, Brasil, em duas escolas contratualizadas ao Programa Saúde na Escola. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se a entrevista semiestruturada, de maneira que estas foram gravadas e transcritas na íntegra posteriormente. As entrevistas foram efetuadas nas escolas, em data e horário previamente agendados. Os dados foram analisados a partir do software NVivo e análise de conteúdo temática. A investigação cumpriu as diretrizes éticas que dispõem acerca de estudos com seres humanos, respeitando-se a legislação vigente e recebendo parecer favorável dos Comitês de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (instituição proponente), por meio do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE), número 51749921.3.0000.5534 e da Universidade Regional do Cariri (instituição coparticipante), com CAAE 51749921.3.3001.5055. RESULTADOS: As TDIC foram incorporadas ao processo ensino-aprendizagem não apenas durante o período remoto da pandemia, momento em que escolas de todo o país permaneceram sem funcionamento ao longo de meses, mas também no retorno do ensino presencial, demonstrando que estas ferramentas serão incorporadas no processo educacional, conforme apontam as falas a seguir: ‘a gente percebeu o quanto a gente estava perdendo, não tendo acesso as tecnologias, o quanto nos ajuda em relação ao nosso trabalho em sala de aula (...) mas que a gente tem consciência que pode melhorar a aula, usando novas tecnologias e que a questão da pandemia nos trouxe isso (...) (P1). A professora em questão aborda ainda que as tecnologias podem trazer melhorias para a sala de aula, requerendo das instâncias governamentais, tanto a nível estadual quanto municipal, formação e qualificação para o aprimoramento no uso das diversas TDIC. Em contraposição, um dos professores referiu que o uso dessas tecnologias trouxe prejuízos aos aprendizado, embora tendo enaltecido que esse formato possibilitou um maior protagonismo estudantil: ‘(...) a gente enxergou possibilidades, por mais que a gente não tenha gostado, porque infelizmente houve uma diminuição dos conteúdos para que os alunos pudessem acompanhar, não poderia colocar uma grande quantidade ou uma quantidade normal de conteúdos, porque os alunos precisavam ter um certo protagonismo nos estudos, eles vivenciar autoridades e eles não estavam habituados (...)’ (P3). ‘Sim, sim, não tenha dúvida, essas reflexões e elas estão sendo processadas e gradativamente elas estão sendo postas no dia a dia, porque é como eu lhe disse foi um processo de adaptação pra gente entrar nesse universo EAD (...) eu era meio engessado que eu sou da língua portuguesa, mas eu estou saindo um pouco e trabalhando esses temas transversais’ (P4). Embora não seja o foco dessa discussão, o professor traz uma confusão conceitual entre o ensino remoto, que foi aplicado na pandemia em decorrência de uma situação emergencial, em um processo de adaptação temporária do ensino presencial, e o Ensino à Distância (EAD), planejado estrategicamente para ocorrer de maneira on-line. Ademais, o professor considera que por sua disciplina ser a Língua Portuguesa, apresentava entraves de articulação com outras temáticas e, a partir do cenário pandêmico, algumas reflexões foram tecidas em uma perspectiva de mudança. Um professor de história, por sua vez, destacou que a pandemia oportunizou uma aproximação de temas, dado o cenário vivenciado: ‘A pandemia por exemplo, quando eu ia trabalhar a questão história, quando eu ia trabalhar essas questões por exemplo, da gripe espanhola, da revolta da vacina, da peste negra que aconteceu na idade média, eu não tinha assim digamos, algo para associar no tempo presente’ (P6). Um dos professores referiu tanto a necessidade de incorporação das tecnologias como também, a urgência do desenvolvimento de projetos interdisciplinares, contextualizados e compartilhados: ‘a gente também precisou e vai precisar inserir, não só novos conhecimentos, mas novas metodologias, a tecnologia ela se faz extremamente necessária agora (...) nós precisamos inserir cada vez mais a tecnologia dentro da nossa sala de aula, dentro do nosso planejamento, dentro do nosso conteúdo (...) não se pode mais trabalhar separado, embora a gente já tivesse muitos projetos interdisciplinares, mas o planejamento agora ele não pode mais ser individualizado, ele precisa ser não só contextualizado, mas compartilhado (...) então eu acho que a pandemia é acelerou, eu acho que era algo que já ia acontecer, a gente sabe que já havia esse prenúncio, mas a pandemia acelerou isso’. (P9). Um estudo desenvolvido durante o período crítico da pandemia abordou que os temas transversais podem ser perfeitamente aplicados na metodologia baseada em projetos, conforme o relato do professor, galgando diferentes níveis de desenvolvimento, variando desde projetos de curta duração inerentes ao espaço da sala de aula e/ou a projetos que vislumbrem soluções mais complexas, demandando mais tempo e, consequentemente, uma colaboração interdisciplinar. O cenário da COVID-19 propiciou e vem proporcionando reflexões das mais diversas que podem ser desenvolvidas na comunidade escolar, no âmbito social, econômico, político, ambiental e ainda, nas questões imbricadas à saúde mental, amplamente afetada com os impactos globais da pandemia. Assim, algumas pesquisas destacam que com a sociedade em transformação no pós-cenário pandêmico, a escola também necessitará passar por um processo de mudança, com um trabalho pautado na dialogicidade, solidariedade e amorosidade em uma epistemologia sistêmica, complexa, ecológica e híbrida, expressando uma produção de saberes delineada por diversas teorias e considerando a importância das tecnologias. CONCLUSÃO: A partir do exposto, percebe-se que apesar de todos os impactos negativos ocasionados ao ambiente escolar em decorrência da COVID-19, toda a rede de ensino buscou formas de adaptação à realidade imposta, e o uso das tecnologias mostrou-se favorável nesse processo, não apenas garantindo o vínculo estudante-professor-rede escolar durante o ensino remoto, mas consolidando a necessidade de sua utilização em diversas estratégias de ensino e aprendizagem. Destarte, a partir da percepção dos professores, observou-se que a pandemia trouxe ainda um olhar mais ampliado no que se refere à possibilidade de articulação de temáticas e conteúdos, tal como o que é contemplado na Base Nacional Comum Curricular proposta pelo Ministério da Educação.