Apresentação:
O projeto Tulipas do Cerrado foi uma das 6 (seis) experiências selecionadas pelo Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação na Saúde – Núcleo Angicos da Escola de Governo da Fiocruz Brasília no contexto do Projeto Institucional “Paulo Freire: Fortalecendo a territorialidade, tecendo uma rede de movimentos, saberes e práticas de Educação Popular em Saúde no Distrito Federal”. Este Projeto Institucional está vinculado ao macroprojeto: Conexões de Saberes e Práticas na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis frente à Sindemia da Covid 19: Ações de Educação Permanente, Educação Popular, Vigilância, Segurança Alimentar, Promoção da Participação, Controle Social e Equidade em Saúde.
No período entre 2023 e 2024, tem realizado em parceria com a Fiocruz Brasília oficinas e rodas de conversa com o propósito de fortalecer a saúde e a autonomia de mulheres cis, trans e travestis, com idades entre 21 e 58 anos, que atuam como profissionais do sexo no Distrito Federal e Entorno. O grupo incluiu trabalhadoras sexuais de diversas raças e orientações sexuais, sobreviventes do sistema prisional, além de mulheres e travestis em situação de rua.
Desenvolvimento do trabalho:
As oficinas e rodas de conversa, com duração de três horas cada, proporcionaram um ambiente acolhedor para as participantes, promovendo seu bem-estar e facilitando a discussão de temas relevantes para a saúde e a vida comunitária. Todas as atividades foram conduzidas de forma participativa, iniciando com um momento de acolhimento onde as participantes puderam compartilhar suas identidades, vivências, preocupações e demandas em saúde. Em seguida, os temas centrais foram abordados e explorados por meio de dinâmicas e outras metodologias participativas, conforme descrito nos três encontros seguintes:
>>1º Círculo de Diálogo (25/10/2023): Encontro de debate sobre prevenção ao câncer de mama e próstata, incluindo demonstração da técnica de automassagem das mamas e discussão sobre estigmas relacionados ao cuidado com a saúde reprodutiva, sexual e integral.
Neste encontro, foram apresentados temas da campanha nacional “Outubro Rosa 2023 - Governo Federal”, com o objetivo de divulgar informações sobre o câncer de mama e fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde para prevenção, diagnóstico precoce e rastreamento da doença. Houve a demonstração do autoexame das mamas e das áreas a serem examinadas, enfatizando a importância da regularidade para a identificação precoce de alterações.
Após a oficina, realizou-se uma dinâmica de "Círculo de Cultura" para promover saúde através do diálogo e da reflexão coletiva, seguida da distribuição de cupons para exames preventivos laboratoriais e de mamografias de um laboratório parceiro ao projeto, além de roupas e absorventes para as participantes.
>>2º Círculo de Diálogo (03/02/2024): Roda de conversa e oficina sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST), incluindo autoteste de HIV, distribuição de insumos para práticas sexuais seguras e informações sobre saúde sexual.
A roda de conversa, motivada pela proximidade do Carnaval, abordou as ISTs, onde participantes compartilharam conhecimentos, discutiram a mudança de terminologia para "infecções sexualmente transmissíveis" e reforçou a importância de cuidados corporais, busca por atendimento médico e práticas preventivas. Também se discutiu a epidemia de Dengue no Distrito Federal, abordando cuidados, prevenção e o trabalho dos agentes de saúde, além dos atendimentos disponíveis nos centros de saúde do DF.
>>3º Círculo de Diálogo (22/02/2024): Grupo de discussão sobre saúde mental e agroecologia, explorando estratégias de prevenção e cuidado sob uma perspectiva de redução de riscos e danos sociais e à saúde a partir da perspectiva agroecológica.
O encontro começou com uma dinâmica de acolhimento, criando uma atmosfera positiva para conexões produtivas e significativas. Em seguida, discutiu-se a Redução de Danos, destacando seus princípios e práticas em aspectos como uso de substâncias entorpecentes, sobrepeso, segurança pública, higiene e práticas sexuais.
As discussões centraram-se no conhecimento das participantes sobre saúde mental, com respostas como "cuidado da mente", "não ficar doida" e "saúde da mente e emocional". Debateram-se direitos à loucura e ao sofrimento mental, especialmente entre populações em situação de rua, incentivando práticas de bem-estar como lazer, meditação, escalda-pés e consultas.
Para introduzir a agroecologia, realizou-se uma oficina prática e explicativa sobre seu significado, aplicação diária e benefícios do contato com a natureza. As participantes interagiram com plantas como lavanda, alecrim, boldo e erva-cidreira, evocando memórias afetivas.
Durante a atividade, as participantes compartilharam memórias de práticas populares de saúde com plantas (chás, remédios, benzeções) e tiveram contato com misturas de plantas secas e sal grosso utilizadas na prática de escalda-pés seguido por um momento de meditação e reflexão. A atividade teve fim com a doação de absorventes, calcinhas e preservativos para as participantes.
Nestas três atividades, os temas do direito à saúde, Sistema Único de Saúde - SUS, equidade e cidadania foram transversais entre os temas geradores dos círculos de diálogos, perpassados também pela arte cultura e educação popular, promovendo uma melhor integração e construindo um espaço no qual as mulheres se sentiram a vontade para expressar seus desejos e angustias.
Resultados e considerações
Os encontros ocorreram em locais de fácil acesso para o público e contaram com a participação total de 44 pessoas. Além de promover as ações de Educação Popular em Saúde e a autonomia das participantes, o projeto contribuiu para fortalecer a rede de apoio entre elas e incentivou o envolvimento na defesa de seus direitos e na formulação de políticas públicas.
As ações realizadas pelo Projeto Tulipas do Cerrado em conjunto com o Núcleo Angicos tiveram o intuito de promover a comunicação comunitária e popular, enfrentar as fakenews e reduzir danos e impactos à saúde mental. O projeto tem contribuído para o empoderamento social de mulheres trans e cis que residem e/ou atuam no trabalho sexual no Distrito Federal e das cidades entorno da capital federal.
Considerações finais
As ações desenvolvidas revelaram a elevada importância de estratégias de acolhimento, escuta e reconhecimento das mulheres deste segmento, servindo como elemento de fortalecimento da autoestima, dos vínculos e do apoio social entre as mesmas, promoção da saúde e estímulo ao sentido de pertencimento ao Sistema Único de Saúde - SUS. Diante das demandas apresentadas pelas participantes, novas ações estão sendo planejadas buscando a continuidade da parceria com o Núcleo Angicos da Escola de Governo da Fiocruz Brasília, incluindo um encontro sobre o impacto da violência de gênero na saúde programado para acontecer nos próximos dias.