O suicídio é uma questão de saúde pública, a qual teve um aumento expressivo nos últimos 10 anos (2010 – 2019) em todo o mundo e também no Brasil. É um fenômeno complexo e multifatorial, que abrange diversos aspectos pessoais e sociais e diferentes áreas do conhecimento. Já o luto é uma forte reação à quebra de um laço afetivo e do bem-estar que havia até a ocorrência da morte, gerando um sofrimento específico, que pode incluir sintomas psíquicos, alterações nas relações sociais, entre outros, afetando diversos atores sociais. Pelo caráter repentino e violento do suicídio, o luto, nesses casos, pode gerar culpa e autoacusação, demandando muita energia psíquica para o seu enfrentamento e elaboração, o que levou a literatura a denominar este enlutado como sobrevivente, visto que após a ocorrência de uma morte por suicídio a pessoa enlutada terá que ressignificar, inclusive, sua própria existência. O tabu e o estigma que existem em torno do suicídio, impactam diretamente na forma como o luto é vivenciado e pode, inclusive, interferir na forma como é elaborado e simbolizado. Dentre as diversas pessoas que podem ser impactadas por um caso de suicídio estão os profissionais da saúde, os quais podem ter seus lutos não reconhecidos, devido a culturalmente estarem em uma categoria de atuação que é exigida a continuar dando conta de suas demandas profissionais independente da ocorrência de uma perda e possível sofrimento psíquico devido a morte e luto. Este resumo decorre de uma pesquisa realizada para dissertação do mestrado. O objetivo do estudo foi compreender as experiências vivenciadas por profissionais da saúde que se tornaram sobreviventes enlutados por suicídio após a perda de familiar, amigo ou pessoa significativa, considerando também as perdas no exercício da profissão. A coleta de dados ocorreu nos meses de Agosto, Setembro e Outubro de 2023. Foram realizadas 10 entrevistas com profissionais da saúde de duas instituições hospitalares da cidade de Pelotas/ RS, sendo nove mulheres e um homem. A análise dos dados foi baseada no Modelo Fenomenológico Empírico (MFE), de Amedeo Giorgi, o qual satisfaz a necessidade de compreensão da proposta deste estudo. Como resultados, observa-se que existe incongruência em relação a percepção da morte em casos de suicídio, principalmente quando este ocorre pelo uso abusivo de medicação, o que pode ser atribuído a uma certa negação e dificuldade de aceitação de um caso de suicídio em seu meio. Outro aspecto relevante é que este impacto pode ocorrer até mesmo antes da morte efetivamente, visto que esta costuma ser precedida de adoecimento ou comportamento de risco, que acaba por envolver os colegas no auxílio deste ser adoecido, deixando o clima no ambiente de trabalho desfavorável para um clima saudável. Conclui-se que existe uma necessidade urgente de maior atenção a saúde física e mental dos profissionais da saúde, tanto para que tenham espaço para vivenciar suas experiências e lutos, quanto para evitar futuros casos de morte por suicídio nesta categoria profissional.