Introdução: A Doença Renal Crônica (DRC) é definida como dano irreversível das funções dos rins que se inicia de forma assintomática e progride lentamente. A hipertensão e o diabetes se destacam como as principais causas da doença em pessoas de todo o mundo. A DRC é classificada em estágios de acordo com a estimativa de filtração glomerular, sendo no estágio cinco necessária a indicação de uma terapia renal substitutiva. Dentre as TRS destaca-se a hemodiálise que é a mais empregada no Brasil, contudo, existe ainda outras terapias como a diálise peritoneal e o transplante renal. A atenção à saúde do paciente com DRC demanda conhecimentos adicionais dos profissionais de saúde, especialmente do enfermeiro. Objetivo: Descrever uma experiência extensionista de discentes de graduação em enfermagem de uma universidade pública no Nordeste do Brasil em um serviço de hemodiálise ambulatorial. Método: Relato de experiência de um projeto de extensão desenvolvido de março a dezembro de 2023, em uma unidade de diálise conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS). O serviço funcionava diariamente de segunda a sábado e disponibilizava três turnos de tratamento. A equipe do projeto foi composta por profissionais de saúde, docentes e discentes de graduação em enfermagem. Todos os membros do projeto foram cadastrados para o compartilhamento de links de acesso eletrônico a documentos e legislação que regulamenta o funcionamento dos serviços de diálise no Brasil, bem como de artigos científicos relacionados a hemodiálise. O cronograma de atividades foi compartilhado para que todos pudessem estar envolvidos nas atividades planejadas. Assim, foram realizadas semanalmente as reuniões científicas para possibilitar a aproximação dos membros do projeto. Foram realizadas cinco aulas síncronas via Google Meet para apresentar e discutir tópicos relevantes para o cuidado ao paciente renal crônico. Foram realizadas também, quatro visitas técnicas para reconhecimento do serviço de diálise, apresentação aos pacientes e profissionais do serviço. O horário das atividades para a participação dos discentes foi organizado em uma escala que possibilitou a escolha das datas, sendo os plantões da extensão realizados aos sábados, de modo a não afetar as atividades acadêmicas regulares. Para participar do projeto foram convidados os 21 discentes matriculados no oitavo, nono e décimo períodos do Curso de Graduação em Enfermagem. As atividades foram organizadas previamente em uma planilha do Microsoft Excel, na qual foram distribuídos os turnos e atividades em regime de plantões matutino ou vespertino, ambos com duração de quatro horas. Durante a realização das atividades do projeto de extensão, o Enfermeiro assistencial desempenhou a função de preceptor dos discentes, compartilhando suas experiências no decorrer dos plantões. Dessa maneira, o discente tinha a possibilidade de se aproximar da realidade do cuidado de enfermagem à pessoa com doença renal crônica em unidades de hemodiálise e atuar junto a equipe multiprofissional, desde a admissão até a finalização do tratamento do paciente. Resultados: O projeto possibilitou a aproximação entre discentes e pacientes em hemodiálise em um serviço especializado, viabilizando um olhar ampliado da realidade do significado do conviver com a DRC e da atuação dos profissionais de saúde nesse cenário. Nesse sentido, as visitas técnicas ao serviço de hemodiálise, possibilitaram o reconhecimento dos diferentes espaços e setores que compõem um serviço ambulatorial, bem como sua relevância dentro da linha de cuidado ao paciente renal crônico. Dentre os espaços físicos destacaram-se as salas de tratamento por hemodiálise, a sala para estabilização dos pacientes em casos de emergência e a sala exclusiva para pacientes com sorologias positivas para hepatite B. Outro espaço físico diferenciado do serviço é a estação de tratamento de água, em que é realizado o processo de osmose reversa padronizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que destaca a importância do estabelecimento de padrões de segurança básicos para o funcionamento do sistema de tratamento e distribuição de água para hemodiálise. A central de tratamento realiza o processo de purificação da água, tornando-a adequada para o tratamento de hemodiálise, por meio da remoção de solutos e microrganismos, além de outros processos físico químicos que possibilitam a adequação da água para a realização da hemodiálise. Além disso, a instituição possui centro cirúrgico para realização dos implantes de cateteres de curta duração e das confecções das fístulas arteriovenosas necessárias para o tratamento. Adicionalmente, o projeto possibilitou ao discente conhecer o processo de trabalho e interagir durante a assistência aos pacientes, com os seguintes profissionais: enfermeiro, farmacêutico, nutricionista e médicos. Durante as atividades dos plantões, os discentes puderam acompanhar o enfermeiro no desenvolvimento de atividades de gestão da equipe, como as marcações das sessões de hemodiálise, atribuição dos técnicos em enfermagem, reserva de leitos específicos para cada paciente com a finalidade de melhorar a segurança do paciente. Outra importante atividade vivenciada foi a atuação do enfermeiro no manuseio de vias de acesso para hemodiálise, como cateteres de longa e curta permanência, punção das fistulas de pacientes com acessos recém-confeccionados, ou daqueles pacientes que haviam apresentado complicações de punções nas sessões de hemodiálise anteriores. Além do mais, o enfermeiro também avalia a situação de cada paciente e determina as condutas de acordo com protocolos assistenciais pré-estabelecidos pela instituição, para o tratamento de pacientes com sinais e sintomas comuns no processo de hemodiálise como hipoglicemias, hiperglicemias, alterações pressóricas, fadiga, calafrios entre outros. A equipe de enfermagem é responsável pela administração de medicamentos, que podem ser infundidos diretamente no circuito de hemodiálise ou por outras vias como a via subcutânea (SC), com registro em prontuário eletrônico. Ademais, a equipe de enfermagem também é responsável pela realização de ajustes de diferentes funcionalidades das máquinas entre outros cuidados aos pacientes durante o tratamento. Foi possível observar, procedimentos como montagem do circuito dialítico, calibração da máquina para a sessão de hemodiálise de acordo com a prescrição de cada paciente, acompanhamento do médico e enfermeiro durante a realização da visita do paciente no início do tratamento, conexão e desconexão do paciente do sistema e a comunicação multiprofissional para o estabelecimento da administração dos medicamentos necessários, por exemplo a eritropoetina. Como também, o processo de educação em saúde pela enfermagem tanto no relacionamento com os pacientes como entre os profissionais da equipe de enfermagem. As ações de educação em saúde foram desenvolvidas pelos discentes com foco nos cuidados com a FAV e foram realizadas durante as sessões de hemodiálise, que é um tempo considerado ocioso pelo paciente. Participaram das ações de educação em saúde 79 pacientes, com a realização de um jogo educativo individual, no qual o paciente sorteava perguntas sobre os cuidados com a FAV. A aproximação dos discentes com os pacientes, possibilitou a troca de conhecimentos e a escuta de relatos sobre as causas da DRC e sobre o processo de adaptação ao tratamento por hemodiálise. Conclusão: A realização do projeto de extensão, possibilitou aos discentes compreender a importância do enfermeiro e demais profissionais da equipe interdisciplinar no serviço de hemodiálise ambulatorial. Adicionalmente, a ação extensionista possibilitou a aproximação dos futuros profissionais com o cenário real de um paciente com DRC em hemodiálise e dos profissionais em seu contexto de trabalho na área de nefrologia.