Apresentação: a puberdade é um período de intensas mudanças físicas e emocionais, marcado pelo desenvolvimento sexual e alterações hormonais, que podem ser confusos e desafiadores para as adolescentes sem acesso à informação adequada. Paralelamente, enfrenta-se, no Brasil, o problema da pobreza puberal, uma dificuldade crescente entre jovens que não possuem acesso a produtos básicos de higiene pessoal, devido a limitações financeiras. Tal conjuntura pode diversas repercussões negativas, como ausência escolar e estigmatização, evidenciando ainda mais as desigualdades sociais e comprometendo a dignidade e a autoestima durante um período já vulnerável da vida. Diante deste cenário, surge o Projeto Florescer, uma iniciativa de uma Liga Acadêmica de Ginecologia, Cirurgia Ginecológica e Obstetrícia. O projeto visa melhorar a dignidade da puberdade de meninas do 6º ao 9º ano de uma escola municipal de ensino fundamental, localizada em uma cidade do Sudeste do Brasil, por meio da coleta de absorventes e desodorantes, além do oferecimento de palestras e rodas de conversa relacionados à saúde puberal. Objetivo: busca-se relatar a experiência na elaboração de um projeto voltado para a dignidade puberal de meninas de uma escola da rede pública de Vitória-ES. Desenvolvimento do trabalho: um grupo de 8 estudantes de medicina da diretoria da liga desenvolveu um projeto social destinado a promover a dignidade durante a fase puberal de 145 estudantes femininas de uma escola de ensino fundamental. Em reunião prévia com a diretora da escola, foi apontado que várias adolescentes enfrentam dificuldades financeiras significativas, que as impedem de adquirir produtos básicos como absorventes e desodorantes, contribuindo para situações de bullying, uma realidade já vista no resto do Brasil. Além disso, viu-se que essas jovens também demonstram pouco conhecimento sobre as mudanças corporais típicas da puberdade. Assim, o projeto foi idealizado em duas frentes principais: arrecadação e conscientização. A primeira envolveu a coleta de doações de produtos de higiene, que foram embalados pela equipe diretora da liga e, posteriormente, entregues à escola para distribuição. A segunda frente consistiu em palestras e discussões sobre higiene íntima, menarca, menstruação, autoconhecimento corporal e sexualidade. Foi estabelecida também uma parceria com outro grupo de voluntários da faculdade, como forma de aumentar o alcance do projeto e estimular as doações. O projeto de arrecadação foi divulgado por ambos os grupos voluntários em suas redes sociais e internamente. Os absorventes e desodorantes foram arrecadados em dois pontos de coleta destinados para tal fim, dentro da instituição de ensino. Os pontos de coleta consistiam em duas caixas de papelão embrulhadas com TNT, juntamente a dois banners que continham informações sobre o projeto, que foram alocadas em dois espaços de alto fluxo de pessoas dentro do campus da faculdade: biblioteca e refeitório. Além disso, a liga disponibilizou uma chave pix nos pontos de coleta e em suas redes sociais para aqueles que preferissem doar em dinheiro. Tais recursos também foram convertidos, pela diretoria, na compra de itens físicos para doação. Resultados: durante a implementação do projeto, foram enfrentados desafios como a promoção do tema além da comunidade acadêmica e a insuficiência de doações para atender plenamente os objetivos. Observou-se que a maior parte das doações advinham dos próprios membros da liga ou do outro grupo de voluntários, indicando uma falha no engajamento da comunidade acadêmica como um todo. A escassez de doações para o projeto pode ser atribuída a diversos fatores. Primeiramente, a falta de conscientização sobre a pobreza puberal e a importância de produtos de higiene durante a puberdade, dentro de uma instituição privada, pode limitar a percepção pública sobre a urgência desse tipo de doação. Além disso, a divulgação restrita do projeto principalmente dentro da comunidade acadêmica pode não alcançar potenciais doadores externos, que poderiam contribuir significativamente. A competição com outras campanhas beneficentes, que também buscam apoio financeiro e de recursos em uma economia atualmente em crise, pode dispersar a atenção e os recursos dos doadores. Até o momento, foram arrecadados 1.094 absorventes e 38 desodorantes. Os absorventes foram divididos igualmente e embalados para distribuição, enquanto os desodorantes foram entregues à diretora da escola para distribuição individual, dado que a quantidade não permite uma distribuição coletiva. Dessa forma, espera-se que essa iniciativa melhore a qualidade de vida das adolescentes envolvidas, fornecendo acesso a produtos de higiene essenciais e reduzindo incidentes de bullying, relacionados à falta desses itens. Além disso, a partir da frente de conscientização, o projeto pode empoderar as adolescentes com conhecimento sobre saúde íntima, menstruação, desenvolvimento puberal e sexualidade, além de promover a inclusão social, oferecendo acesso a informações e recursos importantes para sua saúde durante a puberdade. No que tange a elaboração e participação do projeto social, nota-se que este contribuiu significativamente para a formação médica dos acadêmicos envolvidos, ao oferecer uma experiência prática em áreas que transcendem os conhecimentos técnico-científicos habituais. Tal iniciativa promove o desenvolvimento de habilidades como empatia, responsabilidade social e liderança, enquanto proporciona uma compreensão mais profunda das realidades socioeconômicas que afetam diretamente a saúde das populações. Ao interagir diretamente com a comunidade e enfrentar desafios reais, os estudantes de medicina são instigados a aplicar seus conhecimentos de maneira integral e reflexiva, ao ter que lidar com questões que extrapolam o cotidiano, como a gestão de recursos e a comunicação com o público. Essa experiência também estimula a conscientização sobre a importância da medicina preventiva e da saúde pública, fundamentais para a formação de médicos conscientes e comprometidos com o bem-estar e dignidade de todos os segmentos da população, especialmente os mais vulneráveis. Considerações finais: o impacto positivo do projeto na vida dessas adolescentes é evidente, proporcionando não só acesso a produtos essenciais de higiene pessoal, mas também promovendo a conscientização sobre questões de saúde íntima e puberdade. A participação dos estudantes de medicina no projeto também reforçou sua responsabilidade social e empatia, destacando a importância de engajamento com a comunidade local. Entretanto, o projeto enfrentou desafios significativos, particularmente em relação à arrecadação de doações suficientes para atender a todas as necessidades identificadas. A limitação na divulgação e a falta de conscientização mais ampla sobre a pobreza puberal foram obstáculos que restringiram o alcance e a eficácia do projeto. Para melhorar futuras iniciativas, seria benéfico expandir a estratégia de comunicação para além da comunidade acadêmica, envolvendo além das mídias sociais e parcerias com outros projetos voluntários, parcerias também com empresas locais. Além disso, promover eventos, como simpósios e jornadas, dentro da instituição de ensino, sobre saúde puberal, poderia aumentar o engajamento público e a visibilidade do projeto. Essa experiência sublinha a importância da participação em iniciativas sociais que visam o bem-estar de grupos vulneráveis, contribuindo significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.