Vivência Extracurricular na Formação do Enfermeiro em um Pronto-socorro Adulto: Relato de Experiência

  • Author
  • Luiza Silveira de Oliveira
  • Co-authors
  • Fernanda Duarte Siqueira , Jarbas da Silva Ziani , Laís Mara Caetano da Silva Corcini , Mariângela Herzog
  • Abstract
  • O curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem duração de 10 semestres e conta com disciplinas teórico-práticas. As aulas e estágios obrigatórios ocorrem em unidades vinculadas ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e na Atenção Primária à Saúde do município de Santa Maria.

    Com o intuito de oportunizar vivências aos acadêmicos de enfermagem para desenvolvimento de competências técnico-científicas, ético-políticas e sócio-educativas, surgiu o Programa Extensionista de Formação Complementar em Enfermagem (PROEFCEN). Dessa forma, além de propiciar espaços de trocas de experiências, o programa estimula a produção de trabalhos científicos a partir das vivências no campo de práticas e saberes.

    Em decorrência da carga horária limitada de atividades práticas e a quantidade de estudantes em campo prático durante a graduação, o estágio extracurricular surge como uma oportunidade para aprimorar o desenvolvimento teórico, prático e profissional. Ainda, favorece a comunicação, o trabalho em equipe, criação de vínculos com os profissionais da equipe multidisciplinar e configura-se como uma ferramenta importante para sanar lacunas no processo de aprendizado. Desse modo, as práticas extracurriculares potencializam a integração ensino-serviço-comunidade, haja vista que os discentes tornam-se agentes ativos desde o processo de formação. 

    No contexto do pronto-socorro (PS), o enfermeiro exerce a função de integrador, orientador e articulador da equipe multiprofissional, estabelecendo contato com o próprio setor e com outras unidades como centro cirúrgico, nefrologia, oncologia, etc. Dessa forma, desenvolver habilidades práticas e exercer raciocínio crítico exige respaldo em protocolos e conhecimento técnico-científico. 

    A fim de prestar a melhor assistência ao usuário, é necessário associar a prática à fundamentação teórica para avaliar e reconhecer os sinais, sintomas e os agravos em saúde, atuando de forma comprometida com a qualidade do atendimento. No serviço de emergência, o enfermeiro deve, além de estabilizar as vítimas, assumir os cuidados integrais, reavaliando e prestando assistência de forma sistematizada. Nesse sentido, é importante que os graduandos busquem práticas além da grade curricular obrigatória, haja vista que a atuação do enfermeiro é ampla e requer competência para a tomada de decisões.

    Dessa maneira, de acordo com o estudo de Leal et al., 2022, realizado em uma Instituição de Ensino Superior, no interior de São Paulo, os estágios em campo com supervisão ativa de um enfermeiro se tornam um facilitador para melhorar o desempenho durante a graduação. Assim, ressalta-se que os profissionais vão para o mercado de trabalho mais preparados e seguros, capazes de lidar com situações adversas e tomar decisões assertivas em momentos críticos.

    Nesse contexto, a unidade de Unidade de Urgência e Emergência (UUE) configura-se como um cenário vasto para a aprendizagem, dado a quantidade e a pluralidade de atendimentos. Sob essa perspectiva, proporciona o desenvolvimento de um olhar crítico e resolutivo acerca das condições de saúde da população, uma vez que presta serviços de diferentes graus de complexidade. Ademais, possibilita o conhecimento da rotina da equipe e a realização de procedimentos de enfermagem.

    Desse modo, a vivência na UUE justifica-se pelo interesse em conhecer a dinâmica do serviço e a oportunidade de desenvolver raciocínio clínico em situações que exigem conhecimento teórico e científico de forma ágil. Além disso, aplicar na prática clínica os conhecimentos teóricos, a necessidade de aprimorar habilidades técnicas e poder vivenciar os desafios enfrentados no ambiente hospitalar. Assim, objetiva-se relatar a experiência vivenciada de uma acadêmica de enfermagem em uma Unidade de Urgência e Emergência Adulto de um Hospital Universitário da Região Sul do Brasil.

    Trata-se de um relato de experiência acerca da vivência prática extracurricular de uma acadêmica do 7º semestre do curso de graduação em enfermagem da UFSM na UUE adulto. As atividades ocorreram ao longo dos meses de janeiro e fevereiro de 2024, no período matutino ou vespertino, com carga horária diária de seis horas, conforme escala da enfermeira responsável, totalizando 80 horas.

    O PS adulto é dividido em sala de emergência (SE), corredor para macas (CM) e salão de internação (SI). Na SE, atuam em cada turno um enfermeiro e dois técnicos em enfermagem, sem número pré-estabelecido de leitos. O SI é composto por 23 leitos, sendo três deles reservados para isolamento, com uma equipe de dois enfermeiros e quatro técnicos em enfermagem por turno. Em relação ao CM, é destinado às pessoas que necessitam de internação quando não há leitos disponíveis, com equipe composta por um enfermeiro e dois técnicos. Ainda, o enfermeiro atuante no CM é responsável pela classificação de risco de  pacientes encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Sistema de Regulação de Internações dos Hospitalares do Estado (GERINT) e pela Central de Regulação do Estado, por meio do Vaga zero. 

    Para o desenvolvimento das atividades práticas, foi construído um plano de propostas, previamente aprovado pela professora responsável, com base nas competências exigidas no semestre em que a acadêmica se encontrava, sendo supervisionada pela enfermeira responsável.

    As atividades práticas realizadas incluíram a assistência direta, com diversos casos clínicos, cirúrgicos e traumáticos. As ações desenvolvidas tiveram o intuito de adquirir competências necessárias e complementares ao curso de graduação em enfermagem, com o objetivo de explorar as ações teórico-práticas ofertadas pela instituição de ensino. Assim, foram acompanhadas as passagens de plantão e as visitas diárias no início do turno, voltadas à avaliação do estado clínico de saúde. Com isso, foram desenvolvidas habilidades de comunicação ao interagir com os usuários e acompanhantes em momentos delicados, buscando oferecer conforto e segurança. Além disso, foi aprimorado o raciocínio clínico, habilidade instigada diariamente pela enfermeira.

    Dentre as práticas realizadas, destacam-se o histórico, evolução e prescrição de enfermagem, ação privativa do enfermeiro, a aplicação de escalas de Braden, Morse e Frail, além do sistema de classificação, ampliando o olhar para o risco de desenvolver lesões por pressão, risco de queda, fragilidade do indivíduo e como forma de determinar o grau de dependência do paciente em relação à equipe de enfermagem. Foi possível realizar o encaminhamento intra e extra hospitalar de pacientes ou para exames, bem como auxiliar no gerenciamento de leitos. Foram realizadas atividades em relação à gestão dos recursos, como conferência do carro de emergência, desfibrilador e temperatura de geladeiras com medicações e coberturas. Ainda, foram realizados procedimentos inerentes ao trabalho do profissional enfermeiro e eletrocardiogramas para a compreensão dos casos clínicos e patologias.

    Sob esse aspecto, foi possível vivenciar a complexidade e a dinâmica do ambiente de UUE adulto, trabalhando em equipe multiprofissional, de forma colaborativa e dividindo tarefas nas atividades diárias. Tal experiência subsidiará uma melhor atuação nos semestres seguintes do curso e como futura enfermeira. Portanto, a vivência extracurricular em uma UUE adulto promoveu impactos positivos na motivação e no engajamento com a profissão. Essa imersão na prática clínica fortaleceu a identidade profissional e contribuiu para uma formação sólida. Desse modo, foi possível compreender melhor o funcionamento do processo de trabalho do local, e como as políticas de saúde pública e os protocolos de atendimento funcionam, contribuindo para uma formação crítica e reflexiva.

     

  • Keywords
  • Enfermagem, Formação Acadêmica, Pronto-socorro
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
Back