A cultura é uma estratégia potente para a produção de modos diferenciados de inclusão social das pessoas em sofrimento e outros vulnerados. Por meio das ações culturais, que possibilitam reposicionamento subjetivo dos sujeitos, a formação considerada tradicional, centrada no saber acadêmico-profissional, pode ser permeada com o saber das pessoas da rua e, assim, um outro modo de perceber a formação pode ser experimentado e outros modos no processo de ensino-aprendizagem em Saúde Mental podem ser vivenciados. O objetivo desta narrativa é apresentar uma experiência do PET-Saúde/UFF/Niterói em um Centro de Atenção Psicossocial para atenção aos usuários em uso problemático e abusivo de álcool e outras drogas (Caps AD) que associa Arte, Cultura, Saúde e Educação. O espaço tradicional da universidade parece insuficiente na produção do cuidado para a vida na cidade. Outrossim, a experiência do PET-Saúde promove rupturas na clausura da formação e incita outra lógica formativa. Além disso, características marcantes como interprofissionalidade, trabalho coletivo e colaborativo favorecem a produção de cuidado no território. A lógica de formação do PET-Saúde produz agenciamentos com as ruas, com as pessoas e com o mundo do trabalho. Esta experiência aconteceu nas atividades dos programas Cine Praça e Praça Cultural, que compõem o Projeto Cultura a Céu Aberto (PCaCA), criado em 2019 na cidade de Niterói, cuja proposta constitui um cuidado em saúde, que tome as ruas e a cidade como espaço de produção de vida, esse projeto tem na cultura um ponto gerador de conexões entre pessoas em situação de rua (PSR) e outros vulnerados, serviços e a universidade. Nesse sentido, um dos objetivos do PCaCA consiste no exercício do direito à cidade e, para tal, ao cinema, ao lazer, à música, às expressões artísticas e à cultura.As atividades desenvolvidas na rua, na trama dos territórios das pessoas, onde a vida acontece, operam na dimensão sociocultural da Reforma Psiquiátrica e coadunam para a construção de um outro lugar social da loucura.A formação tal qual praticada hoje, circunscrita aos bancos universitários, voltada para si, centrada no saber técnico-científico, tem muito a aprender com os modos de saber e ensinar que operam nas ruas. E o PET-Saúde, como política formativa, é um lugar privilegiado para esse encontro.Por meio da inserção no PET-Saúde foi possível tomar ciência da urgência de produzir novos modos de formação para a Atenção Psicossocial – o que parece impossível para uma formação tradicional sem o acionamento de outros recursos formativos que permitam outras possibilidades de aprendizagem como o PET-Saúde.