Na atualidade a atenção domiciliar configura-se como um dos mais novos elementos do processo de inovação e reestruturação do cuidado em saúde de base territorial e comunitária na Rede de Atenção a Saúde do Sistema Único de Saúde. Origina-se na assistência e cuidados em saúde nas residências dos usuários, propondo alternativas para reduzir o tempo das internações hospitalares, possibilidades de infecções, agravos, ou reinternações hospitalares. Considerando a Portaria nº 1.600/GM/MS, de 7 de julho de 2011 que reestrutura a Política Nacional de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde e introduz a Atenção Domiciliar como um de seus componentes em modalidade de atendimento. Pode-se dizer que o atendimento em domicílio, portanto, apresentou-se inicialmente como uma alternativa para evitar ou diminuir seu custo tanto para a família quanto para o Estado, e nos casos de saúde mental, reintegrar a pessoa o mais rapidamente possível à vida cotidiana e melhorar suas condições psicológicas, sendo hoje um elo fundamental capaz de desenvolver estratégias estruturantes de matriciamento em saúde. Os três níveis da atenção domiciliar diferenciam-se quanto a sua complexidade, em: atenção domiciliar de menor complexidade (AD1) que é realizada pela Atenção Primaria a Saúde como grande “ordenadora do cuidado” pela Estratégia Saúde da Família e na realidade belenense, pela iniciativa do Programa Família Mais Saudável, na expansão da Atenção Primaria a Saúde. Os níveis da atenção domiciliar de media complexidade (AD2) e de Alta Complexidade (AD3) são gerenciadas pelo Programa Melhor em Casa, configura-se como um serviço substitutivo, ou complementar, à internação hospitalar ou ao atendimento ambulatorial, responsável pelo gerenciamento e operacionalização das Equipe Multiprofissionais de Atenção Domiciliar, e Equipes Multiprofissionais de Apoio, na nossa realidade do município de belém, compostas por enfermeiro, médico, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista e assistente social. Nesse contexto surge o papel do cuidador pessoa com ou sem vínculo familiar com o usuário, capacitada para auxiliá-lo em suas necessidades e atividades diárias, sendo um ator singular na construção dos planos de cuidado. No município de Belém-Pará, o Programa Melhor em Casa iniciou em 2015 seu funcionamento na gestão da Fisioterapeuta e Educadora em Saúde Karen Tavares, com duas equipes cobrindo dois distritos administrativos do município de Belém-PA. O perfil de usuários no nosso território é diverso, destacando a atenção especializada em agravos e condições como: cuidados paliativos oncológicos e não oncológicos, patologias neurodegenerativas, cuidados em feridas complexas, múltiplas sequelas de Acidente Vascular Encefálico e doenças pulmonares crônicas. A partir das Buscas Ativas das Equipes de Atenção Domiciliar nos hospitais, pronto socorros e unidades de pronto atendimento, a demanda pelo cuidados no domicilio aumentaram, possibilitando a expansão de mais sete novas equipes para atuar no território E por falar em território, na região amazónica o nosso "fazer saúde” no território é estruturado em linhas de cuidado que abrangem populações residentes nas ilhas que integram os distritos de Belém, ou mesmo, de usuários que habitam as palafitas e/ou periferias. Descrição da experiência: É nessa rede rizomática de atenção a saúde, que traz consigo suas complexidades e desafios durante o enfrentamento da Pandemia da COVID-19, que em 2020 a Câmara Técnica de Humanização das Urgências da rede Municipal de Saúde inicia suas atividades, geridas por Karen tavares no cargo de referencia técnica de humanização municipal e o psicólogo Guilherme Martins como referencia técnica estadual da Rede de Atenção das Urgências e Emergências no Pará, que começam a promover diversas práticas de humanização nos processos de trabalho e nas estruturas das organizações de saúde locais, por meio de projetos de formações voltadas a educação permanente em saúde dos profissionais da rede e das comunidades, fomentando criações de grupos de trabalhos, comitês e setores de humanização nos serviços de urgências que elaboraram planos de ação voltados ao desenvolvimento das diretrizes de humanização do SUS. Mais recentemente, ainda como resultados destas contribuições, dentro do rol do plano de ação realizado pelo serviço de atenção domiciliar na região metropolitana de Belém, criado o projeto “Redes de Atenção à Saúde – Gestão, Planejamento e Tecnologias de Cuidados Intermediários à Saúde”. O projeto surge partir dos desafios de profissionais e redes de saúde no manejo de cuidado as doenças crônicas não-transmissíveis, junto às redes de saúde. O cuidado intermediário em saúde encontra-se na lacuna entre a atenção primária à saúde e a hospitalar, com a finalidade de ofertar cuidados em saúde para usuários em condições cronicas, apresentando sintomas de agudização ou em estado semi-agudo, apresentando baixos níveis de autonomia, necessitando de períodos de reabilitação para retomar sua autonomia e reinserção na vida cotidiana. O projeto articula esferas do conselho municipal de saúde, secretaria de saúde, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal Fluminense e Centro Universitário do Estado do Pará para compartilharem experiências sobre as organizações, seus processos de trabalho e articulação em rede. Além de uma atualização dos profissionais participantes das atividades, possibilitando o fortalecimento e organização dos processos de trabalho nas redes de atenção à saúde, com características locais, a fim de ampliar as ferramentas, elementos e estratégias de cuidado nas principais situações de demandas de saúde das populações nos contextos das redes locais de saúde. Como encaminhamentos resultantes deste projeto, a temática do cuidado a saúde mental do trabalhador, especificadamente no seu processo de trabalho, instigou debates sobre como realizar prevenção ou mesmo promoção de cuidado dentro das organizações. Resultados: Foram realizadas as oficinas com cada equipe multiprofissional de atenção domiciliar. Iniciaram-se com a temática da subjetividade e micropolítica, aproximando as noções territoriais, históricas, sociais e afetivas do processo de subjetivação no cuidado à saúde, expressando como o modo de “fazer saúde” tem impacto nos processos de trabalho e no encontro com o usuário. Posteriormente foi aberto para o diálogo com a pergunta disparadora “Ontem, no trabalho, o que vocês fizeram de ações que considerariam “dispensável?” e por quê?”. As demandas que se sobressaltaram após foram: mecanismos de cooperação, reconhecimento, sofrimento, mobilização da inteligência, vontade e motivação e estratégias defensivas que se desenvolvem e se estabelecem a partir das situações de trabalho. apresentando desafios como logística, insegurança e a fragmentação da rede de atenção a saúde, a partir das experiências que atravessam o cotidiano. Assim, as próprias oficinas são vistas como tecnologias de cuidados em saúde, provocando o olhar dos trabalhadores como fabricante do seu “agir” e dos processos relacionais. Em concomitante, associamos as oficinas de trabalho no plano de ações do comitê de humanização do serviço de atenção domiciliar, Denominado Karen Tavares, que consiste em uma homenagem póstuma, ao reconhecer o legado e contribuições essenciais como trabalhadora do SUS, educadora popular em saúde, artista amazónica e propulsora do serviço de atenção domiciliar e cuidados intermediários do município de Belém-Pa, tendo a sua partida precoce e inesperada ocorrida durante o desenho e estruturação do comitê. Considerações finais: Durante os encontros, os grupos foram compostos por enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogas, medicas, técnicos administrativos, gestores e motoristas, membros das equipes multidisciplinares de atenção domiciliar de cada distrito administrativo da zona metropolitana e a coordenação do Programa Melhor em Casa. Os desafios mantiveram-se na logística em reunir os trabalhadores das equipes nas bases, sendo assim, organizamos uma série de oficinas de trabalho quinzenais com duração de seis meses no rol de ações do GT para efetivar as oficinas itinerantes.