Apresentação: Atualmente, temas como a curricularização da extensão em universidades vem ganhando relevância no âmbito institucional, juntamente com a publicação da lei n° 13.005 de 2014, que visou a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) pelo Ministério da Educação. Este PNE tem como objetivo estabelecer, no prazo 2014-2024, 21 estratégias para a educação brasileira, dentre as quais se destaca a meta 12,7, que trata sobre a regulamentação de ações de envolvimento social promovidas pelas instituições de ensino superior (IES). Embora as atividades de extensão se façam necessárias, tanto para a formação discente quanto para a sociedade, estas práticas precisam ter um enfoque muito bem definido, pois não devem transpassar as obrigações do Estado. Sendo assim, estas devem estar centralizadas em promover transformação social, levando para a sociedade novos conhecimentos e inovações produzidas pelas IES. Ao fazer isso, as práticas de extensão não apenas enriquecem a formação dos acadêmicos, mas também contribuem significativamente para o progresso e desenvolvimento da sociedade como um todo. Além de levar conhecimentos atuais para fora da comunidade acadêmica, é igualmente importante garantir que os discentes envolvidos na prática compreendam o propósito da extensão. Isso permite que assumam protagonismo e faz com que a prática seja experimentada de forma a extrapolar a simples obrigação curricular. Com a crescente importância dada à extensão nos currículos acadêmicos, especialmente com sua curricularização, surgem questões significativas que demandam reflexão, uma vez que representa uma necessidade recente e que faz com que as instituições passem por uma importante reformulação em sua abordagem educacional. Diante disso, surge o questionamento em relação a implementação da curricularização nas instituições, visando entender se alguma delas já a adotou e, em caso afirmativo, como tem sido essa implementação. Além disso, também se questiona sobre quais são as atividades desenvolvidas pelas IES que já adotaram a curricularização. Nessa perspectiva, sabe-se que em relação aos cursos da área da saúde, é intrínseca a aproximação com a comunidade externa a partir de práticas que envolvem educação em saúde. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo relatar uma atividade de extensão realizada por alunos do curso de enfermagem de uma universidade da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Nesta ocasião, os discentes realizaram uma atividade sobre a dengue em escolas da região, sendo todas da rede pública municipal e estadual. Além disso, este trabalho também visa expor a opinião dos discentes acerca da prática, para compreender os aspectos positivos e desafios enfrentados durante a realização da extensão. Ao fazer isso, espera-se contribuir para uma reflexão sobre a importância e o impacto dessas atividades universitárias na promoção da saúde pública e na formação dos estudantes. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, fruto de uma atividade extensionista realizada na disciplina de Microbiologia Clínica do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões. Para a realização desta atividade, os acadêmicos receberam treinamento, participaram de seminários, elaboraram projetos e leram artigos sobre a prevenção da dengue, seus sintomas, contágio e o ciclo de vida do mosquito transmissor. Também foram orientados sobre a construção de armadilhas para auxiliar no controle da densidade populacional de Aedes aegypti. Em seguida, conduziram oficinas em cinco escolas da região, atendendo desde a pré-escola até o 9° ano do ensino fundamental. Por fim, os discentes responderam a um questionário que visou avaliar a experiência de extensão. Resultados: Em termos de abrangência da prática, esta alcançou aproximadamente 800 pessoas diretamente, correspondendo ao número de alunos que participaram das oficinas. Indiretamente, estima-se que cerca de 4000 indivíduos foram alcançados, através das plataformas Instagram e Youtube. Ademais, considerando que as crianças, ao aprenderem sobre algo novo e interessante, tendem a compartilhar o conhecimento com seus familiares, é plausível supor que o impacto da prática foi ainda maior. Ao serem questionados sobre a importância do tema "prevenção da dengue" como uma atividade de extensão, os acadêmicos enfatizaram a necessidade do cuidado coletivo para reverter o cenário preocupante da doença. Muitos ressaltaram que a educação em saúde desempenha um papel fundamental na disseminação da informação para além das escolas. Essa percepção é significativa, pois sugere a concentração de diversas iniciativas de extensão nas escolas, visando informar a população sobre doenças antigas e emergentes. Além de levar os conhecimentos acadêmicos para a sociedade, é essencial motivar os alunos a se envolverem em atividades de extensão. Nesse sentido, quando questionados sobre sua motivação para participar das atividades, 91,7% dos acadêmicos responderam positivamente. Muitos destacaram a satisfação de interagir com as crianças e aplicar seus conhecimentos, enquanto outros mencionaram a relevância do tema e o prazer em abordar questões relacionadas à prevenção e promoção da saúde. No que diz respeito as dificuldades encontradas pelos estudantes na realização do projeto, a maioria (41,7%) pontuou a escrita do mesmo, seguido de determinação da metodologia (37,5%), aplicação da ação (33,3%), revisão bibliográfica (29,2%), compreensão dos objetivos do projeto (16,7%), escolha do público-alvo (8,3%) e escrita dos resultados (4,2%). Sobre isso, alguns autores pontuam que a mudança de postura dos alunos envolvidos, passando de passivo para ativo, é uma dificuldade comum. Nestes momentos, os discentes devem ter mais autonomia para definir suas ações, porém a escassez de tempo e a falta de experiencia na realização e aplicação de projetos podem ser importantes fatores limitantes. É importante ressaltar a importância da extensão para o desenvolvimento do discente como futuro profissional, visto que geralmente este tipo de atividade envolve trabalhos realizados em grupos, o que se assemelha ao que acontece no mercado de trabalho. Sendo assim, quando questionados acerca da importância do trabalho em grupo, os estudantes destacaram a troca de conhecimentos, aprendizado conjunto e melhoria das habilidades de comunicação e colaboração, reconhecendo a relevância de aprender a trabalhar em conjunto, especialmente na área da enfermagem. Por fim, também é importante enfatizar que atividades extensionistas tendem a expandir a autonomia para busca de conhecimento científico. Sob este aspecto, 20,8% dos discente afirmaram ter conhecimento científico sobre a dengue antes da realização do projeto, sendo que este percentual aumentou para 95,8% após a realização da extensão, já que 83,3% dedicou-se por 10 horas ou mais para o estudo do tema. Este é um ponto considerável, posto que, antes das atividades, 79,2% dos acadêmicos afirmaram ter conhecimento apenas de senso comum sobre a doença. Considerações finais: Este estudo destaca a importância da curricularização da extensão em cursos da saúde. A prática extensionista, exemplificada por atividades sobre a prevenção da dengue, impactou diretamente cerca de 800 pessoas e indiretamente um público ainda maior. A percepção dos acadêmicos sobre a extensão foi, no geral, positiva. Além de destacar a motivação, norteada pelo trabalho com o público, assim como o valor do trabalho em equipe, os alunos também superaram dificuldades como a escrita do projeto, a determinação da metodologia e a aplicação da ação, o que evidencia a necessidade de orientação. A participação na extensão não apenas fortaleceu as habilidades práticas e de colaboração entre os discentes, mas também enriqueceu seus conhecimentos científicos sobre a dengue, destacando o papel transformador de atividades extensionistas na formação acadêmica.