APRESENTAÇÃO
Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), a atenção básica é definida como porta de entrada dos usuários nos serviços de saúde, seguindo os princípios de acessibilidade, universalidade, integralidade, equidade e humanização, já utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), desde sua consolidação (BRASIL, 1988). A assistência, nesse âmbito, pode ser caracterizada por ações que contemplem o indivíduo como parte de um coletivo. Para isso, é necessário que as equipes estejam alinhadas e possuam caráter multiprofissional (BRASIL, 2011).
Os serviços para o atendimento na atenção primária são as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Estratégias de Saúde da Família (ESF). Estas têm como foco a criação e continuidade do vínculo com os usuários, podendo se estabelecer uma aproximação com sua realidade, sua comunidade, religião, costumes, e, ainda, enfocar na educação em saúde, assim como na prevenção de doenças dentro da comunidade (BRASIL, 2011).
A equipe de enfermagem tem papel importante nos serviços de atenção primária, visto que desenvolve autonomia por meio de suas práticas integradoras e interativas de assistência no cuidado, as quais, cada vez mais, alcançam boa repercussão na promoção e educação da saúde e também no incentivo das políticas públicas que buscam o bem-estar dos usuários (BACKES, et al, 2012).
Tendo em vista esse cenário, o curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ofertam disciplinas com atividades práticas desenvolvidas diretamente nos serviços de saúde. Isto corrobora para que o estudante obtenha uma visão ampla da atuação como profissional, possibilitando a obtenção de habilidades na realização de procedimentos, ampliando sua capacidade técnico-científica, gerando maior conhecimento, tanto clínico, como das características da comunidade usuária.
Como tarefas principais a serem desenvolvidas dentro do campo de atuação, com a supervisão do enfermeiro da unidade, o discente deve buscar sua autonomia, observar como ocorre a organização do serviço, realizar procedimentos técnicos, ampliar a visão sobre as funções do profissional que será futuramente, praticar tanto a liderança da equipe de enfermagem, quanto interagir com a equipe multiprofissional, realizar atividades privativas e atuar na gestão dos serviços de saúde.
OBJETIVO
Relatar a experiência de discente da enfermagem na atenção básica, enquanto processo curricular de ensino/aprendizagem para a formação e desenvolvimento acadêmico.
METODO
Trata-se de um relato de experiência, envolvendo a apresentação da construção de um fluxograma para acolhimento dos usuários em uma ESF, através da utilização do Método da Problematização (Berbel, 1996). O relato de experiência constitui-se em uma ferramenta que favorece o processo de ensino-aprendizagem, pelo compartilhar de vivências, reflexões e aprendizados, o que se torna um potencial para a construção coletiva do conhecimento.
RESULTADOS
Na atenção primária, o enfermeiro desempenha diferentes funções e, assim como em qualquer ambiente de atuação, deve estar capacitado para agir em situações diversas, ter conhecimento teórico-científico, de gestão de recursos e de pessoas, ser líder, ter uma boa comunicação e saber lidar com a equipe de saúde, chamando a equipe multiprofissional para melhor resolver os casos demandados (COFEN, 2018).
Nesse contexto, o acolhimento é uma importante ferramenta, por meio da qual o profissional pode conhecer melhor o usuário e a população que o serviço de saúde atende (BRASIL, 2011). Na ESF onde realizou-se a experiência, a consulta é uma atividade que ressalta os laços dos profissionais com a comunidade atendida.
A necessidade da construção de um fluxograma para acolhimento dos usuários surgiu no decorrer do estágio, quando foram observadas algumas fragilidades nesse contexto, necessitando a realização de uma ação para que fosse possível contribuir com o espaço atuante. Assim, fundamentados na Metodologia da Problematização, deu-se início ao planejamento desta ação, a partir de um encontro entre a supervisora de estágio e orientadora da disciplina, na qual foram analisadas e discutidas as fragilidades encontradas no trabalho e as possíveis mudanças, utilizando-se como referencial o Arco de Maguerez, o qual consta cinco etapas: observação da realidade, identificação dos pontos-chaves, teorização, levantamento de hipóteses de solução e aplicação à realidade.
Na etapa de “observação da realidade”, foram identificados a necessidade de haver uma padronização e maior conhecimento por parte da equipe da ESF acerca do tema: Acolhimento na Atenção Básica, tendo em vista que o local recebe uma demanda alta de profissionais e estudantes da área de saúde, residentes, estagiários, acadêmicos de medicina e de enfermagem, os quais realizam acolhimento e referiam dúvidas sobre esta atividade.
Na “identificação dos pontos-chave”, foram levantados alguns questionamentos acerca das fragilidades vivenciadas, sendo possível refletir quanto a forma que se poderia auxiliar os profissionais a realizarem o acolhimento da melhor maneira, utilizando-se dos princípios do Sistema Único de Saúde. A etapa da “teorização”, ocorreu após serem feitas leituras referentes ao contexto de trabalho, a identificação dos problemas e aos pontos críticos, e discussão dos aspectos relacionados a? existência de artigos e de um Fluxograma sobre Acolhimento, de acordo com o Caderno 28 de Atenção Básica (BRASIL, 2011).
O “levantamento de hipóteses de solução” deu-se a partir da identificação das possibilidades de transformação da realidade, com ações mais simples ou mais complexas, na busca de caminhos possíveis para a resolução dos problemas. Este processo incluiu a elaboração de um material informativo adequado à rotina da ESF; a fim de capacitar, esclarecere empoderar os profissionais de saúde da ESF a realizar o acolhimento à demanda espontânea, sem receio.
Por fim, na etapa de “aplicação a? realidade”, foram analisadas as hipóteses e elegida, para ser colocada em prática a de melhor aplicabilidade: construção de um fluxograma de Acolhimento embasado no material existente do MS, adaptado à realidade da ESF; plotagem de um banner explicativo contendo o fluxograma, bem como a realização de capacitação da equipe atuante neste cenário.
Nesta proposta, considerou-se que a atenção básica é uma das principais portas de entrada do sistema de saúde, e, para isso, deve trabalhar com tecnologias variadas, sendo “tecnologias duras”: equipamentos e máquinas; “tecnologias leve-duras”: conhecimentos estruturados; e, ainda, “tecnologias leves”: frutos do relacionamento profissional-usuário. Para agenciar os recursos e tecnologias necessários, a equipe de saúde deve perceber as peculiaridades de cada caso, a fim de compreender as necessidades do usuário ou coletivo dentro da sua realidade. O acolhimento à demanda espontânea é uma ferramenta indispensável à prática diária dos serviços de atenção primária oferecidos pelo SUS (BRASIL, 2011).
Compreende-se que o processo de aprendizagem pode ser realizado em qualquer local, de modo que a educação perpassa os diversos cenários da vida dos indivíduos. No contexto da equipe de enfermagem, a educação para o trabalho se torna imprescindível, visto que, frequentemente, técnicas assistenciais são aprimoradas e tecnologias desenvolvidas. Ressalta-se que as atividades de educação desenvolvidas contribuíram para organizar o fluxo no serviço, promover aperfeiçoamento dos trabalhadores e melhorar a assistência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do estágio oportunizou crescimento acadêmico e profissional insubstituível. A partir dessa oportunidade, foi possível identificar e administrar o conhecimento adquirido, além de propiciar a realização de atividades que são de responsabilidade do enfermeiro. A execução do plano de ação, subsidiado pela Metodologia da Problematização e o Arco de Maguerez, proporcionou a aproximação com um cenário real de pra?tica, aquisic?a?o de conhecimentos cienti?ficos, exercício de organização, comunicação, trabalho em equipe, negociação, estímulo a? reflexão e discussão multiprofissional. Ressalta-se a importância da vivência discente na formac?a?o acade?mica, tendo em vista que essas oportunidades possibilitam experimentac?a?o e intervenc?a?o, contribuindo para o agir cri?tico-reflexivo.