Os Centros de Convivência e Cultura (CECOs) são pontos da rede de atenção psicossocial fundamentais para desinstitucionalização do cuidado em saúde mental. Nestes espaços, a arte, a cultura, a educação, o esporte, o trabalho e outros saberes interagem com a saúde para promover a autonomia, a garantia de direitos e o combate ao estigma social da loucura. Procura-se valorizar a potência criativa dos encontros, ora mediados pela música ou desenho até uma conversa sobre trabalho e outras vivências singulares do sujeito. Esta comunicação aborda a organização do trabalho de Centro de Convivência e Cultura do interior de Minas Gerais e o modo como nele se articulam arte, cultura, abordagem territorial e intersetorialidade. Trata-se de comunicação de resultados de pesquisa desenvolvida no âmbito de programa de mestrado profissional. O estudo descritivo envolveu os doze trabalhadores do CECO, desde serviços gerais, apoio administrativo e profissionais graduados. Os participantes responderam a formulário para caracterização sócio demográfica e concederam entrevistas. No processo de análise empregou-se a análise de conteúdo temática. Os participantes compreendem que a organização do trabalho do CECO é ancorada no tripé: arte/cultura, abordagem territorial e intersetorialidade. O cotidiano do serviço foi descrito pelo movimento “para fora” e “para dentro” das intervenções realizadas pelos profissionais do CECO ou parceiros. Segundo os participantes, as pessoas chegam via encaminhamento da rede de saúde ou demanda espontânea. Os profissionais relataram que acionam as redes de saúde e de assistência social diante de vulnerabilidades ou para interação na comunidade. O trabalho no dispositivo inclui: entrevista para inserção, orientações, registros, oficinas construídas graças às habilidades pessoais dos trabalhadores, transcendendo sua formação original. Destacaram, ainda, que conviventes se tornam instrutores. Relataram que as práticas intersetoriais acontecem com ocupações de espaços públicos, por relações informais, por ações no território, passeios e relações institucionais. Descreveram que as oficinas de arte e cultura e outras atividades coletivas promovem a criatividade e ampliam o repertório de habilidades dos profissionais e dos conviventes. Os parceiros cedem materiais, espaço ou instrutores. Citaram iniciativas com a universidade, clínica particular de ioga, com espaços públicos esportivos e ambientais, Corpo de Bombeiro, projetos sociais ligados à Igreja e com o SESC; além de eventos representativos para a Saúde Mental. O estudo evidenciou o papel mediador do CECO no estabelecimento de laços entre as pessoas em sofrimento psíquico e a cidade, contribuindo com o fortalecimento da participação comunitária. Ademais, o lugar de intersecção que o CECO ocupa entre saúde e cultura enfrenta alguns desafios de sustentação. As potentes iniciativas enfrentam a falta de investimentos permanentes das esferas municipal, estadual e federal. A pesquisa permitiu a compreensão da potência da clínica ampliada no CECO, indo além da assistência à saúde e tocando em dimensões da cultura e da convivência nos territórios que são fundamentais para o cuidado em liberdade. Estima-se que a descentralização das ações e sedimentação das parcerias com os diversos setores e sujeitos sejam caminhos para garantir que a saúde mental seja efetivada como uma política intersetorial.