A PRECARIEDADE MENSTRUAL: UMA REVISÃO DE ESCOPO

  • Author
  • Natália da Silva Gomes
  • Co-authors
  • Tanara Coscia Severino , Luiza Figueiredo Farias , Carolina Assumpção da Cunha , Rosana Maffacciolli , Letícia Becker Vieira
  • Abstract
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    Apresentação: a precariedade menstrual é um problema de saúde pública e se caracteriza pela falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento sobre menstruação. Nesta esteira, o alto custo de absorventes descartáveis é  um dos fatores que contribui para a problemática, levando mulheres, meninas, homens transgênero e pessoas não binárias que menstruam a recorrerem a métodos inseguros para conter a menstruação. Assim, utilizam papéis, jornais, sacolas plásticas, plantas, meias, miolos de pão ou até mesmo reutilizam absorventes descartáveis. Além disso, as principais pessoas atingidas pela precariedade menstrual são meninas pretas e pardas, demonstrando que o ciclo de iniquidade se mantém, onde gênero, classe e raça se conversam de maneira inseparável. Nessa perspectiva, garantir a dignidade menstrual é um direito à saúde. Sendo assim, no que concerne aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, meninas e homens transgênero no Brasil vivenciam um cenário de omissão do Estado Brasileiro diante desse segmento e problemas sociais sofridos, de modo que a precariedade humilha e coloca em risco a vida de milhares de pessoas que menstruam. Frente ao exposto o objetivo deste trabalho é mapear a produção científica acerca da precariedade menstrual. Desenvolvimento do trabalho:  trata-se de uma revisão de escopo, utilizando as  bases de dados LILACS, CINAHL, PUBMed, SciELO e BDENF e os descritores “menstruação; ciclo menstrual; produtos de higiene menstrual; saúde da mulher; e dignidade” para a busca de  artigos disponíveis na forma de texto completo. Utilizou-se como questão de estudo: “Como se apresenta a produção científica na área da saúde acerca do tema precariedade mesntrual?”. A revisão percorreu seis passos: 1) identificação da questão de pesquisa, fase em que a questão de pesquisa deve ser ampla, bem definida a fim de alcançar as evidências que se pretende associando a um claro propósito de investigação. 2) identificação dos estudos relevantes, fase de desenvolvimento da estratégia de busca, definindo termos, fontes, janela de tempo e idioma, assim como, a fonte de dados a serem utilizadas para a busca da literatura. 3) seleção dos estudos, fase em que se estabelece critérios de inclusão e exclusão, onde as publicações serão selecionadas seguindo esses critérios. 4) mapeamento dos dados, onde se tem os resultados das buscas que foram executadas cruzando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) selecionados durante as buscas. 5) sumarização e relatório de resultados, a etapa de compilação e comunicação dos resultados, com a intenção de apresentar a visão geral de todo o material e resultados. 6) consulta com especialista (opcional).     Estabeleceu-se os seguintes critérios de inclusão: artigos originais que abordam a pobreza e dignidade menstrual no contexto nacional e internacional, ligado ao campo da saúde e político-legal; nos idiomas português, espanhol e inglês; disponíveis na forma de texto completo e online, sem recorte temporal. Foram utilizados estudos primários, teóricos, Teses, Dissertações, publicações em congressos e literatura cinzenta. Ao final, incluiu-se 23 estudos. Resultados: os estudos selecionados foram publicados entre os anos de 2015 a 2022, de forma crescente, sendo de 2015 (um), 2016 (um), 2017 (dois), 2018 (três), 2019 (três), 2020 (quatro), 2021 (quatro) e 2022 (cinco). Esse resultado demonstra ser um assunto com crescimento linear na produção científica, em ascensão nos últimos anos. Ainda, dos 23 artigos incluídos, 100% foram publicados em inglês. Em relação a distribuição mundial dos estudos, totalizou-se 16 países no total. Observa-se maior concentração no continente africano, sendo Etiópia (cinco), Gana (quatro), Quênia (três), Uganda (três), Nigéria (dois), Níger (um), Malawi (um), República Federativa do Congo (um), África do Sul (um) e Burkina Faso (um). Em segundo plano na Ásia temos a Índia (cinco) e Indonésia (um), seguido da Europa com a Espanha (um) e Inglaterra (um). Na América do Sul um estudo abordou o Brasil (um) e na América do Norte os Estados Unidos (um).Grande parte dos estudos foi realizado em escolas com o público feminino, outros foram realizados com público que menstrua em geral, na área rural ou pacientes clínicos, em alguns estudos também esteve presente a participação de meninos em idade escolar, especialistas e professores. Entre os três principais impactos da precariedade mesntrual na saúde da mulher achados nos 23 artigos, identificamos infecções no trato reprodutivo e urinário como o mais prevalente, citado em 17 artigos (73,91%), seguido da falta/abandono escolar, citado em 12 artigos (52,17%) e a saúde mental, em 8 artigos (34,78%).Os estudos deram destaque a 7 fatores contribuintes para a precariedade menstrual, entre eles, o mais citado é a troca irregular ou inadequada de absorventes, presente em 19 artigos (82,61%), em segundo, a lavagem inadequada ou falta de lavagem da genitália no período, em 18 artigos (78,26%), seguido da falta de uso de absorventes, presente em 16 artigos (69,57%), falta de banheiro ou chuveiro privado, em 15 artigos (65,22%), falta de conhecimento sobre higiene menstrual, citado em 13 artigos da amostra (56,52%), vergonha, em 11 artigos (47,83%), e por último, a falta de dinheiro, fator contribuinte citado em 10 artigos (43,48%). No que concerne às principais estratégias em saúde propostas nos artigos para o combate à falta de higiene, saneamento e educação menstrual, podemos dividi-las em 5 grupos: 1) As estratégias que se dão por meio da criação de políticas; 2) Da educação; 3) Do desenvolvimento de novas pesquisas; 4) Da elaboração de infraestrutura; 5) Da ação direta no problema. Frente a isso, o tipo de estratégia mais apresentado nos artigos é o de criação de infraestrutura, proposta em 8 artigos. Estratégias de pesquisa e ação direta encontram-se em 7 artigos, educação em 6 artigos e criação de políticas em apenas dois dos artigos da amostra. Considerações finais: constatou-se que as produções científicas voltadas à precariedade menstrual são, essencialmente, internacionais. Sendo a maioria dos estudos realizados na África, destacando que grande parte das pessoas que menstruam vivenciam dificuldades de acesso à higiene, infraestrutura e conhecimento menstrual. Os estudos identificaram diversas propostas para a melhoria da saúde física e mental dessas mulheres, meninas e homens transsexuais em situação de precariedade menstrual. Porém, lacunas foram identificadas no que tange à relação entre a precariedade, violações de direitos da saúde, principalmente a na área da enfermagem, dificultando a identificação de possibilidades de cuidado na relação entre o profissional e paciente. Por isso, sugere-se estudos que abordem essa temática. 

  • Keywords
  • Menstruação, Pobreza, Ciclo Menstrual
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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