Apresentação:
Por aqui, ocorre uma tempestade, resistir em um território em ocupação, onde o acesso a direitos básicos faz parte de uma efervescente luta cotidiana, torna-se um desafio. Unimos forças e reconstruímos nossos barracos (associação e casas) repetidamente. A luta pela vida é diária e o desafio é grande, mas estamos colhendo os frutos do exercício da nossa força comunitária e feminista.
A luta pela vida é cotidiana, o desafio é grande, mas já estamos colhendo os frutos do exercício da nossa força comunitária e feminista. O Projeto Social "Mães Guerreiras pela Saúde Mental" tem sua aspiração na fundação da associação, que se configura em um contexto de apoio material e afetivo entre mulheres. Encontro que cada vez mais cresce e se multiplica em rede de solidariedade e cuidado, envolvendo pessoas e instituições diversas.
Durante o ano de 2023 e início de 2024, em parceria com a Fiocruz/Brasília, por meio do Projeto Institucional Paulo Freire: “Fortalecendo a territorialidade, tecendo uma rede de movimentos, saberes e práticas de Educação Popular em Saúde no Distrito Federal”, a associação atuou na promoção da saúde mental via ações de educação popular com mães em vulnerabilidade social, moradoras da Cidade Estrutural/DF.
O objetivo foi promover a autoestima das participantes, o bem-estar social e a emancipação social, afetiva e política via à promoção e o acesso à saúde. Para tanto, foram realizadas oficinas de danças populares, Hitbox e artesanato, além de fortalecidos cuidados individuais e rodas de conversa, onde a vida é partilhada e emancipada a agenda associativa na luta coletiva. Cada oficina e atividade foi planejada e executada com o intuito de criar um ambiente seguro e acolhedor, onde as mulheres pudessem se expressar livremente e encontrar apoio mútuo.
Desenvolvimento do trabalho:
A vulnerabilidade social no território do Setor Santa Luzia, na Cidade Estrutural/DF, tem alimentado a luta por conquistar mais direito para as mulheres e famílias, que vivem no território de atuação da Associação Mães Guerreira. Os desafios e violências que por aqui ocorrem são chão e força para organização coletiva, na perspectiva de desenvolver continuamente as condições fundantes do melhor para as pessoas e famílias.
Nessa perspectiva, a oficialização do direito à moradia já é movimento no horizonte e desponta em demarcações de realidade, como fruto do trabalho coletivo. Essa força e potência de organização integrada têm sido uma estratégia mobilizadora da promoção de saúde mental no território, com valorização criativa, emergindo no coletivo de mães constantemente. Cada conquista, por menor que seja, representa um passo importante na melhoria das condições de vida das famílias da comunidade.
Já nestes anos de existência, muitas estratégias vão aos poucos surgindo da inspiração de vida das mulheres integrantes em parceria com diversas instituições. No contexto da execução das tarefas associativas e nos espaços de rodas de conversas onde partilham a vida, vão se desvendando suas potências realizadoras. As histórias de vida compartilhadas nessas rodas são um testemunho do poder transformador da solidariedade e da ação comunitária.
As oficinas e cuidados individuais e coletivos já vêm sendo desenvolvidos há algum tempo e, em parceria com a Fiocruz-Brasília, esses espaços se potencializaram e foram berço do surgimento do grupo de danças populares, que nasce forte com as músicas e tradições das mulheres, que vem do Norte na luta por dignidade e sobrevivência. As rodas de conversas no barracão da associação ou embaixo da mangueira, o trabalho de bordado integrando e tecendo significados.
O mapeamento de redes de cuidado populares, comunitárias e institucionais, a articulação proporcionando acesso a alimento democrático, a escuta singular às mulheres mães da associação seguem sendo cuidados que potencializam a expressão criativa. Esta força e potência de organização têm sido estratégias mobilizadoras da promoção da saúde mental das mães participantes do projeto Mães Guerreiras. O cuidado com a saúde mental, muitas vezes negligenciado em comunidades vulneráveis, foi tratado com a seriedade e o respeito que merece, proporcionando às mulheres um espaço para cuidar de si mesmas e de suas emoções.
Os encontros realizados semanalmente no território, que incluem apresentações culturais, produção e exposição de artesanato, momentos de expressão pessoal e partilha de experiências em grupo, enfatizam a luta das participantes pela dignidade, saúde e qualidade de vida.
Resultados:
Das ações desenvolvidas junto à Fiocruz-Brasília, participaram aproximadamente 150 mulheres, com mais de 400 pessoas atendidas, incluindo crianças, parentes e familiares. Em um território com mais de 20 mil pessoas convivendo quase sem a presença do Estado, vivendo sem saneamento básico, direito à água e luz elétrica legalizada, a Associação Mães Guerreiras, em parceria com instituições sensíveis e a sociedade organizada do Distrito Federal, conseguiu criar um ambiente acolhedor, valioso para o compartilhamento de saberes emancipatórios e promoção da saúde.
Nestes últimos três anos de atividades da associação, foram mais de 1.500 momentos de oficinas, rodas de conversas, cuidados individuais e coletivos, mutirões e visitas domiciliares. Esses movimentos consolidaram as atuais oficinas de artesanato, danças populares e Hitbox. Rodas de conversa com foco em saúde mental, supervisionadas por psicólogos e estagiários do curso de psicologia da UDF, escutas individuais e atividades de dança em grupo (Carimbó), consolidaram uma estrutura de organização da associação, que já conta com mais de 30 mulheres atuando de forma voluntária e organizada, potencializando a vida associativa.
Junto com as mulheres, as oficinas e rodas de conversa têm evidenciado a importância das políticas públicas e de forma transversal os serviços de saúde, destacando a relevância do Sistema Único de Saúde - SUS na comunidade.
Essas iniciativas firmaram-se como estratégias de fortalecimento da autonomia, promoção da saúde mental e bem-estar, ampliadas com o apoio da parceria da Fiocruz/Brasília por meio do macroprojeto institucional “Conexões de Saberes e Práticas na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis”. Este macroprojeto tem sido essencial para garantir que as ações desenvolvidas pela associação não apenas continuem, mas também se expandam, alcançando um número maior de pessoas e proporcionando um impacto ainda mais significativo na comunidade.
Os resultados alcançados até agora são um testemunho do poder transformador da ação comunitária e do apoio mútuo. As mulheres da Associação Mães Guerreiras conseguiram, através de suas próprias iniciativas e do apoio recebido, criar um ambiente onde a saúde mental e o bem-estar são prioritários. Isso não só melhora a qualidade de vida das participantes, mas também cria um modelo de sucesso que pode ser replicado em outras comunidades em situação de vulnerabilidade.
Considerações finais:
Os encontros promovidos pelo Projeto "Mães Guerreiras pela Saúde Mental", em parceria com o Núcleo Angicos da Escola de Governo da Fiocruz Brasília, não apenas atingiram seus objetivos, mas também superaram todas as expectativas, proporcionando momentos de aprendizagem, expressão criativa e reflexão integradora entre as mulheres participantes.
A comunidade envolvida demonstrou seu comprometimento em promover a saúde mental e a qualidade de vida, consolidando este fechamento de ciclo como uma potente abertura de infinitas oportunidades. As ações realizadas no período da parceria mostraram-se necessárias ao cultivo do bem-viver na comunidade assistida, tornando-se valioso construir e ampliar esse trabalho para que a comunidade possa continuar a crescer e se desenvolver de maneira saudável e integrada.