Apresentação: O cuidado em saúde mental é complexo, exige acompanhamento longitudinal, multidisciplinar e familiar. Nesse caso, as visitas domiciliares são importantes medidas para a avaliação do contexto biopsicossocial e familiar dos usuários. Para exemplificar esse fato, o presente relato visa expor a experiência de uma visita domiciliar a uma paciente em sofrimento mental. Tem como objetivo relacionar as visitas como ferramentas de investigação de maus tratos no âmbito da atenção primária em saúde. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência idealizado a partir de uma vivência específica durante um atendimento domiciliar em saúde mental no município João Pessoa/PB. Essa consulta foi realizada em uma usuária vinculada à Unidade de Saúde da Família (USF) Mandacaru IX. Resultados: Em março de 2024, os estudantes de medicina do 7º período da graduação em Medicina, atuantes no estágio da disciplina que integra o serviço-ensino-comunidade, foram direcionados para acompanhar o atendimento médico domiciliar. No decorrer da manhã, o grupo foi encaminhado para a realização da consulta de uma paciente portadora de esquizofrenia, a fim de avaliar a adesão ao tratamento e o cuidado familiar. Ao chegar na residência da usuária, foi possível observar intenso descaso e inadequada assistência da família. A paciente encontrava-se com um quadro de hipotensão, rebaixamento do nível de consciência, incapaz de se comunicar com a médica e em péssimas condições de higiene. Ela estava mantida em um ambiente pequeno e escuro que, no lugar de porta e janelas, era cercado por grades, isolada do convívio familiar e social. De início, foi possível comparar aquele cômodo com uma prisão, onde a paciente dormia sobre uma bancada de tijolos e concreto, sem colchão, lençóis e travesseiros. Somado a isso, foi relatado, pelos familiares, tentativas de sedar a paciente com o uso de benzodiazepínicos em altas doses. Logo, identificou-se uma situação de maus tratos familiar, o qual foi notificado imediatamente ao Centro de Referência de Assistência Social para a tomada de medidas cabíveis. Considerações finais: A vivência demonstra uma situação de extrema vulnerabilidade social e ratifica os tipos de negligência e desamparo sofridos pelos pacientes portadores de doenças psiquiátricas. Diante desse cenário, problematizou-se a crueldade envolvida nas sequelas de uma assistência à saúde manicomial, herança de um passado não tão distante. Dito isso, é indubitável o papel das visitas domiciliares para acompanhamento e vigilância dos usuários como garantia de bem-estar e cuidado humanizado.