No contexto mundial, o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é o tipo mais comum, representando mais de 90% dos diagnósticos. É uma doença crônica que leva a diversos efeitos deletérios e incapacitantes, tendo considerável impacto na saúde e qualidade de vida da população. Nesse cenário, o cuidado ofertado pela Atenção Primária à Saúde (APS) é fundamental para a integralidade da assistência às pessoas com esse diagnóstico. Considerada o centro da rede de atenção, atua como organizadora do fluxo dos serviços nas redes de saúde, com ações no contexto individual e coletivo, englobando a promoção, proteção, prevenção de agravos, diagnósticos, tratamentos e reabilitação. Ainda, a pedra angular do manejo do DM2 é promover um estilo de vida que inclua uma dieta saudável, atividade física regular, cessação do tabagismo e manutenção do peso corporal saudável. Essa abordagem requer respostas e ações contínuas, proativas e integradas, do sistema de saúde e dos profissionais, para estabilizar as condições de saúde por meio de um controle efetivo, eficiente e de qualidade. Além das ações não farmacológicas, o tratamento medicamentoso é parte importante do cuidado. Com base no exposto, este estudo objetiva verificar o nível de adesão medicamentosa em usuários com DM2 assistidos pela APS, no interior do Amazonas. Os resultados desse estudo são parte integrante da pesquisa intitulada “Intervenção liderada por Agentes Comunitários de Saúde para manejo do Diabetes Tipo 2 no interior do Amazonas”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, e coordenada pela Prof. Dra. Elisa Brosina de Leon, Edital Startup para o SUS 2022, que se encontra em andamento. Para sua realização, buscamos a aprovação da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), do Coordenador da APS e dos gestores das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Iranduba (AM). Conforme cronograma dessa macro pesquisa, em uma das etapas foi realizado uma capacitação dos ACS acerca do manejo do DM2. Para essa capacitação foi desenvolvido um material didático após entrevistas semiestruturadas que permitiram captar as preferências dos ACS quanto ao formato da capacitação. A escolha recaiu sobre 20 videoaulas e material impresso de apoio, ambos criados em colaboração com os ACS para atender às suas expectativas e às necessidades dos usuários com DM2. Essa capacitação personalizada, considerando as especificidades do contexto amazônico, visa melhorar o cuidado e acompanhamento dos usuários, respeitando as singularidades culturais e sociais da região. Além disso, foi realizada a execução de um teste de usabilidade para a avaliação e melhoria dos materiais elaborados, antes do início da capacitação dos ACS, em meados de fevereiro de 2024. Esse teste visa assegurar que os materiais de treinamento sejam efetivos, acessíveis e adequados às necessidades e ao contexto dos ACS, contribuindo para maximizar o impacto da capacitação e garantir a aplicabilidade prática do conhecimento adquirido no manejo do DM2 entre os comunitários do município de Iranduba (AM). Como critério de inclusão e parte integrante de outra etapa da pesquisa, foram selecionados usuários com diagnóstico de DM2 há pelo menos 6 meses, assistidos pelas UBS do perímetro urbano da cidade de Iranduba (AM). Para seleção representativa dos usuários DM2, foi realizado um cálculo amostral considerando a prevalência de 5,2% de DM2, IC de 99% e margem de erro 10%. Sendo assim obteve-se um total de n= 380. Como outra etapa da pesquisa, acompanhados dos ACS, os pesquisadores realizaram uma visita aos domicílios dos usuários com diagnóstico de DM2, onde lhes foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, após seu aceite pelo usuário, foi aplicado um questionário de dados sociodemográficos (sexo e idade) e o Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (SDSCA) que, dentre os inúmeros questionamentos, traz o seguinte: “Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou seus medicamentos do diabetes, conforme recomendado?” A Adesão medicamentosa foi considerada quando o usuário perdeu no máximo 1 dose de medicação na última semana, ou seja, consideramos os dias 7 e 6 como respostas dos usuários. Coletadas as informações, os dados foram organizados em tabelas no programa Microsoft Office Excel 2016, e utilizado o pacote no SPSS (versão 28.0.1) para as demais análises. Como resultados, participaram do estudo 274 usuários de 6 UBS, sendo 173 mulheres e 101 homens. Apresentaram média da idade de 62 anos e tinham em média 10 anos de diagnóstico de DM2. Além disso, 83,9% usuários relataram tomar a medicação para o diabetes todos os dias, enquanto 1,5% relataram ter perdido somente 1 dose da medicação e 14,6% relataram perdas maiores de duas doses na última semana. Assim, diante de achados de outros estudos, temos que a ausência da adesão medicamentosa para o tratamento do diabetes mellitus pode favorecer o surgimento de complicações na saúde, sendo reconhecido como um fator de controle e proteção aos usuários com DM. Além disso, o controle metabólico e prevenção das complicações do DM2 devem ser realizadas de modo rotineiro, baseadas no autocuidado envolvendo adesão medicamentosa, a alimentação saudável, a prática regular de atividade física e o abandono de maus hábitos de vida. Corroborando com os achados, estudos observaram alta frequência a adesão medicamentosa na amostra estudada, na qual indica sucesso das ações realizadas pelo sistema de saúde e enfatiza que o acesso à medicação é um fator importante nas estratégias de terapia medicamentosa. Portanto, esse estudo verificou adesão medicamentosa elevada na população com DM2 assistida pela APS no município de Iranduba (AM) e, quando associada a combinação de mudanças de comportamento, desempenha um papel crucial para o controle do DM2. Além disso, cabe salientar que a adesão às diferentes dimensões do tratamento requer superação de desafios e reconhecimento de aspectos facilitadores tanto no nível individual quanto nos âmbitos social e do sistema de saúde. Este estudo buscou verificar a adesão medicamentosa em uma amostra de pacientes com DM2, contribuindo para gerar um corpo de evidências que dê suporte ao direcionamento de intervenções voltadas a esse grupo de pacientes. Ainda, essa pesquisa ainda em andamento, está contribuindo significativamente para a formação acadêmica na medida em que prevê a formação 04 novos mestres em áreas relacionadas ao manejo do DM2 e à saúde pública, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCiMH), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).