Há um horizonte já consolidado na formação em saúde que aposta na produção de conhecimentos utilizando-se das bases das Ciências Sociais e Humanas como estratégia para colaborar com a formação em saúde, à medida em que tais bases podem qualificar a análise de questões do setor Saúde e de seu contexto histórico social. Para além deste horizonte, a formação em saúde pode se apropriar da compreensão oportunizada por diferentes campos de conhecimento para descortinar dimensões úteis na produção do cuidado em saúde. Na esteira das discussões sobre o valor da interdisciplinaridade, o presente trabalho versa sobre a experiência de ministração de conteúdos relacionados às Ciências Sociais em um Programa de Residência em Área Profissional da Saúde. Esta experiência foi realizada no Programa de Residência de Enfermagem em Saúde da Família desenvolvido no âmbito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria estabelecida entre o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) e a Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN). Sob a oferta de conteúdo intitulado como "Emoções, corpo e cuidado", foram realizados 3 (três) encontros com turma de residentes do segundo ano (R2) do referido Programa. Os conteúdos selecionados para as aulas perpassaram a abordagem do campo da Antropologia das Emoções e suas relações com o contexto da saúde, desde o debate sobre doenças, perturbações e poder até o lugar do cuidado no sofrimento social. Foi possível situar as discussões a partir de exemplos práticos relatados pelos residentes em seu cotidiano de trabalho, abordando as diferentes intersecções entre raça, classe, gênero e sexualidade na construção das moralidades que atravessam os processos do cuidar. Além de permitir a interação entre diferentes centros de uma Instituição Federal de Ensino Superior, o que por si só consiste em um avanço em termos de integração interinstitucional, a oferta de conteúdo relacionado à Antropologia Social para discentes que atuam no campo da Saúde Coletiva mostrou-se rica e oportuna na discussão de emoções suscitadas pelo cotidiano do cuidado em Saúde da Família, que só encontravam vazão para abordagem em aulas sobre Saúde Mental. A experiência demonstrou a possibilidade de tematização das emoções na produção do cuidado em saúde, inscrevendo-as como constitutivas do ofício de cuidar porém sem incorrer na patologização das emoções sentidas nas vivências dos residentes em Saúde da Família. Ademais, pode qualificar o repertório científico e analítico dos residentes, colaborando para significar a subjetivação do trabalho em saúde de forma positiva e criativa.