APRESENTAÇÃO: Esta pesquisa apresenta o desenvolvimento de um estudo que pretende analisar e compreender o sofrimento psíquico dos profissionais inscritos em programas de Residência em Saúde durante o processo de formação. OBJETIVO: Este estudo pretendeu evidenciar, analisar e compreender o sofrimento psíquico dos profissionais inscritos em residências em saúde, durante o percurso de sua formação. DESENVOLVIMENTO: A Resolução da Comissão Nacional de Residências Médicas Nº 2, de 13 de abril de 2012, estabeleceu que os Programas de Residências em Saúde seriam responsáveis pela especialização dos diversos profissionais que atuam neste campo, constituindo-se como cursos de pós-graduação “latu sensu”, com imersão dos alunos em serviços de saúde, treinamento intensivo; ou seja, em regime de dedicação exclusiva, sessenta horas semanais, por no mínimo dois anos. A Lei 6.932, de 7 de julho de 1981, que estabeleceu a responsabilidade por estes cursos, destaca que estes podem estar ao cargo de instituições de saúde universitárias ou não, desde que a supervisão e a preceptoria sejam sempre efetivadas por profissionais de elevada qualificação ética e profissional. Atualmente, os programas de Residências Médicas, Multiprofissionais e Uniprofissionais da saúde são reconhecidos como integrantes desta modalidade de pós-graduação, sendo reconhecidos como padrão ouro na formação dos profissionais desta área. No entanto, vem sendo demonstrado que algumas práticas podem comprometer um aprendizado saudável e, desde os anos 1980, surgiram propostas de mudança na formação destes profissionais. A partir das recomendações do movimento pela reforma sanitária, a Constituição federal de 1988 criou o Sistema Único de Saúde (SUS) e estabeleceu que seria de sua competência ordenar a formação dos profissionais de saúde. Assim, o Ministério da Saúde criou a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, em 2003, além de constituir-se como principal formulador da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, em 2004, integrando-se com o Ministério da Educação, entre outros órgãos da esfera pública. A política de educação permanente em saúde foi um passo estratégico fundamental para a qualificação profissional e das práticas de saúde, orientando a formação e/ou reorientação profissional, no sentido de uma mudança do paradigma assistencial, com uma perspectiva de saúde ampliada, determinação social do processo saúde-doença, integralidade do cuidado, e intersetorialidade. MÉTODO: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de natureza exploratória quanto ao delineamento. Para a identificação dos estudos relevantes, foram consultados os bancos de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), System Online (MEDLINE); Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) bem como, do MINISTÉRIO DA SAÚDE. Além disso, foram definidos critérios de inclusão e exclusão para compor a amostra. RESULTADOS: Para a análise dos resultados e síntese dos artigos, foi confeccionado um quadro sinóptico, para expor os achados, constituindo um banco de dados único, com o objetivo de facilitar a gerência das informações encontradas. Foram desenvolvidos alguns quadros e gráficos que foram fundamentais para catalogar os resultados alcançados na análise dos textos, respondendo às questões norteadoras presentes nos objetivos geral e específicos do referido estudo. As publicações revelaram aspectos importantes, relacionados aos objetivos estabelecidos para esta revisão. Entre os principais achados presentes na literatura selecionada está à associação entre o comprometimento da qualidade de vida dos residentes e a alta carga horária exigida pelos programas de residências. Além disso, autores como Moreira et al (2023),Araújo et al (2019) e Rocha et al (2018), ressaltam que as cargas horárias excessivas levam a restrições para o descanso, o sono, o lazer e a vida em família. Além disso, estes alunos/profissionais frequentemente realizam outras atividades profissionais simultaneamente às suas responsabilidades com a residência, o que contribui para a deterioração da sua qualidade de vida. Os estudos de Macedo et al, (2018) evidenciaram a associação entre qualidade de vida e sofrimento psíquico que, quando intenso e contínuo, pode constituir um fator de risco para o surgimento de transtornos mentais, além de outros problemas de saúde de natureza orgânica, que podem favorecer a dificuldades no exercício de suas práticas assistenciais. Araújo et al (2019) também destacam a importância da mudança de hábitos de vida durante a residência que, em geral é naturalizada como um sinal de dedicação ao curso, uma adaptação às exigências da profissão, com o intuito de ampliar a produtividade, mas que se revela um efeito paradoxal a longo prazo. O autor destaca que, na verdade, estas mudanças bruscas levam à desmotivação, problemas de saúde e de sofrimento psíquico e, como consequência, queda da qualidade de vida e da produtividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O estudo demonstra dado e informações relevantes e significativas que ratificam evidências empíricas sobre a constituição e o funcionamento dos programas de residências em saúde no Brasil. Nestes termos, a pesquisa partiu do cotejamento das informações e situações encontradas na literatura selecionada e que apontam como o sofrimento psíquico se manifesta entre os profissionais de saúde inscritos em cursos de residência na área da saúde (médicas, multiprofissionais e outras) e ressaltam sua evidência através de alguns indicadores que o associam ao contexto da formação. Assim, nos artigos publicados pelos periódicos presentes em bases de dados nacionais e internacionais fidedignas que selecionamos, a maioria dos autores identificou pelo menos uma manifestação de sofrimento psíquico ou de sintomas psiquiátricos frequentes nos residentes em saúde como: sobrecarga de trabalho, estresse, insônia, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, fadiga, ideação suicida, queixas somáticas, sintomas depressivos e síndrome de burnout. A carga horária elevada e o trabalho exaustivo surgiram de forma transversal em vários estudos como fatores de deterioração da qualidade de vida que contribuem para o surgimento ou agravação de algum tipo de sofrimento psíquico durante o processo formativo. Como pesquisadora e profissional que atua na área afirma que superei minhas expectativas ao ler e refletir sobre os dados evidenciados pelos artigos selecionados para compor a amostra. Minhas hipóteses oriundas inicialmente do conhecimento empírico foram em grande parte confirmadas. Senti falta de algumas situações que pude testemunhar por diversas vezes durante a minha trajetória profissional e que dizem respeito à condução e gestão técnico-administrativa dos programas. Nestes casos observei que era institucionalizado um monopólio de formação em redutos interligados a mercados de trabalho em troca da permanência de modelo de formação sem êxito técnico, científico e humano. Descumprimento da legislação, utilizando o residente como mão de obra para tocar serviço sem supervisão de preceptores, assédios, falta de preparo das instituições proponente e executoras de programas, falta de representação do residente nas comissões que conduzem a formação. Acredito que o diferencial de aprendizagem de excelência nesse tipo de educação continuada também se deve à oportunidade de poder aprender na vida concreta, no âmbito dos serviços de saúde, com uma possibilidade de maior imersão e frequência do que geralmente é proporcionado. Talvez, o devido cumprimento das diretrizes legais que o programa estabelece fosse um elo amortecedor dos agravos sofridos, além da forma de condução da gestão e da adequação dos serviços que vão ofertar as práticas. Essa revisão integrativa da literatura aponta dados em consonância com a realidade, o que torna necessário um olhar especial. Assim, esta pesquisa busca subsidiar as instituições formadoras, os programas de residência e os serviços de saúde para que tomem as medidas necessárias no sentido de melhorar a qualidade de vida e reduzir o sofrimento psíquico destes profissionais em processo de formativo