Apresentação:
O Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação na Saúde – Angicos – da Escola de Governo da Fiocruz Brasília, instigado pela experiência com os movimentos sociais populares durante a pandemia da COVID-19, está realizando nos anos de 2024 até 2025 o Curso de Formação de Agentes Populares das Juventudes do Distrito Federal – AgPopSUS-Juventudes/DF.
Esta iniciativa do Angicos, financiada por meio de projeto de emenda parlamentar, está alinhada e articulada ao recentemente instituído pela Ministra Nísia Trindade, Programa Nacional de Formação de Agentes Educadoras e Educadores Populares de Saúde - AgPopSUS que desenvolverá processos formativos em todos estados do país.
A Coordenação do Projeto é desenvolvida por 5 educadores do Núcleo Angicos, os quais desenvolveram os caminhos metodológicos da formação e os critérios para seleção dos demais atores que vieram a compor a comissão político pedagógica (CPP) do processo formativo. A CPP conta, além dos membros da coordenação, demais educadores do Angicos, alguns apoiadores externos e os educadores que estão desenvolvendo a formação junto às turmas de jovens das regiões de saúde do DF.
Para o papel de educadores do AgePopSUS-Juventudes/DF, foram selecionados 21 membros de movimentos sociais populares e 16 residentes multiprofissionais do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica, também coordenado pela equipe Angicos, que já possuíam experiência junto ao público da juventude, incluindo uma diversidade de campos temáticos e experiências, como esporte, arte e cultura, educação e saúde.
Tais educadores facilitarão o processo formativo e aturam na mobilização e seleção dos educandos que compõem às turmas que terão duração de 4 meses, sendo aplicadas semestralmente. Ou seja, a cada semestre serão inauguradas novas turmas.
Cada turma conta 20 a 30 jovens e serão facilitadas por uma dupla de educadores. Desta forma, conforme a disponibilidade orçamentária e da rede pedagógica construída, espera-se durante os 2 anos de prazo do projeto, ter desenvolvido aproximadamente 80 turmas, o que significa a mobilização de aproximadamente 1600 jovens das múltiplas periferias do DF.
Esses educadores participaram da Oficina de Formação entre os dias 08 à 10/12/2023, onde foram debatidas as propostas e o formato dos cursos, além de terem sido apresentadas as metodologias e discutidos os temas prioritários a serem aplicados no desenvolvimento da formação dos agentes das juventudes.
Desenvolvimento do trabalho:
A oficina representou o lançamento do Projeto AgPopSUS-Juventudes/DF, que tem como objetivo a mobilização de jovens das periferias do DF para lutar pelo direito à saúde e fortalecimento do seu protagonismo nos territórios onde vivem, por meio de processos formativos baseados na educação popular em saúde.
Optou-se para metodologia da imersão para formação dos 37 educadores, para tanto, foi desenvolvida em um hotel fazenda, incluindo educadores do Núcleo Angicos, apoiadores e representações institucionais do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Por meio desta, os participantes puderam conviver durante os 3 dias de forma integral, fortalecimento a troca de conhecimentos, vivencias, como também, em especial, facilitou a construção de laços de pertencimento, vínculos que é um dos princípios da educação popular em saúde, a construção de coletividades, redes, comunidades que se materializam como fortalecimento do processo pedagógico que se avizinhava.
A formação dos educadores teve como princípios a construção compartilhada do conhecimento, a formação embasada na ação-reflexão-ação, na leitura da realidade e problematização a partir do diálogo e o reconhecimento dos saberes de experiências, referente aos temas propostos na aplicação do curso, a partir da realização de metodologias participativas. Dentre o conjunto de metodologias, perpassadas pela mística da educação popular em saúde, na qual os participantes também puderam expressar suas culturas, vivências e saberes, merecem destaque as rodas de conversa e os círculos de cultura.
Resultados:
O processo formativo dos educadores inaugurado na oficina proporcionou certo alargamento do olhar por parte da coordenação do curso, acerca da realidade vivenciada pela juventude do DF, a partir do qual, foi possível ampliar o rol de temas prioritários a fim de construir instrumentos e estratégias para o cuidado em saúde e qualificar o acesso do segmento ao SUS. Temas como violências, racismo, cultura e saúde mental foram destacados.
A diversidade de culturas, identidades e vivencias identificada no público de educadores evidenciou à coordenação do projeto que não podemos padronizar este segmento, que dentro da faixa etária referência entre os 16 a 29 anos, não há como não se falar em juventudes, orientando inclusive a mudança do próprio título do projeto.
Os 37 Educadores amparados pelos princípios e metodologias da educação popular em saúde puderam se expressar e construir o sentido de pertencimento ao processo pedagógico e a práxis da promoção da saúde junto aos SUS. Muito chegaram receosos, com certa timidez, por ser a primeira vez que participavam de uma ação ou processo formativo junto ao povo da saúde, porém, desde o primeiro momento, foram percebendo a relevância do que desenvolviam em seus cotidianos junto das juventudes e o quanto já faziam educação popular em saúde, mesmo sem conhecê-la ao fundo, sem saber o que seus referencias como Paulo Freire indicam como orientações para fortalecer nossas ações. Como também, a grandiosidade o SUS e o quanto ele contribui com nossos sentidos de vida em coletividade, nosso projeto de sociedade.
Desde a oficina, o conjunto de educadores vem implicado em leituras, mobilizando suas respectivas turmas, idealizando ações nos seus territórios de ação, demonstrando encantamento e compromisso com o processo pedagógico que se inicia. Tais indicadores podem ser considerados como métricas do sucesso da atividade, do quanto ações como esta, embasadas na Política de Educação Popular em Saúde podem contribuir com a superação dos desafios atuais do SUS e dos territórios, nos quais identificamos as iniquidades e as polarizações trazidas pela desconstrução dos direitos da cidadania, fortalecida pelo projeto negacionista e de ultra direita propagado pelo governo federal vencido nas urnas em 2022.
A Oficina de Formação de Educadores teve o intuito de capacitar promotores de saúde e mobilizadores populares para atuarem na formação de Agentes Populares de Saúde das Juventudes, integrando a luta pela saúde em seus campos de prática e conhecimento, habilitando-os potencializadores de conhecimentos nas comunidades, incentivando-os a participar ativamente dos espaços de controle social no SUS e criando espaços de conexão e pertencimento nos territórios junto das equipes de saúde da família.
Após esta atividade, o projeto AgPopSUS Juventudes DF avançou e com o apoio dos educadores formados, 18 turmas foram criadas e 405 jovens inscritos. O início das turmas do Curso foi dado no dia 27/04/2024 com a realização da aula inaugural na sede da Fiocruz/Brasília, a qual contou com a presença de 205 jovens que compõem as turmas e convidados. A transmissão ao vivo permitiu que diversos outros espectadores acompanhassem o evento.
Os encontros presenciais, com carga horária de 96 horas, iniciarão no mês de maio/2024. Espera-se que a partir desta experiência, com o desenvolvimento das turmas e do processo pedagógico, seja consolidada uma rede de educadores populares das juventudes do DF que venham a contribuir com o fortalecimento da democracia, a superação das dificuldades de acesso à saúde e no que diz respeito à qualidade de vida, fortalecendo os territórios e o acolhimento das juventudes no e pelo SUS.