Introdução: A mensagem acerca da degradação ambiental e suas consequências no planeta não são recentes e são divulgadas de muitas formas e há muito tempo. Apesar da divulgação e dos ativismos, são recorrentes os crimes ambientais e o impacto na saúde humana, com saldo de adoecimentos e mortes.
Objetivos: Analisar o impacto ambiental a partir da narrativa cinematográfica de três filmes/documentários verídicos produzidos entre 2000-2006 e o engajamento de pessoas contra grandes corporações responsáveis por impactos ambientais.
Metodologia: Análise das narrativas, estabelecendo relação entre elas e com os relatos de impacto ambiental.
Desenvolvimento: Algumas produções cinematográficas têm abordado criticamente questões ambientais e as produções selecionadas para este ensaio evidenciam o impacto ambiental e mostram o compromisso social contra esses agravos. Na equação dos roteiros, há uma figura central que, ainda que seja dada como desacreditada, assume uma causa considerada impossível. A união desses elementos, mesmo que contra as expectativas, termina em afirmação das causas ambientais, ao contrário do que parece estar acontecendo no cotidiano. Veja, pela sinopse, o compromisso dos personagens impulsionado pela inquietação. 1) “Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento” (Erin Brockovich, 2000): é a história de uma mãe de família, empregada em função subalterna em um escritório de advocacia, que descobre que uma cidade pode estar sendo envenenada pela rede pública de água. Ao dar-se conta do problema e das consequências da poluição ambiental, enfrenta uma poderosa indústria acusada de poluir o lençol freático de uma pequena cidade na Califórnia (Estados Unidos). Erin descobre pistas em lugares inesperados e convence a população atingida sobre a causa. Depois de longa ação judicial, os moradores atingidos ganham uma das maiores indenizações dos EUA. 2) “A corporação” (The Corporation, 2003): documentário que denuncia a depredação ambiental fruto da busca desenfreada de lucro pelas grandes corporações transnacionais, sem respeitar as fronteiras, os mais vulneráveis, os pequenos produtores, os próprios consumidores. Assim observamos o trabalho escravo de mulheres e crianças da Ásia à América Central, exploradas pelas companhias que vendem as “grandes marcas” de roupas, tênis, acessórios de luxo, quinquilharias; a indústria de cosméticos e os testes cruéis em animais; o envenenamento prolongado da alimentação humana com pesticidas, transgênicos, hormônios, conservantes, corantes, gorduras saturadas, cloreto de sódio e açúcar. 3) “Uma verdade inconveniente” (An Inconvenient Truth, 2006): o filme/documentário mostra a peregrinação de Al Gore para denunciar os efeitos da poluição ambiental e da emissão de carbono. A produção alerta quanto ao perigo do aquecimento global, evidenciando os impactos produzidos pelo homem no meio ambiente, como as emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases, alertando para as consequências. Fica evidente, no material reunido na obra, que a comunidade científica converge no consenso de que o aquecimento global é real e já causa danos graves. Nas obras selecionadas, nos defrontamos com os interesses políticos, econômicos e pessoais que puderam impactar total ou parcialmente uma região, mas com consequências amplas. A ocupação predatória do ambiente é tratada como um tema associando a ganância capitalista e a crise civilizatória de diferentes sociedades. As produções cinematográficas e as referências recuperadas construíram dois eixos de análise. A) A trajetória e o padrão de consumo que aceleram a construção social, mas que, em contrapartida, proporcionam o avanço de indústrias motivado pelo padrão de consumo. B) Impacto ambiental como resultado da expansão da sociedade moderna e o quanto os danos ambientais são nocivos para a vida no planeta. O processo crescente de urbanização desenfreada é considerado uma grande ameaça à vida planetária. Esse ponto nos conecta às produções apresentadas nesta análise. O impacto ambiental não é um problema isolado e recente, e o seu avanço acelerado reforça diretamente o dano à biodiversidade, gerando efeitos irreversíveis. A exploração de recursos naturais tem sido vista de maneira crescente desde a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra. Com o surgimento da indústria, no século XVIII, a economia e o estilo de vida foram sendo modificados. Impulsionados pelo capitalismo, o processo produtivo e as relações de trabalho foram modificados para atender à necessidade de acelerar a produção e exportação de mercadorias. Há uma tendência de instalação de indústrias em locais em que as leis ambientais e trabalhistas não são tão rigorosas, mas o impacto ambiental decorrente não afeta apenas as redondezas, mas ocorre em escalas mais amplas, pois todos os sistemas estão conectados. Em outros casos, há áreas invadidas frequentemente com apoio do governo federal e de governos locais que deveriam preservá-las, atraindo grandes e ambiciosos financiadores, fazendo prevalecer interesses privados sobre condições de importância pública. Em ambos os casos, essas organizações recrutam e despertam interesses ao trabalho de pessoas em condições de vulnerabilidades sociais, financeiras e econômicas. As narrativas reais que motivaram esta análise mostram a ação ambiciosa e coordenada por governos, empresas e pessoas. As indústrias têm sido consideradas as principais poluidoras dos corpos hídricos e do ar, com diversos poluentes descartados e emitidos diretamente nos oceanos, rios e lagos e na atmosfera. Essas condições inadequadas geram prejuízos ambientais, econômicos e para a saúde. A sequência de episódios de desastres ambientais recentes parece mostrar o desespero de um planeta que está em colapso, pela necessidade do sistema produtivo, seja no aumento da produção ou na produção de consumidores. Esses episódios estão imbricados e têm como centralidade os desastres ambientais, exigindo e desafiando uma cooperação internacional entre governos e sociedade civil na estratégia de pensar em políticas públicas embasadas em abordagens interdisciplinares, como os conhecimentos e práticas da Saúde Coletiva, capazes de romper o enfoque simplificado e centrado nas condições apenas biomédicas da produção da saúde. Os filmes funcionam como um dispositivo para pensar sobre a proteção ambiental como compromissos ético-social e político, refletindo o papel individual e coletivo com enfoque na adoção de práticas mais ecossustentáveis. É a arte cumprindo a função social de colocar em questão os costumes do tempo atual.
Conclusão: A abordagem cinematográfica nas produções analisadas assume uma abordagem crítica e orientada para mobilizar a cultura e os comportamentos da sociedade. A crise ambiental é um problema multifacetado e, portanto, requer interação e apoio que compreendem ações individuais e coletivas com mudança de comportamento e adoção de práticas mais responsáveis; combate às notícias falsas, que ameaçam à democracia e os cuidados; compromisso político com escolha de governantes que apresentem interesse, estratégias e parcerias com outros países para exercer o compromisso contra o impacto ambiental. Para muitos, a luta em defesa do meio ambiente pode ser um fenômeno da mesma proporção do embate entre Davi contra Golias, mas, ainda que seja, os filmes/documentários aqui apresentados mostram o engajamento contra grandes corporações, muitas, inclusive, com apoio/finalidade política. Qualquer tentativa fracassada na luta contra o impacto ambiental aumenta a nossa dívida com as gerações futuras. Assim, esse é um tema impostergável também na formação e no trabalho em saúde, dado que a produção de saúde e a mudança na cultura e na relação com o ambiente são questões indissociáveis em cada território. A capilaridade do trabalho na saúde, aliada à sensibilidade e a agudez artística da crítica dos modos do andar da vida na contemporaneidade retradada nos filmes, pode produzir novos mundos mais sustentáveis e mais saudáveis.