INTRODUÇÃO: Ao deparar-se com a exaustão dos recursos voltados para a cura, é comum pensar que não há mais nada a fazer. No entanto, na realidade, uma ampla variedade de abordagens pode ser oferecida tanto ao paciente quanto aos seus familiares, com o objetivo de proporcionar conforto, alívio da dor e apoio para enfrentar o fim da vida. Essa prática caracteriza os Cuidados Paliativos (CP), que foram definidos pela OMS (2017) como uma abordagem assistencial realizada por uma equipe multiprofissional. O objetivo dos Cuidados Paliativos é promover a qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam alguma doença que ameaça a vida. Isso é feito através da avaliação precoce e controle de sintomas físicos, sociais, emocionais e espirituais durante o período do diagnóstico, adoecimento, finitude e luto. Conforme o Manual de Cuidados Paliativos, à medida que a doença avança e o tratamento curativo se torna menos eficaz, os Cuidados Paliativos assumem maior importância, alcançando seu ponto máximo na fase em que a incurabilidade se torna uma realidade irreversível, culminando em morte iminente. Assim, para garantir um cuidado digno e de qualidade, é fundamental que os profissionais de saúde, especialmente aqueles diretamente envolvidos no atendimento a pacientes em estágio terminal, compreendam, reflitam e questionem o processo de transição da vida para a morte. Essa experiência existencial e singular na vida humana requer capacitação para fornecer todos os Cuidados Paliativos adequados. Esse estudo tem por objetivo analisar a percepção de profissionais de saúde sobre a oferta de cuidados paliativos para pacientes em fim de vida e ou terminalidade.
METODOLOGIA: Este é um estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, conduzido com profissionais de saúde que trabalham diretamente no cuidado de pacientes em um hospital público/estadual. O objetivo é analisar o conhecimento desses profissionais sobre a oferta de cuidados paliativos para pacientes com doença em fase terminal. Os critérios de inclusão do estudo envolveram profissionais da saúde que trabalham diretamente no cuidado de pacientes em enfermarias de cuidados paliativos, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem. Esses profissionais concordaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão foram profissionais da saúde de qualquer categoria que fossem especialistas em cuidados paliativos, além de profissionais ausentes por motivos de férias ou licença no momento da coleta. Os profissionais de saúde que concordaram em participar responderam a uma entrevista semiestruturada com perguntas subjetivas. Essa entrevista foi conduzida em um ambiente apropriado para o participante, seja em seu local de trabalho ou por meio de tecnologia remota usando ferramentas como Google Meet, Teams ou Zoom. O grupo incluiu aproximadamente 17 profissionais. Os pesquisadores não interferiram nas respostas dos participantes, que foram gravadas e posteriormente transcritas integralmente. Essa transcrição serviu para avaliar o conhecimento desses profissionais sobre a oferta de cuidados paliativos para pacientes em fase terminal, bem como para avaliar os critérios de validade de conteúdo, clareza dos itens, abrangência e pertinência do material. A organização dos dados qualitativos obtidos nas entrevistas foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo, seguindo a visão de Bardin (2011), com o objetivo de reconhecer o que está por trás das palavras dos entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Este estudo se trata de um recorte do trabalho “Além de Nutrir: Alimentar”, realizado pelos mesmos autores. Participaram do estudo 17 profissionais, incluindo 10 técnicos de enfermagem, 3 enfermeiros, 3 fisioterapeutas e 1 médico. Eles têm idades variando entre 22 e 56 anos, são de ambos os gêneros e possuem experiência hospitalar na faixa de 1 a 26 anos, e em cuidados paliativos que varia de 0 a 10 anos. Segundo os resultados apresentados, pode-se destacar a percepção dos profissionais sobre o conforto ser prioridade para pacientes com doença em fase terminal. No entanto, observa-se um baixo nível de conhecimento entre os profissionais de saúde em relação aos cuidados paliativos em geral, especialmente entre os técnicos de enfermagem que estão mais envolvidos nos cuidados básicos. A maioria dos entrevistados relatou já terem testemunhado momentos de sofrimento e angústia por parte dos pacientes ou de seus familiares/cuidadores durante a internação hospitalar. Percebe-se também que, apesar de os profissionais entrevistados estarem familiarizados com o termo ‘cuidados paliativos’, nota-se que a maioria ainda mantém a ideia equivocada de que esses cuidados devem ser ofertados apenas a pacientes em estágio terminal da doença. Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017, os cuidados paliativos devem ser oferecidos a todos os pacientes e seus familiares que enfrentam uma doença ameaçadora da vida, independentemente de ser aguda ou crônica, com ou sem possibilidade de cura. No entanto, o baixo nível de conhecimento dos profissionais de saúde sobre cuidados paliativos, como evidenciado neste estudo, pode resultar em mais angústia e sofrimento para os pacientes e seus familiares ou cuidadores durante a internação hospitalar. Diante dessa situação, a maioria dos profissionais afirmou que a melhor abordagem para lidar com esses sintomas é através do diálogo e da explicação. Portanto, para garantir uma comunicação eficaz entre a equipe médica e o paciente/familiar, é fundamental que os profissionais tenham conhecimento sólido em cuidados paliativos. Dessa forma, eles poderão acolher as dúvidas e fornecer as orientações necessárias, contribuindo para a redução do sofrimento e da angústia. A falta de qualificação dos profissionais que atuam em cuidados paliativos, especialmente os técnicos de enfermagem, pode prejudicar o entendimento desses profissionais sobre o assunto. Isso é relevante, considerando que os técnicos compõem a maior parte da equipe de enfermagem e têm contato direto com pacientes, familiares e cuidadores. Portanto, um profissional bem preparado é capaz de oferecer assistência humanizada, de qualidade e que verdadeiramente proporcione o conforto necessário aos pacientes em cuidados paliativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Analisando as falas, fica evidente a discrepância nas respostas entre profissionais de diferentes níveis de escolaridade sobre a oferta de cuidados paliativos para pacientes com doença em fase terminal. A capacitação dos profissionais de saúde é crucial para atender adequadamente esses pacientes, e isso requer investimento em educação continuada e permanente. Além disso, seria fundamental incluir a temática dos cuidados paliativos nos currículos de cursos técnicos e superiores. Ainda, é essencial reforçar políticas públicas que priorizem os cuidados paliativos, reconhecendo que os profissionais de saúde desempenham um papel vital nesse momento tão sensível.