A produção do cuidado em saúde com os povos indígenas está intrinsicamente relacionado ao respeito e garantia dos seus modos de vida. No campo da nutrição o tom da conversa faz mais sentido quando o tema é a soberania alimentar, pois para a garantia da alimentação saudável dos povos originários é preciso a floresta em pé, águas limpas e políticas públicas para a redução do acesso aos produtos ultraprocessados, cada dia mais presentes nos territórios. O objetivo deste trabalho é compartilhas as experiências das oficinas de alimentação tradicional realizadas pelas equipes multiprofissionais de saúde indígena do DSEI Alto Rio Solimões.
As oficinas de fortalecimento da alimentação tradicional indígena fazem parte do cotidiano do trabalho e são espaços essencialmente de educação permanente. Oficinas nas quais população e equipe reúnem diversos alimentos regionais e abordam sobre seus aspectos nutricionais, modos de preparo, restrições dietéticas culturais de acordo com a fase da vida e após a roda de conversa a partilha dos alimentos. As oficinas funcionam como estratégias de educação em saúde e para os profissionais funciona também como espaço de educação permanente, pois a equipe também aprende sobre a cultura alimentar e tem a possibilidade de conhecer sabores novos como da fruta moela de mutum, pé de jaboti, sova.
Entretanto observa-se que nas comunidades distantes das cidades a variedade de frutas do mato/floresta é maior, enquanto nas comunidades próximas aos municípios há maior dificuldade de acesso aos alimentos in natura, impactanto principalmente no paladar e aceitação das crianças que preferem consumir café com biscoito ao invés do mingau de banana, mesmo quando este está disponível.
Embora os desafios sejam diversos, os principais resultados dessas experiências são a produção de vínculo com a comunidade através de um espaço de compartilhamento da alimentos e o ato de comer junto, o aprendizado pelos profissionais de saúde que estendem-se para os atendimentos individuais e coletivos tais como podemos observar nas cenas abaixo:
Após esse aprendizado na oficina, durante as visitas domiciliares às puérperas, observa-se que geralmente estão consumindo caldo de peixe com escama, na maioria das vezes, a sardinha.
Portanto, manter e fortalecer as oficinas de alimentação tradicional indígena, através de um diálogo na qual o processo de ensino aprendizagem ocorre mutuamente entre educador e educando, tende a qualificar a equipe de saúde para um olhar mais integral sobre os modos de vida dos povos indígenas.