INTRODUÇÃO - O Planejamento Reprodutivo é um conjunto de ações que auxiliam na prevenção, controle da natalidade e organização familiar. Quando realizado adequadamente promove melhorias nas condições de saúde resultando na redução da morbimortalidade materno-infantil. Nos casos em que há maior risco de complicações quando comparado à média da população em geral, a Gestação é caracterizada como sendo de Alto Risco. Assim, visando reduzir a morbimortalidade materna e perinatal, é importante promover o acompanhamento pré e pós-concepcional. A gravidez é influenciada por condições multifatoriais, como idade, hábitos de vida, distúrbios nutricionais, doenças crônicas. Gestantes com sobrepeso ou obesidade prévia devem receber atenção individualizada, visto que enfrentam maior risco de complicações obstétricas. Sendo assim, todas as gestantes devem ter seus dados antropométricos avaliados durante a rotina do pré-natal. A hipertensão arterial crônica é uma das complicações gestacionais mais comuns, que pode ser agravada pela obesidade. Caracteriza-se pela presença níveis pressóricos de pelo menos 140 mmHg (sistólica) e 90 mmHg (diastólica) persistentes, diagnosticado anteriormente à gravidez ou até a 20ª semana de gestação, permanecendo até as 6 primeiras semanas pós parto. A maioria das mortes e complicações que ocorrem durante a gravidez, parto e puerpério pode ser evitada com o acompanhamento regular em consultas pré-natal, exames complementares e assistência no pós-parto. O período pré-natal é caracterizado por intensas mudanças biopsicossociais, desta forma, o auxílio de uma equipe multiprofissional é imprescindível para abranger as demandas apresentadas nesse período. Dentre os profissionais de contato, o fisioterapeuta desempenha um papel fundamental no manejo de alterações musculoesqueléticas, circulatórias, respiratórias e outras. Dentre as condutas realizadas nos atendimentos destaca-se a orientação de exercícios supervisionados. O exercício físico pode estimular a liberação de substâncias vasoativas que atuam regulando o fluxo sanguíneo. As atividades físicas podem, ainda, aumentar o crescimento placentário e a vascularização, estimular a regulação antioxidante para combater o efeito do estresse oxidativo, colaborar com a redução da disfunção endotelial e atuar para reduzir a inflamação sistêmica. Além disso, o manejo fisioterapêutico pode auxiliar no alívio de dores e prevenção e tratamento de disfunções uroginecológicas. Portanto, destaca-se a importância da assistência fisioterapêutica na saúde da mulher durante a gestação, parto e puerpério. OBJETIVO- Relatar a experiência de acadêmicos do curso de Fisioterapia durante observação de atendimentos fisioterapêuticos realizados com uma Gestante de Alto Risco internada no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). MÉTODOS- Os atendimentos foram realizados por alunos matriculados no Estágio Supervisionado do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria e observados por alunos do 4º semestre do mesmo curso durante as aulas práticas da disciplina de Fisioterapia em Saúde da Mulher. As intervenções foram elaboradas com base nas informações contidas no quadro de identificação, prontuário médico, anamnese e avaliações físicas realizadas durante o atendimento. O plano de tratamento foi desenvolvido levando em consideração as principais queixas da paciente e as demandas pós-parto. Desta forma, o objetivo da assistência foi voltado à redução das perdas urinárias aos esforços, cãibras nos membros inferiores (MMII) e alívio da dor lombar. As sessões foram conduzidas a partir de exercícios de fortalecimento de músculos do assoalho pélvico, alongamentos passivos dinâmicos para os músculos de MMII e tronco. Além disso, foram realizadas orientações sobre adequações posturais, importância da realização dos exercícios, além de escuta ativa dos relatos da paciente. RESULTADOS- Paciente, 32 anos, primigesta (Idade Gestacional de 29 semanas e 5 dias), asmática (sem tratamento), com obesidade grau III, relato de atropelamento em 2011 com múltiplas fraturas pélvicas, queda em 2022 com fratura de cóccix, hipertensão arterial não controlada. Negou hábitos de tabagismo e etilismo. No momento do atendimento havia realizado cinco consultas pré-natais nas quais apresentou elevação da pressão arterial (PA). Na última consulta, relatou alterações de PA em quatro dias consecutivos no ambiente domiciliar (variações de PA sistólica entre 140 e 180 mmHg. Associado a esses sinais e sintomas, relatava cefaleia esporádica, com resolução espontânea ou a partir de analgesia simples. Em decorrência do quadro apresentado, no dia 10/04/2024, a paciente foi internada no HUSM para controle pressórico e monitorização da saúde materno-fetal. Durante o período de internação a paciente foi assistida por uma equipe multiprofissional e realizou sessões de fisioterapia. No início do primeiro atendimento fisioterapêutico, a paciente estava acompanhada do marido e referia muita dor em parte posterior de MMII e coluna, além de dificuldade na mudança de decúbito e deambulação. Nesse sentido, foram realizados alongamentos e mobilizações passivas de MMII. Em virtude das alterações sistêmicas relatadas durante a anamnese também foram realizados exercícios respiratórios, treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP). Após o término da sessão a paciente foi orientada a realizar estes exercícios ao menos uma vez ao dia. No segundo atendimento, a paciente referiu que as condutas realizadas na sessão anterior proporcionaram melhora na qualidade do sono e alívio das dores. Também relatou que a realização dos exercícios de alongamento e fortalecimento promoveu melhora dos sintomas. Ainda referiu melhora durante as movimentações diárias e reconheceu a importância da atividade física e do posicionamento adequado para dormir. Neste mesmo atendimento, a conduta baseou-se na execução de exercícios ativos de flexão e extensão de MMII, plantiflexão e alongamentos de cadeia posterior em ortostase, além de manutenção dos exercícios respiratórios e de TMAP. Ao final do atendimento a orientação sobre realização dos exercícios diariamente foi reforçada. Ao final do acompanhamento a paciente relatou diminuição significativa das dores na região lombar e MMII, melhora das câimbras e maior qualidade do sono, em relação aos dias anteriores. Posteriormente, a paciente realizou um exame de ultrassonografia obstétrica que evidenciou restrição do crescimento fetal. Desta forma, recebeu corticoterapia sob prescrição da equipe médica e permaneceu internada, com a finalidade de controlar os valores pressóricos e realizar monitorização materno-fetal. Quando a paciente apresentava idade gestacional de 36 semanas e 6 dias e devido piora do padrão ultrassonográfico, foi encaminhada ao Centro Obstétrico para interrupção da gestação. Durante o trabalho de parto apresentou extração fetal difícil e presença de uma circular de cordão umbilical. A RN sexo feminino foi encaminhada para UTI neonatal e a mãe permaneceu em sala de recuperação anestésica. Após liberação foi encaminhada ao andar de enfermaria obstétrica onde evoluiu em puerpério fisiológico, com estabilidade clínica e hemodinâmica, bons controles pressóricos e recebendo alta da unidade. CONCLUSÃO- Este relato de caso ressalta a importância da presença do fisioterapeuta durante a gestação, visto que torna esse momento menos hesitante para a mulher e proporciona melhora da qualidade de vida. A cinesioterapia associada a outras técnicas, como terapia manual, minimizam os efeitos das alterações sistêmicas no corpo da gestante como a distensão das fibras elásticas da pele que predispõem ao aparecimento de diástase, mudança no padrão respiratório pela elevação do diafragma, mudança do eixo gravitacional devido ao crescimento abdominal e das mamas, que tende a desenvolver, também, alterações no controle postural da gestante, a inativação da musculatura estabilizadora aumentando as chances de instabilidade lombopélvica e levando a desconfortos para andar, sentar, deitar e o aparecimento de dores nas costas. Salienta-se a necessidade de mais hospitais e maternidades que priorizem o atendimento fisioterapêutico, tanto no pré quanto no pós-natal, garantindo benefícios tanto para gestantes e puérperas, assim como para seus bebês.