POR UMA FARMÁCIA DECOLONIAL: A EXPERIÊNCIA DE UM FARMACÊUTICO COM A ESTRATÉGIA DA GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO

  • Author
  • Vitor Igor Fernandes Ramos
  • Co-authors
  • Károl Veiga Cabral
  • Abstract
  •  

    APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS: O uso de métodos para sanar doenças físicas e/ou psicossociais é decorrente de experiências realizadas há muitos séculos pelos seres humanos, sendo o medicamento químico ou fitoterápico a droga utilizada mais abundantemente. Com o decorrer da industrialização e capitalização de corpos para se tornar “aptos” ao uso de medicamentos, observou-se o adoecimento da população em decorrência da medicamentalização. O objetivo deste relato é compartilhar a experiência do autor/farmacêutico com a estratégia Gestão Autônoma de Medicamentos em um dos dispositivos da rede de saúde mental da Cidade de Belém do Pará, buscando construir uma atuação decolonial na farmácia. MÉTODO: O método do tipo qualitativo de pesquisa intervenção, com abordagem subjetiva contribuirá para a escritura deste trabalho, na qual, apresenta o autor, que também é servidor, do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD), sendo o único CAPS tipo II da Região Metropolitana de Belém. O autor/farmacêutico realiza grupos com usuários e usuárias do serviço desde 2022 e contribui para a contratualização sobre uso de medicamentos e discussão sobre drogas, autonomia e cuidado em liberdade, através de rodas de conversa semanais. RESULTADOS: A Gestão Autônoma da Medicação surgiu em uma província de um país que possui um dos mais altos índices de desenvolvimento humano e econômico, com sua localização especificada na América do Norte. É no Canadá, no território do Quebec, que pela luta social e movimento coletivo de usuários/as da saúde mental que a construção da Gestão Autônoma da Medicação vai se iniciar. Mesmo o Canadá considerado um “país de primeiro mundo”, sua constituição de saúde ainda era manicomial: para a saúde mental, quem fosse diagnosticado com a loucura, deveria ser internado em um manicômio até que essa infâmia se despejasse de seu corpo. Manicômios são instituições que em sua formação carecem de direitos humanos e são construídos para isolar, cercear, ilegalizar e vigiar quem foge da normalidade do cidadão de bem: o louco. Devido à perpetuação do manicômio como um local para se “tratar” a saúde mental, usuários/as se organizaram coletivamente e construíram um Guia que fosse norteador para suas participações em seus tratamentos medicamentosos: a) quais medicamentos eu estou tomando?; b) por que devo usar essas medicações?; c) que efeitos essas medicações apareceriam em meu corpo? Os grupos que ocorrem no CAPS AD com a participação de usuários/as é para concretizar o direito a fala e a discussão sobre o uso de medicamentos, considerando a particularidade de cada sujeito em seu modo social e de vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O farmacêutico deve sempre estar em busca de novos conhecimentos para sua atuação profissional. Legalizar o conceito de farmácia decolonial é afirmar que mesmo que sejamos verticalizados por um cuidado biomédico e medicalizante, é possível, através de novas alternativas de cuidado, formar e (des)formar diariamente, com debates que relacionem o uso da medicação com marcadores sociais como raça, gênero, classe e território. A Gestão Autônoma da Medicação permite que sejamos transversalizados em um cuidado que deve ser antimanicomial, antiproibicionista, antirracista, feminista e, sobretudo, decolonial.

     

  • Keywords
  • CAPS AD, DECOLONIALIDADE, FARMÁCIA DECOLONIAL, GESTÃO AUTONOMA DA MEDICAÇÃO.
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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